Acabou o tempo dos “homens brutalmente poderosos”. Oprah Winfrey a Presidente?
O discurso de aceitação do prémio de carreira Cecil B. DeMille foi um dos grandes momentos da noite e mereceu duas ovações.
Com o escândalo de Harvey Weinstein ainda a pairar, os Globos de Ouro prometiam ser um momento de diálogo sobre o assédio sexual e os direitos das mulheres. Actrizes e actores pisaram a passadeira vermelha vestidos de preto e com emblemas da organização Time's Up na lapela, mas quem declarou em voz alta o final do tempo de opressão sob o jugo dos “homens brutalmente poderosos” foi Oprah Winfrey.
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Com o escândalo de Harvey Weinstein ainda a pairar, os Globos de Ouro prometiam ser um momento de diálogo sobre o assédio sexual e os direitos das mulheres. Actrizes e actores pisaram a passadeira vermelha vestidos de preto e com emblemas da organização Time's Up na lapela, mas quem declarou em voz alta o final do tempo de opressão sob o jugo dos “homens brutalmente poderosos” foi Oprah Winfrey.
A apresentadora, produtora e actriz pôs a plateia de pé duas vezes com o seu discurso de aceitação do prémio de carreira Cecil B. DeMille, considerado por muitos um momento que ficará para a história. “Por demasiado tempo as mulheres não foram ouvidas ou legitimadas se se atrevessem a falar a verdade sobre o poder desses homens, mas o tempo deles acabou!”, exclamou para uma plateia ao rubro. “O tempo deles acabou!”, repetiu. Nas redes sociais começou-se a ponderar a hipótese de Oprah concorrer à Casa Branca e enfrentar Trump da próxima vez que os norte-americanos forem às urnas.
Num discurso sobre igualdade e sobre a opressão contra as mulheres – e especialmente as mulheres negras – ao longo das últimas décadas, Oprah mencionou alguns dos nomes que marcaram a diferença, como o da activista Rosa Parks e da menos conhecida Recy Taylor, que em 1944 foi violada por seis homens e depois silenciada. Parks foi a principal investigadora do caso, que nunca levou os agressores a enfrentar a justiça.
Agradecendo à Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, Oprah fez ainda questão de declarar a importância do trabalho de revelar e divulgar a verdade, numa altura em que “a imprensa está sob ataque”. “O que sabemos, com toda a certeza, é que dizer a nossa verdade é a ferramenta mais poderosa que todos temos”, comenta.
“Estou especialmente orgulhosa e inspirada por todas as mulheres que se sentiram suficientemente fortes para falar alto e partilhar as suas histórias pessoais. Cada um de nós nesta sala está a ser celebrado por causa das histórias que contamos e este ano também nós nos tornámos história”, disse ainda. A apresentadora expressou gratidão “a todas as mulheres que aguentaram anos de abuso e agressão porque tinham crianças para alimentar, contas para pagar e sonhos por cumprir”.
Terminando o discurso com uma segunda ovação, Oprah dirigiu-se a “todas as raparigas a assistir”, declarando peremptoriamente que “um novo dia está no horizonte!”. “E quando esse dia finalmente amanhecer, será devido a muitas mulheres magníficas – muitas das quais estão nesta sala hoje – e alguns homens bastante fenomenais, a lutar para se certificarem de que se tornam os líderes que nos levam para o tempo em ninguém tem de dizer ‘eu também [fui vítima de abuso]’ mais uma vez”.
Oprah a Presidente
Nas redes sociais, uma enchente de tweets veio pedir a candidatura de Oprah a Presidente dos Estados Unidos, em 2020. Já no início da cerimónia, Seth Meyers espicaçava a apresentadora nesse sentido, lembrando as palavras dirigidas a Trump – sobre como não tinha habilitações para o cargo –, num evento público na Casa Branca. Já que muitas pessoas acreditam que foi isso que o motivou a concorrer, brinca Meyers, “só quero dizer: Oprah, nunca serás Presidente!”. Acrescentou ainda, para Tom Hanks: “Nunca serás vice-presidente!”.
Não é a primeira vez que se fala nessa hipótese e a própria apresentadora – a primeira mulher negra a receber este prémio na cerimónia dos Globos de Ouro – já ponderou sobre o assunto, numa entrevista em Março passado. No entanto, Winfrey disse no Verão ao The Hollywood Reporter, "nunca vou concorrer a um cargo público", e, quando esteve no programa CBS This Morning, em Outubro, reforçou a afirmação.
No rescaldo dos Globos de Ouro, a CNN avança que duas fontes próximas de Winfrey confirmaram que esta está "activamente a pensar" numa corrida à Casa Branca. O seu parceiro de longa data, Stedman Graham, comentou ao Los Angeles Times que a decisão "está nas mãos do povo", acrescentando que Oprah "deveria absolutamente" candidatar-se.
Houve até quem criasse uma página fictícia na Wikipédia sobre a corrida às eleições primárias do Partido Democrata – referindo os Globos de Ouro de 2018 como o momento em que Oprah fez o anúncio oficial – e quem apontasse o slogan mais provável da campanha. “Estou pronta para colar um autocolante a dizer ‘Um novo dia está no horizonte, #Oprah2020’ no meu carro, computador, garrafa de água e em tudo o que é meu”, escreve uma utilizadora. Outra aponta ainda: “Teve graça brincar sobre a Oprah concorrer a Presidente, mas este discurso foi mesmo presidencial”.
Depois da cerimónia, a apresentadora continuou a usar palavras inspiradoras, enquanto respondia a perguntas da imprensa. “O maior pedaço de sabedoria que alguma vez recebi é que a chave para nos sentirmos realizados, para o sucesso, felicidade, contentamento na vida é quando alinhamos a nossa personalidade com aquilo que a nossa alma realmente veio ao mundo para fazer”, comentou Winfrey.