Crianças de Pedrógão Grande vieram a Lisboa aprender ciência

Quase 40 alunos de escolas de Pedrógão Grande vestem a pele de cientistas até sexta-feira no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Esta iniciativa traz ainda outra novidade: mais sete Centros Ciência Viva vão ter escolas-museu em 2018.

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A cozinha do Pavilhão da Ciência Viva, em Lisboa, é diferente. Tem uma bancada, um frigorífico, um fogão e um microondas, mas não é igual. E não é só por ser colorida ou ter legumes pendurados no tecto, esta cozinha é um laboratório de ciência para os mais novos. David Silva, de oito anos, é um dos “cientistas”. Vestido esta terça-feira com bata branca e avental, está em frente à bancada, e toma atenção às indicações da monitora Carla Lopes para que tudo corra bem. Diante de si tem cinco copos com líquidos. “Agora têm de identificar os sabores”, diz a monitora. “Sabe a pastilha elástica”, responde alguém. Chega a vez de David Silva experimentar: “Este é salgado. Parece água do mar!”

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A cozinha do Pavilhão da Ciência Viva, em Lisboa, é diferente. Tem uma bancada, um frigorífico, um fogão e um microondas, mas não é igual. E não é só por ser colorida ou ter legumes pendurados no tecto, esta cozinha é um laboratório de ciência para os mais novos. David Silva, de oito anos, é um dos “cientistas”. Vestido esta terça-feira com bata branca e avental, está em frente à bancada, e toma atenção às indicações da monitora Carla Lopes para que tudo corra bem. Diante de si tem cinco copos com líquidos. “Agora têm de identificar os sabores”, diz a monitora. “Sabe a pastilha elástica”, responde alguém. Chega a vez de David Silva experimentar: “Este é salgado. Parece água do mar!”

David Silva veio com mais 38 colegas da Escola Básica da Graça e do Centro Escolar de Pedrógão Grande, ambos do concelho de Pedrógão Grande, à Escola Ciência Viva da agência Ciência Viva. “É a primeira vez que venho ao pavilhão”, conta-nos. “Aprendi que há tantos sabores!” Na mesma bancada, está Catarina Luz, também de oito anos. Se tivesse de escolher uma experiência, seria a dos sons: “Ouvi o som de animais e de um objecto. Acho que era um pássaro e um tractor.” Mas avisa que tem de ir. Na próxima experiência vai fazer gelatina.

“A Escola Ciência Viva é um projecto educativo que visa despertar as crianças para a ciência. E desperta da forma que nós acreditamos: aprender fazendo experiências”, explica Alexandra Souza, coordenadora da Escola Ciência Viva. Esta “escola” nasceu no ano lectivo de 2010 e 2011 e é inspirada no conceito de escola-museu, criado nos Estados Unidos há cerca de duas décadas. Há ainda mais duas Escolas Ciência Viva em Portugal: a do Instituto de Educação e Cidadania, na Mamarrosa (concelho de Oliveira do Bairro), e no Centro Integrado de Educação em Ciências, em Vila Nova da Barquinha. “Na Europa, creio que a Ciência Viva é a instituição que está a fazê-lo de forma sistemática”, frisa Rosalia Vargas, presidente da agência Ciência Viva.

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Questionário sobre as experiências na "cozinha" do Pavilhão do Conhecimento Rui Gaudêncio

E como funciona? Durante uma semana, uma turma do primeiro ciclo (do segundo ao quarto ano) tem as suas aulas no Pavilhão do Conhecimento. Lá há duas salas de aulas para esta escola, fazem-se experiências no laboratório e na cozinha, participam nas exposições ou ouvem um cientista (aqui ou numa instituição científica). Esta escola recebe por ano entre 1300 e 1500 alunos e, ao todo, já teve a participação de quase oito mil crianças. Mas, até agora, só acolhia turmas de escolas do concelho de Lisboa. Pela primeira vez, turmas de fora do concelho de Lisboa participam nesta escola.

