Anestesias gerais afectam comunicação entre neurónios
Estudados os efeitos do propofol, um dos anestésicos mais comuns nas cirurgias.
As anestesias gerais afectam a comunicação entre neurónios, porque restringem o movimento de uma proteína necessária nas sinapses de todos os neurónios, indica um estudo agora divulgado.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As anestesias gerais afectam a comunicação entre neurónios, porque restringem o movimento de uma proteína necessária nas sinapses de todos os neurónios, indica um estudo agora divulgado.
“A descoberta tem implicações para pessoas cuja conectividade cerebral é vulnerável, por exemplo nas crianças, que têm o cérebro ainda em desenvolvimento, ou nas pessoas com a doença de Alzheimer ou Parkinson. Nunca se percebeu o que leva a anestesia geral a ser por vezes problemática para pessoas muito novas ou muito velhas. Este mecanismo agora descoberto pode ser a razão”, disse Bruno van Swinderen, investigador da Universidade de Queensland, na Austrália.
O estudo, publicado na revista científica Cell Reports, procura dar algumas respostas às formas complexas de actuação das anestesias gerais no cérebro, para procurar melhorar os medicamentos usados.
Considerando que a anestesia geral faz muito mais do que provocar o sono, a equipa da Universidade de Queensland, liderada por Bruno van Swinderen, cientista do Instituto do Cérebro, analisou os efeitos do propofol, um dos anestésicos mais comuns nas cirurgias e que se tornou mundialmente conhecido por ter levado à morte o músico Michael Jackson em 2009 (o cantor tinha grande quantidade de propofol no organismo).
“Sabíamos, de estudos anteriores, que os anestésicos em geral, incluindo o propofol, actuam no sistema de sono no cérebro, como um comprimido para dormir. Mas o nosso estudo descobriu que o propofol também interrompe os mecanismos pré-sinápticos, provavelmente afectando a comunicação entre neurónios em todo o cérebro, de forma sistemática, o que é muito diferente de se estar apenas a dormir”, disse o investigador, citado num comunicado da Universidade de Queensland.
As sinapses fazem a ligação entre neurónios (células nervosas) e são afectadas numa anestesia geral, como sublinha ainda Adekunle Bademosi, que participou também no estudo: “Descobrimos que o propofol restringe o movimento de uma proteína-chave (a sintaxina 1A) necessária nas sinapses de todos os neurónios. Essa restrição leva à diminuição da comunicação entre os neurónios no cérebro.”
A descoberta pode explicar por que é que algumas pessoas se sentem tontas e desorientadas depois de uma anestesia geral. Bruno van Swinderen disse ser necessária mais investigação para perceber se as anestesias gerais têm mais efeitos duradouros em grupos vulneráveis.