Enfermeiros denunciam caos nas urgências. ARS do Algarve diz que não há nada de “anormal” nesta época do ano
ARS do Algarve garante que situação não é "anormal" tendo em conta época do ano. Ministério relega declarações para a administração do Hospital de Faro.
Depois da denúncia feita por um grupo de enfermeiros da Urgência do Hospital de Faro sobre a incapacidade de resposta deste serviço, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Paulo Morgado, admite “situações pontuais de maior afluência às urgências”, mas garante que não há nada de "anormal", tendo em conta a época do ano.
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Depois da denúncia feita por um grupo de enfermeiros da Urgência do Hospital de Faro sobre a incapacidade de resposta deste serviço, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Paulo Morgado, admite “situações pontuais de maior afluência às urgências”, mas garante que não há nada de "anormal", tendo em conta a época do ano.
Num documento enviado recentemente à presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), citado pela Lusa, os enfermeiros, que se mantiveram anónimos, denunciaram o “caos” na unidade. Sublinharam ainda que não podem ser responsabilizados por "eventuais ou futuros acontecimentos dos quais resultem consequências nocivas" para os utentes ou familiares.
Em declarações ao PÚBLICO, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, garantiu que o problema em Faro é “estrutural” e diz que o hospital “tem muitas fragilidades”. Além disso, refere que há outros hospitais com muitas dificuldades, como é o caso das unidades de Gaia e Leiria, do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra e dos hospitais de Santo António e São João, no Porto.
A bastonária partilhou no Facebook uma publicação em que mostra algumas fotografias do caos instalado nas urgências de Faro, assim como o comunicado dos enfermeiros na íntegra. Paulo Morgado, presidente da ARS, diz que o organismo "não se revê nas imagens partilhadas".
Recursos cada vez mais escassos
Segundo os enfermeiros, que querem manter o anonimato, apesar de o número de doentes admitidos ter vindo a aumentar, os recursos humanos e materiais são cada vez mais escassos, um dos factores que tem conduzido à "diminuição da qualidade assistencial" e "progressiva degradação" da capacidade de resposta às adversidades.
"Ao mesmo tempo, o número de utentes internados em maca no serviço de urgência, bem como o seu tempo de permanência no mesmo, tem igualmente sido amplificado", sublinham, acrescentando que "o número de enfermeiros escalados por turno tem-se mantido igual e, em alguns casos, tem sido inferior ao estipulado como o mínimo".
Segundo os profissionais, o serviço tem-se revelado "incapaz de dar resposta às necessidades de utentes, familiares e profissionais que nele operam diariamente". E apesar de admitirem que a origem de alguns dos problemas é externa ao centro hospitalar, dizem que a administração "não tem sido capaz de defender as necessidades e os interesses da população".
Na missiva, enviada também para o ministro da Saúde, a equipa refere ainda que o actual plano de contingência é "inadequado", sendo "quase impossível" a sua operacionalização, pois prevê apenas a sua activação quando o número de utentes no serviço de internamento na urgência atingir os 30.
Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde relega todos os esclarecimentos para a administração do CHUA.
De acordo com os enfermeiros, a activação do plano de contingência de um serviço de urgência "não deveria nunca estar dependente do número de utentes internados", uma vez que é um serviço que "não está apto a ser um serviço de internamento", havendo "violação dos direitos dos utentes".
Por outro lado, referem, o facto de haver utentes internados "implica o desvio de meios, tanto humanos como materiais, dos balcões onde utentes, em ficha, aguardam cuidados de urgência".
Por último, acrescentam, o plano de contingência "não faz referência em momento algum a um reforço de pessoal no próprio serviço de urgência, o que seria o mais esperado tendo em conta o aumento da afluência ao serviço".
Sobrelotação do serviço
A equipa já tinha enviado, em Agosto passado, uma outra missiva à administração do hospital em que enumerava diversos problemas no funcionamento da urgência, nomeadamente, sobrelotação do serviço, macas sem condições para posicionamentos e conforto do utente ou condições da sala de triagem deficitárias.
Em comunicado, a administração do CHUA afirmou não ter recebido "formalmente o referido documento", do qual diz apenas ter tido conhecimento através da comunicação social. E adianta que "a missiva agora enviada cita, e tem como base, uma informação endereçada em Julho de 2017 à anterior administração, uma vez que à data do referido documento esta administração ainda não tinha tomado posse"
"Em nenhum momento, a denominada equipa de enfermagem mencionada no comunicado contactou através da sua chefia os actuais membros do conselho de Administração no sentido de expor as situações referidas no comunicado agora enviado", referem.
O conselho de administração diz ainda estranhar o momento escolhido para enviar o comunicado para a imprensa, no qual o enfermeiro-chefe do serviço de urgência "não se revê", numa altura em que o hospital "tem conseguido dar resposta de forma positiva ao pico de afluência".