Altice anuncia reestruturação com separação entre operações na Europa e EUA
Altice Europe e Altice USA continuam sob o controlo do bilionário francês Patrick Drahi
A Altice anunciou hoje a separação das actividades nos Estados Unidos e na Europa por motivos de “transparência”, mas as duas empresas continuam sob o controlo do bilionário francês Patrick Drahi.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Altice anunciou hoje a separação das actividades nos Estados Unidos e na Europa por motivos de “transparência”, mas as duas empresas continuam sob o controlo do bilionário francês Patrick Drahi.
As duas novas entidades passam a ter as designações Altice Europe, que reúne a Portugal Telecom, Telecom, BFM e as publicações francesas Libération e L'Express, entre outras empresas, e Altice USA, que integra as operadoras de cabo Suddenlink e Cablevision (Optium).
Por sua vez, a Altice Europe vai reestruturar-se em várias unidades como Altice France, Altice International e uma nova filial com a designação Altice Pay TV.
A decisão acontece dois meses depois de Drahi ter assumido todas as funções após uma queda registada no mercado de acções que provocou o afastamento do CEO Michael Combes.
“Trata-se de um momento importante para o grupo que tem de se concentrar nas operações existentes”, disse Dexter Goei, director-geral da Altice USA.
De acordo com Goei, a separação é o resultado de um debate interno e pretende responder a preocupações de “transparência” relacionadas com uma estrutura empresarial considerada “complexa”.
“A longo prazo esperamos que a clareza e a simplicidade da estrutura ajudem os nossos clientes a apoiarem as nossas iniciativas”, sublinhou Goei, acrescentando que o “ADN do grupo” tem como objectivo o crescimento.
A reestruturação vai fazer-se através da distribuição secundária de ações (spin-off) que vai separar a Altice USA da Altice NV, a base do grupo com sede na Holanda.
“A separação vai permitir a cada uma das entidades concentrar-se na criação de oportunidades e aumento de valor em cada um dos respectivos mercados (europeu e norte-americano), assegurando aos investidores uma maior transparência”, disse o mesmo responsável à agência France Presse (AFP).
Actualmente a Altice NV detém 67,2% da Altice USA.
O grupo prevê finalizar a reestruturação até ao final do primeiro semestre de 2018, após a concordância das autoridades da concorrência e acionistas.
Patrick Drahi vai manter o controlo das duas entidades e sobre os presidentes dos conselhos de administração respectivos.
Drahi vai passar a deter, pelo menos, 51% de direitos de voto na entidade norte-americana que é actualmente o quarto maior operador por cabo dos Estados Unidos.
Prevê-se também que venha a pagar um dividendo excepcional de 1,5 mil milhões de dólares aos accionistas da Altice USA, após a separação.
A Altice NV (Europa) vai utilizar 625 milhões de dólares (de um total de 900 milhões de dólares) para pagar parte das dívidas.
Segundo a AFP, a nova operação vai permitir a Patrick Drahi isolar os interesses nos Estados Unidos, onde tem grandes ambições após os contratempos registados na Europa.
Fontes bancárias consultadas pela France Presse referem que Drahi quer consolidar-se no mercado dos Estados Unidos “conquistando” a Charter, a segunda maior operadora de cabo norte-americana.
A empresa acaba de lançar, nos Estados Unidos, um dispositivo que permite aos assinantes acesso à internet, telefone fixo e televisão através de um só aparelho.
Em finais de Novembro, a Altice foi seriamente abalada na Bolsa de Amesterdão após a publicação dos resultados trimestrais, que foram inferiores às expectativas, o que agravou a preocupação sobre as dívidas contraídas pelo grupo tendo a Altice perdido 50% do valor.
Na sequência da reorganização, Patrick Drahi já tinha decidido retomar a gestão efectiva do grupo e vender activos considerados não estratégicos.
Nesse sentido, segundo o Financial Times, a Altice vai procurar um comprador para os activos que tem na República Dominicana e, em Dezembro, anunciou medidas sobre as operações que mantinha na Suíça.
Na segunda-feira, Dexter Goei indicou que a Altice vai trabalhar “activamente” para identificar os activos que devem ser vendidos, mas insistiu que a separação não significa um retrocesso na estratégia de aquisições do grupo.
Separando o grupo em Altice USA e Altice Europe, Patrick Drahi continua a reproduzir a estratégias do mentor John Malone, conhecido como “Cowboy", um magnata das empresas por cabo nos Estados Unidos e que construiu um império através da Liberty Interactive, uma companhia com actividades diversificadas que lhe permitem acrescentar valor no mercado de acções.
Tal como Malone, Patrick Drahi construiu um império através de aquisições e acordos financeiros complexos e de processos de endividamento.