A grafia dos dias: Eleanor

Eleanor planeia fugas. Frequentes. Diárias. Travadas na rigidez da carpete

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Sónia Nisa

O desejo do exterior alastra. Epidemia. Imune a argumentos, conselhos, boletins meteorológicos e antibióticos, prescritos para infecções urinárias. Recorrentes. Previsíveis. Levantam-se guiados por movimentos sonâmbulos. Procuram portas, janelas. Frestas rasgadas nas paredes. Impercetíveis. Escapam e trazem-nos quedas.

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O desejo do exterior alastra. Epidemia. Imune a argumentos, conselhos, boletins meteorológicos e antibióticos, prescritos para infecções urinárias. Recorrentes. Previsíveis. Levantam-se guiados por movimentos sonâmbulos. Procuram portas, janelas. Frestas rasgadas nas paredes. Impercetíveis. Escapam e trazem-nos quedas.

 

Eleanor planeia fugas. Frequentes. Diárias. Travadas na rigidez da carpete. Modelam-lhe o corpo. Insuflado. Enorme. Pesado. Espraiada no chão vocifera. Pedidos de ajuda sobre a inoperância do tapete sonoro. Desligado. Negligente. Mudo.

 

Um mar de nódoas negras invade-lhe o corpo. As pernas. O rabo. A face. Pigmentos esverdeados diluem-se-lhe nas bochechas. Círculos vermelhos enquadram-lhe os olhos. Inchados a sonhar lojas e compras.

 

- Eleanor, hoje fica connosco. É muito tarde para sair. Está frio. Chove copiosamente. - Digo-lhe.

 

Argumentos magros. Insuficientes. Retardam-na instantes, até a voz rouca da campainha soar novamente. Uma vez e outra. Acordando memórias de quedas e fugas goradas.