Woody Allen é “obcecado por raparigas adolescentes”?

Richard Morgan, autor e colaborador do The Washington Post, consultou dezenas de caixas de arquivos pessoais do realizador e alega ter identificado uma “constante misoginia”.

Foto
Reuters/REGIS DUVIGNAU

Depois de ter consultado mais de 57 anos de arquivos pessoais de Woody Allen, compilados em 56 caixas doadas à Universidade de Princeton, o autor e colaborador do The Washington Post Richard Morgan escreve um texto para o jornal norte-americano sobre a sua pesquisa e conclui: “Ele está obcecado por raparigas adolescentes”. Morgan diz que foi informado na instituição universitária que foi a primeira pessoa a consultar esta enorme quantidade de guiões, notas pessoais, rascunhos, entre outros documentos, e alega ter encontrado a exibição de uma “constante misoginia”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Depois de ter consultado mais de 57 anos de arquivos pessoais de Woody Allen, compilados em 56 caixas doadas à Universidade de Princeton, o autor e colaborador do The Washington Post Richard Morgan escreve um texto para o jornal norte-americano sobre a sua pesquisa e conclui: “Ele está obcecado por raparigas adolescentes”. Morgan diz que foi informado na instituição universitária que foi a primeira pessoa a consultar esta enorme quantidade de guiões, notas pessoais, rascunhos, entre outros documentos, e alega ter encontrado a exibição de uma “constante misoginia”.

“Eu sei isto porque acompanhei toda a sua carreira – passei por todos os seus rascunhos e rabiscos”, começa por escrever Richard Morgan, para justificar a tese que apresenta. O autor faz, no entanto — embora apenas no final do longo artigo —, uma importante ressalva: “Não há nada de criminoso na fixação de um homem de 82 anos pelos 18 e não é tão mau como sacar o pénis de repente [como é acusado Charlie Rose] ou ter um botão debaixo da mesa [para trancar a porta do escritório, acusação que pende sobre Matt Lauer]”.

Pondo também em dúvida as conquistas e a criatividade dos filmes mais consagrados de Woody Allen, Morgan dá alguns exemplos práticos sobre aquilo que consultou e que servem de mote para a sua tese. Por exemplo, num texto que escreveu para uma ficção televisiva, o realizador descreve uma “loira chamativa e sexy de 16 anos num longo e extravagante vestido vermelho com uma grande abertura de lado”. Depois, há um homem de 53 anos que se apaixona por uma vizinha de 17 num elevador. Há também um professor de 45 anos fascinado pelas suas alunas.  

Além destes e de outros exemplos com personagens fictícias, Morgan encontrou também textos onde Allen imagina episódios com actrizes reais com quem trabalhou. Por exemplo, assinala uma entrevista inventada com Janet Margolin, actriz que participou em filmes como Annie Hall ou O Inimigo Público: “Ocasionalmente fui forçado a fazer amor com ela para obter uma prestação decente. Fiz o que tinha de fazer por causa do negócio”, escreveu Allen num dos seus documentos, segundo cita Morgan.

“Amar a arte é tratá-la como um produto acabado, polido e embalado para o público. Mas quais são os pensamentos que vão para a arte? As emoções? As prioridades? O que é feio? Toda a arte é parcialmente autobiográfica – vem de dentro da mente de alguém, de dentro da sua alma. O arquivo de Allen mostra o que está dentro dele”, sublinha Morgan.

O realizador já se viu envolvido em polémicas sexuais. Em concreto, no início dos anos 90 e depois de se ter divorciado de Mia Farrow, uma das filhas adoptivas do casal, Dylan Farrow, então com sete anos, terá relatado à mãe que havia sido alvo de abusos sexuais por parte de Woody Allen. O caso foi entregue às autoridades, mas, mais tarde, uma equipa de psicólogos do hospital de Yale-New Haven, especializado em abusos sexuais a menores, deu como provado que a rapariga não tinha sido abusada pelo pai.

Mas a polémica entre o casal não se ficou por aqui. Ainda antes do divórcio, Woody Allen iniciou uma relação com a sul-coreana Soon-Yi Previn, filha adoptiva de Mia Farrow e do seu ex-marido, o compositor André Previn. Actualmente, o realizador está casado com Soon-Yi. Na altura da adopção, foi calculado que a sul-coreana teria nascido em 1970, o que faz com que a diferença de idades entre Allen e Soon-Yi seja de pelo menos 35 anos.

Ora, a grande diferença de idades entre casais é tema recorrente nos filmes de Woody Allen, sendo que as personagens masculinas são muitas vezes interpretadas pelo próprio. É o caso de Manhattan – um dos filmes mais aclamados do realizador – onde Allen tem o papel de um comediante de 42 anos que tem uma relação com uma rapariga de 17, interpretada por Mariel Hemingway. Poderosa Afrodite e Maridos e Mulheres são outros exemplos disso mesmo.

Ronan Farrow, filho de Woody Allen e Mia Farrow, tem ganho notoriedade nos últimos anos devido à denúncia de vários casos de abusos sexuais. Foi, aliás, um artigo escrito por si na revista New Yorker que contribuiu decisivamente para a denúncia pública dos casos de assédio e violação alegadamente perpetrados por Harvey Weinstein.