Os tweets de Trump começam onde acabam as notícias da Fox

Analista de media passou três meses a ler os tweets do Presidente norte-americano e descobriu um padrão: "Ele não está a tentar desviar a atenção dos media. Ele está a ser distraído."

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"Não há nenhuma estratégia no feed de Trump no Twitter" Reuters/CARLOS BARRIA

É uma questão que tem feito gastar muitos caracteres no Twitter e ocupado o tempo de alguns analistas políticos norte-americanos: os tweets do Presidente Trump são mesmo escritos por ele, ou a Casa Branca tem uma equipa só para isso?

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É uma questão que tem feito gastar muitos caracteres no Twitter e ocupado o tempo de alguns analistas políticos norte-americanos: os tweets do Presidente Trump são mesmo escritos por ele, ou a Casa Branca tem uma equipa só para isso?

Em Outubro do ano passado, Matthew Gertz apaixonou-se por essa questão e mudou-se de armas e bagagens para o feed de Trump no Twitter – como especialista em media na organização progressista Media Matters for America, que se dedica a identificar erros em publicações conservadoras, Gertz começou a ler todas as mensagens do Presidente norte-americano com atenção redobrada.

E o que descobriu, segundo escreveu esta sexta-feira no site Politico, é um padrão que muitos já suspeitavam, mas que assume proporções até agora inimagináveis: em muitos casos, principalmente nas mensagens que parecem surgir do nada, sem relação com a actualidade do dia, Trump está a partilhar informações que acabou de ver no canal Fox News, em particular no seu programa favorito, o Fox & Friends.

"Não há nenhuma estratégia no feed de Trump no Twitter; ele não está a tentar distrair os media. Ele está a ser distraído. Salta à velocidade de um quark de tema em tema nos seus tweets porque é assim que os canais de notícias no cabo funcionam", diz Matthew Gertz.

E esta observação leva Gertz a outra conclusão: "Um homem que tem um acesso sem paralelo à mais poderosa máquina de serviços secretos do mundo, com um orçamento estimado em 73 mil milhões de dólares no ano passado, prefere confiar em pivôs de canais do cabo para entender a actualidade."

Gertz dá vários exemplos, da polémica dos jogadores de futebol americano que se ajoelham durante o hino à mais recente mensagem sobre a sua suposta contribuição para a inexistência de mortes na aviação comercial no ano passado – quando Trump escreveu que tinha "acabado de ser noticiado" que não houve mortes em 2017, a informação que partilhou tinha acabado de passar no programa Fox & Friends.

O loop informativo que liga Trump à Fox News atingiu o ponto mais alto em Dezembro, quando o blogue político Mediatite nomeou os pivôs do Fox & Friends como "os mais influentes nos media" norte-americanos – com a menção de que "os temas que eles abordam definem a agenda nacional para o resto do dia". Pouco depois, Kellyanne Conway, conselheira do Presidente, dava os parabéns aos pivôs em directo na Fox, e Trump apareceu no Twitter de imediato: "O Fox & Friends acabou de ser nomeado o programa de notícias mais influente? Vocês merecem – três excelentes pessoas! Os muitos programas de ódio e de fake news deviam estudar a vossa fórmula de sucesso!"