O maior problema do PSD
Esse tem sido o grande erro de Rio e Santana: acharem que o seu segundo teste, a seguir às directas, será apenas em 2019. Na verdade, vai chegar poucas semanas depois.
Foram quase três meses de martírio. A campanha pela liderança do PSD está mesmo a chegar ao fim quase sem ter começado. Foram três meses de um deserto de ideias, três meses passados a discutir se havia debates ou não, três meses na estrada a tentar convencer os militantes apenas com uma diferença de tom ou de fidelidade internas.
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Foram quase três meses de martírio. A campanha pela liderança do PSD está mesmo a chegar ao fim quase sem ter começado. Foram três meses de um deserto de ideias, três meses passados a discutir se havia debates ou não, três meses na estrada a tentar convencer os militantes apenas com uma diferença de tom ou de fidelidade internas.
A partir de amanhã, restam a Santana Lopes e a Rui Rio dez dias para cumprirem o seu verdadeiro desafio: convencer o país de que o PSD viverá outra vez. Eu sei, os dois parecem achar que lhes basta nesta fase convencer os militantes do PSD (subitamente renascidos para a quotização) de que terão um líder. Mas não é verdade: qualquer dos dois, seja qual for o eleito, não terá a menor hipótese de ser líder se não convencer muitos outros para além desses.
Esse tem sido o grande erro de Rio e Santana: acharem que o seu segundo teste, a seguir às directas, será apenas em 2019. Na verdade, vai chegar poucas semanas depois, quando chegarem as primeiras sondagens. Ou alguém acredita que uma má primeira impressão dará lugar a uma segunda oportunidade?
Reconheça-lhe o mérito: Pedro Santana Lopes arriscou mais. A moção de estratégia que ontem apresentou à liderança do PSD tem mais ideias do que aquelas que Rui Rio já tinha apresentado. Na nova economia, nas cidades, no interior, na floresta, também na Segurança Social e Trabalho, há pelo menos uma tentativa de ir ao concreto. Mesmo que com pouco risco.
Anote-se o problema: sendo mais detalhada, a moção de Santana Lopes também entra mais vezes em contradição (com ela própria). Em 53 páginas, consegue dizer-se - simultaneamente - que o país não pode corrigir em poucos anos os desequilíbrios de muitos e garantir um “reforço das políticas de contenção orçamental”. Ou dizer-se que o Estado tem que ser mais pequeno e dizer também que “não se discute o Estado pelo tamanho, mas pela eficácia”.
Mas perdoe-se a confusão, face ao mínimo de ousadia assumida. Até porque há um problema bem maior, comum aos dois candidatos: a esmagadora maioria das suas propostas podiam ser subscritas por António Costa. Ou mesmo pelo CDS. Ou, em larga medida, até pelo PCP e Bloco de Esquerda. São - mais um do que o outro - programas feitos à medida de um concurso de Miss Universo.
Amanhã, no primeiro dos duelos televisivos, Santana e Rui Rio vão ter a primeira das últimas oportunidades para nos convencerem de que isto é mais do que um concurso de beleza. E de que há mesmo uma alternativa. Sabendo eles que a alternativa a isso é terem esperança curta até às legislativas.