Centenas de aplicações móveis podem ouvir o que vê na TV

O objectivo é identificar as séries, filmes e programas televisivos mais vistos por cada pessoa.

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Mais de duas centenas de aplicações móveis na loja online do Google e da Apple vêm com um programa que monitoriza os hábitos televisivos dos seus utilizadores através do microfone no telemóvel. A tecnologia foi desenvolvida pela Alphonso, uma startup oriunda da Índia que a reúne informação e vende-a a publicitários. Funciona mesmo quando o aparelho está no bolso e a aplicação não está a ser utilizada.

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Mais de duas centenas de aplicações móveis na loja online do Google e da Apple vêm com um programa que monitoriza os hábitos televisivos dos seus utilizadores através do microfone no telemóvel. A tecnologia foi desenvolvida pela Alphonso, uma startup oriunda da Índia que a reúne informação e vende-a a publicitários. Funciona mesmo quando o aparelho está no bolso e a aplicação não está a ser utilizada.

A informação foi avançada pelo New York Times que identificou perto de 250 aplicações na loja online do Google a usar o Alphonso. Muitas são jogos – com nomes como Doodle Flip, Rat Rescue, e Pocket Bowling 3D – e destinam-se a crianças. Uma pesquisa na loja online da Apple, a App Store, mostra que algumas também estão disponíveis para iOS. De acordo com a informação no site da startup, porém, a tecnologia está presente em mais de 40 milhões de “televisões inteligentes, boxes, e dispositivos móveis” no total.

O objectivo é identificar as séries, filmes e programas televisivos mais vistos por cada pessoa, para que as aplicações móveis possam apresentar conteúdo publicitário personalizado. O PÚBLICO tentou contactar a equipa da startup para esclarecimentos, mas não conseguiu resposta até à hora de publicação deste artigo. Segundo a política de privacidade no site da empresa, a Alphonso “apenas recebe pequenas amostras de áudio do microfone do dispositivo em que a aplicação está instalada” se o utilizador concordar. No entanto, são feitas poucas perguntas.

Autorização quase automática

A autorização do consumidor acontece ao instalar uma aplicação móvel que utilize o sistema da Alphonso. Parte-se do pressuposto que o utilizador leu a descrição completa das aplicações na loja online do Google. “Esta aplicação vem integrada com o Sistema de Reconhecimento de Conteúdo da Alphonso (ACR)”, lê-se depois das imagens, conceito e modo de jogar das aplicações. Depois de instalada, a aplicação pergunta se pode gravar áudio. Em caso afirmativo, passa a poder aceder ao microfone do telemóvel.

A Alphonso depende depois da Shazam, uma aplicação para smartphones que faz reconhecimento de conteúdo áudio, para identificar a origem dos excertos reunidos na sua nuvem global de dados. “O sistema não reconhece ou percebe conversas humanas ou som ambiente”, lê-se na política de privacidade do site.

Para alguns especialistas, porém, a tecnologia ainda está na infância. “Parece um pouco de especulação ligar o microfone através aplicações instaladas em 50 mil dispositivos e esperar que o Shazam reconheça algo” , escreve no Twitter Justin Brookman, o director de política de privacidade da Consumers Union, uma organização dos direitos dos consumidores nos EUA. “[Mas] é bom clarificar estes tipos de modelos e tecnologias dúbias antes que fiquem mais sofisticadas.” Em declarações ao New York Times, Brookman esclarece que o problema é que muitos consumidores não percebem o que estão a autorizar.

Para confirmar se um aparelho tem aplicações com este tipo de funcionalidades instaladas, pode-se aceder às definições do aparelho. Se a aplicação inclui uma autorização para utilizar o microfone (e não é uma aplicação de mensagens de voz, ou um jogo que precise dele), pode estar a ser utilizado para fins publicitários.