O programa eleitoral dos comunistas russos é uma quinta
É entre as caóticas auto-estradas que rodeiam Moscovo que se estende a Sovkhoz Lenine, uma das últimas quintas colectivas que sobreviveram ao colapso da União Soviética, e que serve de manifesto eleitoral do candidato comunista às presidenciais russas, Pavel Grudinin. Em contracorrente com a onda de privatizações que varreu a Rússia nos anos 1990, a Quinta Lenine manteve-se seguindo os padrões de propriedade colectiva dos tempos soviéticos e é hoje um exemplo de boa gestão na área agrícola, servindo a capital russa de produtos frescos.
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É entre as caóticas auto-estradas que rodeiam Moscovo que se estende a Sovkhoz Lenine, uma das últimas quintas colectivas que sobreviveram ao colapso da União Soviética, e que serve de manifesto eleitoral do candidato comunista às presidenciais russas, Pavel Grudinin. Em contracorrente com a onda de privatizações que varreu a Rússia nos anos 1990, a Quinta Lenine manteve-se seguindo os padrões de propriedade colectiva dos tempos soviéticos e é hoje um exemplo de boa gestão na área agrícola, servindo a capital russa de produtos frescos.
“Não admira que o Partido Comunista apresente a quinta como um grande exemplo”, dizia em Setembro o especialista do Instituto Russo de Economia Agrícola, Nabi Avarski, ao Christian Science Monitor.
Segundo Grudinin, a quinta de 12 km2 sobreviveu a três tentativas de aquisição por investidores privados porque nenhum dos membros do colectivo está interessado em prescindir do estilo de vida aqui proporcionado. Os cerca de 300 trabalhadores da Quinta Lenine têm um salário médio de 78 mil rublos mensais (1100 euros), três vezes superior à média nacional, para além de terem habitação, saúde e educação gratuitas.
Os lucros da venda de parte do terreno original ocupado pela exploração agrícola foram investidos na construção de uma escola que serve as crianças da zona, casas para os trabalhadores e até um parque de diversões, e ainda apoiaram a renovação de uma clínica local.
“Esta é talvez a forma como todos viveríamos se a União Soviética não tivesse caído e não se tivesse seguido aquela privatização louca”, diz Grudinin ao CSM. A Quinta Lenine tornou-se num local de peregrinação para os dirigentes locais e nacionais do Partido Comunista, que a consideram ideal para apelar ao saudosismo que ainda motiva grande parte do seu eleitorado.
Apesar de não ser militante, Grudinin foi escolhido na semana passada para ser candidato às eleições presidenciais, surpreendendo todos os que esperavam ver o decano da política russa, Guennadi Ziuganov, mais uma vez nos boletins de voto. É muito improvável que o ex-deputado do parlamento regional de Moscovo consiga sequer assustar Vladimir Putin, mas há uma clara aposta dos comunistas russos em tentar capitalizar votos com os descontentes com o capitalismo selvagem.
Mas não se pense que Grudinin quer um regresso ao passado. “O futuro está em empresas como esta”, disse ao CSM.