Incêndios como conversa

Também vestida com bata branca, Ana Paula Afonso é uma das professoras que acompanham os alunos de Pedrógão Grande e demonstra a sua satisfação. “É espectacular! Há trabalho de equipa, camaradagem e aprende-se experimentando”, diz animada e a tirar fotografias. “Penso que só dois meninos tinham vindo [ao Pavilhão].”

E não esconde como este ano tem sido mais complicado devido aos incêndios de Junho em Pedrógão Grande. Na escola, este foi tema de conversa em Setembro e Outubro. “Quando vieram aqueles incêndios em Outubro [em Pedrógão Pequeno], que ainda foram muito perto do nosso agrupamento, ouviu-se muito o toque da sirene e eles ficaram em pânico. Mas, de resto, lidam bem com a situação.” E nota: “Nas aprendizagens está tudo a correr muito bem. Temos duas psicólogas colocadas no agrupamento para dar apoio.”

David Silva e Catarina Luz não se importam de falar sobre o tema, mas são sucintos. “Foi mau”, remata David Silva. “Lembro-me que ardeu quase tudo. Foi muito triste”, diz por sua vez Catarina Luz. Mas, agora, querem é aproveitar esta semana em Lisboa, onde vão também ao oceanário, ao cinema ou experimentar o teleférico.

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Alunos de escolas de Pedrógrão Grande no laboratório do Pavilhão do Conhecimento Rui Gaudêncio

Rosalia Vargas assume que estes primeiros alunos de uma escola do interior na Escola Ciência Viva são simbólicos. “Não podíamos ficar indiferentes ao movimento de solidariedade. Trouxemo-los para que tivessem conhecimento do que é um centro de ciência.” Mas esta iniciativa traz mais duas novidades.

Primeiro, em 2018, a Escola Ciência Viva será alargada a sete Centros Ciência Viva pelo país: a Bragança, Aveiro, Proença-a-Nova, Coimbra, Alviela, Estremoz e Lagos. “São estes os Centros Ciência Viva que têm condições físicas e que podem desenvolver um trabalho de currículo, que não é exactamente o da escola: é outra perspectiva e outro modo de olhar a realidade”, explica Rosalia Vargas. Para isso, há uma carta de princípios – documento que a Ciência Viva elaborou e discutiu com a Rede de Centros Ciência Viva – que deve ser seguida pelos centros. “É com base nessa carta que cada centro deverá entrar neste projecto inicial.” E há parcerias com o Ministério da Educação, instituições de educação e autarquias, como já existe com a Câmara Municipal de Lisboa no caso do Pavilhão do Conhecimento.  

Depois, a Ciência Viva quer que alunos do interior do país continuem a vir à Escola Ciência Viva em Lisboa, assim como turmas do litoral tenham uma experiência em Centros Ciência Viva das regiões do interior. Rosalia Vargas adianta que uma das ideias será levar turmas de Lisboa a Pedrógão Grande. “Não tenho a certeza se será neste ano lectivo, mas seguramente será no próximo.”

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Alunos de Pedrógão Grande na Escola Ciência Viva em Lisboa Rui Gaudêncio

De algo tem a certeza, as crianças de Pedrógão Grande vão levar muitas “palavras difíceis” para casa. E di-lo de forma positiva: “São palavras que não se usam habitualmente, só em ambientes de ciência e tecnologia. Vão muito contentes com essas palavras.” Afinal, salienta que a Ciência Viva tem uma missão: “Queremos estimular-lhes o gosto pelo conhecimento e despertar-lhes mais a curiosidade. Depois, as escolhas são eles que as fazem.” As crianças de Pedrógão Grande, que agora já sabem o que são pipetas, gelificação, decibel ou sensores, também preencheram um questionário sobre as experiências na cozinha. Pelas respostas, parece que correram bem.