Protestos podem ser pretexto para Trump rasgar acordo nuclear com Irão

Por trás dos tweets em que apoia os manifestantes, o Presidente dos EUA parece estar a preparar um pacote de novas sanções.

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Manifestação em Bruxelas, de apoio aos manifestantes que têm protestado no Irão LUSA/OLIVIER HOSLET

O Presidente Donald Trump “apoia o povo iraniano”, afirmou a sua conselheira, Kellyanne Conway, à Fox News. E acrescentou que a repressão dos manifestantes pode levar os Estados Unidos a impor novas sanções ao regime de Teerão. A oportunidade coloca-se já a partir da próxima semana, quando terá de decidir outra vez se continua a certificar o acordo nuclear assinado pela Administração Obama.

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O Presidente Donald Trump “apoia o povo iraniano”, afirmou a sua conselheira, Kellyanne Conway, à Fox News. E acrescentou que a repressão dos manifestantes pode levar os Estados Unidos a impor novas sanções ao regime de Teerão. A oportunidade coloca-se já a partir da próxima semana, quando terá de decidir outra vez se continua a certificar o acordo nuclear assinado pela Administração Obama.

Em Outubro, Donald Trump recusou assinar um documento que certifica que o Irão cumpre as principais directivas previstas pelo acordo assinado em 2015 pelos EUA e outros seis países. A decisão abriu uma janela de 60 dias durante a qual o Congresso poderia ter aplicado o regime de sanções que o acordo bloqueia – o que acabaria por enterrar o acordo em definitivo. Mas os líderes do Congresso não o fizeram e a decisão continua nas mãos do Presidente. A partir de 11 de Janeiro, terá de certificar o acordo, o que implica continuar a suspender as sanções antes impostas ao Irão. Ou, então, rasgar o acordado.

Os protestos contra o regime no Irão dão um novo motivo a Trump para deixar o acordo nuclear, a que costuma chamar “o pior acordo de sempre”. Um passo arriscado, pelo qual os seus apoiantes estão a torcer, e os críticos avisam que pode acabar por favorecer as forças mais repressivas de Teerão.

Ao incentivar publicamente as manifestações, Trump está também a seguir uma abordagem diferente da do ex-Presidente Barack Obama aos protestos de 2009, que se seguiram às eleições presidenciais em que foi reeleito, com suspeitas de fraude, Mahmoud Ahmadinejad. A Administração considerou, na altura, que dar demasiado apoio ao chamado “movimento verde” acabaria por deslegitimar a sua causa. Conway frisou a diferença, ao dizer que “Trump não quer ficar calado como muitas pessoas ficaram em 2009”.

Referindo-se às sanções que foram suavizadas após a assinatura do acordo nuclear, Trump disse no Twitter: “Todo o dinheiro que o Presidente Obama lhes deu, estupidamente, foi parar aos bolsos deles e financiou terrorismo. As pessoas têm pouca comida, muita inflação e nada de direitos humanos. Os EUA estão a ver!”.

Os tweets de Trump sobre os protestos têm sido ridicularizados e provocado fúria entre os iranianos, que sublinham a falta de coerência deste aparente apoio e a política de os impedir de obter vistos de entrada nos EUA. É provável que sejam usados pelos políticos iranianos para sugerir que os EUA e a Arábia Saudita – o grande rival regional – estão a alimentar a instabilidade no seu país.

O Presidente Hassan Rohani prometeu melhorar as condições de vida após a assinatura do acordo nuclear, em 2015, que levou ao levantamento de sanções económicas. Os seus apoiantes sublinham uma redução drástica na inflação – que ronda os 10%, quando nos tempos do seu antecessor, Ahmadinejad, andava pelos 40%.

Mas o investimento estrangeiro tem sido lento a chegar. E as ameaças de Trump de que irá rasgar o acordo não têm contribuído nada para cimentar a confiança.

“Se houvesse um bode expiatório para os problemas económicos do Irão após o acordo nuclear, a escolha seria a Administração norte-americana”, afirmou Jean-Paul Pigat, director da empresa Lighthouse Research no Dubai. “Trump está sempre a ameaçar renegociar o acordo nuclear, o que não encoraja os investidores estrangeiros a entrar naquele mercado”. Exclusivo PÚBLICO/Bloomberg