Esgotos de Vales Mortos viajam de tractor até Vila Nova de S. Bento para desespero dos moradores
Dois tractores com depósitos atrelados efectuam diariamente quatro a cinco viagens para transferir cerca de 20 mil litros de águas residuais, percorrendo no total até 250 quilómetros.
Os esgotos que incomodavam a população de Vales Mortos, pequeno lugar no concelho de Serpa, estão a ser descarregados na rede de águas residuais de Vila Nova de S.Bento no meio de protestos dos moradores desta última localidade que passaram a ser afectados pela transferência da incómoda carga, que ali chega em depósitos atrelados a tractores.
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Os esgotos que incomodavam a população de Vales Mortos, pequeno lugar no concelho de Serpa, estão a ser descarregados na rede de águas residuais de Vila Nova de S.Bento no meio de protestos dos moradores desta última localidade que passaram a ser afectados pela transferência da incómoda carga, que ali chega em depósitos atrelados a tractores.
Esta foi a solução de recurso encontrada pela Câmara de Serpa para contornar o problema provocado pelos maus cheiros emanados da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Vales Mortos, infra-estrutura que a autarquia considera “irrecuperável” e que já não depurava os esgotos produzidos por cerca de 150 habitantes.
A alternativa passa pela construção de um novo equipamento. Carlos Alves, vice-presidente do município alentejano, adiantou ao PÚBLICO que “já está a decorrer” o procedimento de abertura de empreitada e a obra pode vir a ter início durante o primeiro trimestre de 2018 e estará concluída “num prazo de 120 dias”, compromete-se o autarca.
Durante este período de tempo, os esgotos produzidos pela população de Vales Mortos terão de ser transportados diariamente para serem tratados na ETAR de Vila Nova de S. Bento, que se encontra a cerca de 45 quilómetros de distância, embora o autarca garanta que existe capacidade de tratamento na ETAR de Serpa, que fica a 15 quilómetros de Vales Mortos.
A empresa Águas Públicas do Alentejo (AgdA), entidade gestora do sistema de ETAR no concelho de Serpa, disse ao PÚBLICO que, a pedido da autarquia, autorizou as descargas dos esgotos de Vales Mortos no sistema de tratamento instalado em Vila Nova de S. Bento. No entanto, a operação teve um começo acidentado: verificaram-se “extravasamentos” de efluente e foi “sugerido ao município” que as águas residuais fossem lançadas numa caixa do colector que canaliza os esgotos mas “fora do aglomerado populacional”. A mesma fonte acrescenta que a operação que está a decorrer, “não é da responsabilidade da AgdA”.
Este procedimento é contestado pelos moradores que residem nas proximidades. José Carlos Charraz explicou ao PÚBLICO que a caixa do colector onde são largados os esgotos de Vales Mortos fica a uma distância de cerca de 500 metros da ETAR de Vila Nova de S. Bento mas muito próximo do aglomerado populacional, o qual é afectado pela formação de gazes que se infiltram na rede de esgotos das casas próximas “e o cheiro torna-se insuportável”, refere o morador. “Resolveram o problema de Vales Mortos mas acabaram por complicar a vida aos residentes de Vila Nova de S. Bento” que se insurge contra os responsáveis autárquicos por não terem prestado “qualquer esclarecimento” à população, diz Charraz.
Os custos da operação que vai prolongar-se entre seis a sete meses não foram avançados pela autarquia. Estão a ser usadas diariamente duas viaturas e dois funcionários a tempo inteiro, percorrendo as quatro ou cinco viagens que são necessárias para transportar cerca 20 mil litros de esgoto, num total de 200 a 250 quilómetros percorridos. A AgdA refere que autorizou a “descarga de 80 m3 a cada dois dias”.
Na reunião do executivo municipal de Serpa, realizada em 7 de Dezembro, os vereadores socialistas manifestaram a sua surpresa e preocupação pelo facto dos detritos de Vales Mortos estarem a ser transportados e despejados em Vila Nova de S. Bento. “Vemos com muita apreensão a opção tomada devido à proximidade do ponto colector, e da própria ETAR, à povoação e sobretudo porque esta situação só será sanada com a entrada em funcionamento da nova ETAR de Vales Mortos”, dentro de seis meses.
Também Alberto Matos, coordenador do núcleo concelhio de Serpa, do Bloco de Esquerda pediu esclarecimentos à autarquia sobre o sistema de tratamento de esgotos em Vales Mortos e sobre o “estado de funcionamento e de manutenção de cada uma das restantes ETAR do concelho de Serpa”.