Chinesa State Grid “começou a ter efeitos nefastos” na REN
A empresa chinesa, dona de 25% da REN, passou a ser "demasiado dominante", diz o presidente executivo da Gestmin, que já foi o terceiro maior investidor mas hoje detém menos de 2%.
Para João Bento, presidente executivo da Gestmin, grupo que chegou a ser o terceiro maior accionista da REN, a chinesa State Grid "começou a ter efeitos nefastos para o interesse da companhia" sem que se conseguisse contrariar. "A State Grid não só não viabilizou o crescimento internacional, como em alguns casos substituiu-se à REN", diz o gestor da holding criada por Manuel Champalimaud, e que passou a apostar nos CTT. A retirada da REN teve início em 2016. Depois de ter assegurado 6% do capital, em Maio desse ano já só tinha 2,69%, e no final de Julho desceu para 1,92%, deixando de então ter uma participação qualificada (de 2% ou mais).
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Para João Bento, presidente executivo da Gestmin, grupo que chegou a ser o terceiro maior accionista da REN, a chinesa State Grid "começou a ter efeitos nefastos para o interesse da companhia" sem que se conseguisse contrariar. "A State Grid não só não viabilizou o crescimento internacional, como em alguns casos substituiu-se à REN", diz o gestor da holding criada por Manuel Champalimaud, e que passou a apostar nos CTT. A retirada da REN teve início em 2016. Depois de ter assegurado 6% do capital, em Maio desse ano já só tinha 2,69%, e no final de Julho desceu para 1,92%, deixando de então ter uma participação qualificada (de 2% ou mais).
O que é que vos fez desinvestir da REN?
O que nos fez desinvestir da REN foi justamente terem desaparecido aqueles elementos que eu há pouco referi como essenciais, nomeadamente sentirmos que podíamos ter alguma influência no desenho da estratégia. Porque a REN tinha um accionista muito dominante, a meu ver demasiado dominante, e a influência desse accionista começou a ter efeitos nefastos para o interesse da companhia e não conseguíamos contrariar isso.
Está a falar da State Grid?
Sim, claro.
Acha que fazia sentido que uma empresa como a REN, tendo o papel que tem no sistema energético português, tivesse um núcleo forte de accionistas portugueses?
O tema nacional é sempre um tema difícil. Eu tenho imenso gosto em estar num grupo que é português e portanto acho que sim, em tese. Mas as razões pelas quais a influência do maior accionista da REN não nos parecia muito favorável à empresa não tinha a ver com a sua nacionalidade, nem com o facto de serem uma empresa detida pelo Estado chinês. Tinha que ver com o facto de a REN, sujeita a uma grande pressão social, política e regulatória a propósito da forma como exerce a sua actividade e o seu modelo de negócio, ter de ser capaz de encontrar caminhos de crescimento internacional. Pessoalmente conhecia bem a REN, porque fui presidente da Efacec, que era o maior parceiro da REN. A State Grid fez promessas a propósito do crescimento internacional. Dou-lhe um exemplo muito concreto: no acordo assinado com o Estado português para a entrada no capital era suposto haver uma joint-venture no Brasil e nem o veículo foi criado.
Então quando vê o presidente da REN dizer que não tem planos ambiciosos para crescer lá fora, como fez numa entrevista recente ao Expresso, vê ainda mais sentido na decisão de sair da empresa?
Vejo. A State Grid não só não viabilizou o crescimento internacional, como em alguns casos substituiu-se à REN. Tendo nós a convicção de que o crescimento da REN tinha de ser pela aposta no internacional e não sendo capazes de conduzir as coisas nesse sentido, nem sentir que a nossa participação no conselho de administração gerava a influência que devia, tivemos um desacordo grande. Mesmo, por exemplo, a propósito do tipo de equipamentos que a REN começou a comprar a entidades estritamente relacionadas com o seu accionista maior.
Quanto é que ainda têm na REN? Tinham 1,6% em Maio.
Temos pouco. Temos desinvestido de forma tranquila, porque não precisamos dos fundos, por isso tem sido de uma forma cuidadosa e tirando partido dos momentos em que o preço está melhor.