Natal custou pelo menos seis milhões às câmaras
As contas estão longe de estar fechadas. Só 129 câmaras já revelaram quanto gastaram nesta quadra. Oeiras, em que um só almoço custou 100 mil euros, é por enquanto a que mais investiu. Seixal e Albufeira completam o top três.
Como habitualmente, a Câmara Municipal de Oeiras decidiu este ano promover um almoço de Natal para os funcionários. Entre catering, serviços de apoio e tendas, o evento custou 100 mil euros aos cofres da autarquia, catapultando-a para o topo da lista das câmaras que mais gastaram nesta época festiva, de acordo com os dados já conhecidos. O município de Sousel, por sua vez, só desembolsou cerca de dois mil euros, o que faz dele o mais poupado até ao momento.
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Como habitualmente, a Câmara Municipal de Oeiras decidiu este ano promover um almoço de Natal para os funcionários. Entre catering, serviços de apoio e tendas, o evento custou 100 mil euros aos cofres da autarquia, catapultando-a para o topo da lista das câmaras que mais gastaram nesta época festiva, de acordo com os dados já conhecidos. O município de Sousel, por sua vez, só desembolsou cerca de dois mil euros, o que faz dele o mais poupado até ao momento.
É rara a câmara municipal que não queira engalanar as ruas do seu concelho com luzes festivas ou oferecer um bacalhau a alguém. Em 2017, sem surpresa, a iluminação e animações várias representam a maior fatia dos gastos autárquicos com o Natal. À lista juntam-se os sempre inevitáveis cabazes, brindes e refeições. Contas feitas, as câmaras gastaram pelo menos seis milhões de euros em produtos e serviços especificamente relacionados com esta quadra, a que falta acrescentar o IVA.
O valor, no entanto, será inevitavelmente mais alto. Porque, até agora, pouco menos de metade das 308 câmaras municipais divulgaram as suas despesas natalícias no portal Base, onde todos os contratos públicos com valor superior a cinco mil euros têm obrigatoriamente de ser publicados. Algumas autarquias demoram muitos meses a fazer essa publicação -- a título de exemplo: Valença só em Junho divulgou o contrato relativo à iluminação do Natal do ano passado. Além disso, existem contratos que, pelas suas especificidades, nem têm de ser divulgados neste portal e, por isso, nunca chegam a ser conhecidos.
No ano passado, as despesas natalícias de 167 câmaras -- as que apresentaram contas -- ficaram em 6,9 milhões.
Entre as 129 autarquias que já forneceram dados há um padrão claro: fazem sucesso as aldeias temáticas, as feiras, as pistas de gelo e, sobretudo, as iluminações. Com isto, os municípios desembolsaram 4,7 milhões de euros. Em cabazes, que foram entregues quer a idosos ou cidadãos mais pobres quer aos funcionários de cada autarquia, o gasto ultrapassou o meio milhão de euros. E não andou longe desse valor a despesa em almoços, jantares e lanches natalícios, oferecidos quase sempre aos mais velhos e aos trabalhadores.
Houve ainda câmaras que não se esqueceram das crianças (comprando brinquedos, sobretudo para os filhos dos funcionários) e que não deixaram pessoas de mãos a abanar, oferecendo-lhes brindes e prendas variadas. Estas despesas, a que se somam serviços especializados e alguns recursos humanos, ascenderam quase aos 200 mil euros nos municípios já analisados.
Gastos representam um euro por habitante
Feitas as contas entre a quantia gasta por cada autarquia e o número de habitantes que lá vivem (estimativas do INE para 2016), os gastos relacionados com animação e iluminação natalícias, cabazes e refeições correspondem a um euro por habitante.
A Pampilhosa da Serra, contudo, está longe deste valor. No município onde vivem 4112 pessoas, os gastos natalícios chegaram aos 167.845 euros, ou seja, 41 euros por habitante. Também em Nisa e Boticas, com 6446 e 5217 habitantes respectivamente, este tipo de despesas ultrapassou os dez euros por habitante. Mas foi também Boticas que gastou mais a mimar os seus idosos. A câmara organizou um almoço de Natal para os mais velhos, que custou 16.500 euros, e pagou 14.875 euros por mantas polares que foram distribuídas pelos idosos do concelho. Em Vila Nova de Foz Côa, Sousel, Ribeira de Pena e Calheta a população idosa também teve direito a almoços de Natal.
No fim da lista dos gastos por habitante, estão Odivelas (cinco cêntimos), depois Lisboa (dez cêntimos) e Viseu (13 cêntimos). Já em Oeiras, a autarquia que mais gastou, quando se divide o valor gasto pelo número de habitantes, a despesa fica-se por 1,70 euros.
Animação e iluminação representam 80% dos gastos
Só em 22 das 129 autarquias analisadas é que esta não é a principal rubrica. E são aquelas onde não há, por enquanto, registo de despesas deste tipo.
No Seixal, a aldeia e o mercado de Natal, os espaços próprios para selfies, os insufláveis e a ornamentação e iluminação típicas desta época representaram uma despesa de 277.815 euros. O município é o primeiro na lista dos que mais gastaram nesta rubrica.
A Cidade Natal da Guarda custou 183.750 euros a esta câmara. Somados os 31.800 euros dispendidos em iluminações, os gastos ascendem aos 215.550 euros.
Os cabazes oferecidos pelas câmaras representam uma parte da despesa muito menor do que os enfeites e a animação. Ainda assim, as autarquias gastaram meio milhão de euros nestes produtos. Só Oeiras gastou mais de um quinto deste valor (120 mil euros). Pelo menos 1250 cabazes oferecidos pelo município foram dados a famílias carenciadas.
Por sua vez, as refeições, oferecidas a funcionários nuns casos e a habitantes do concelho noutros, representam 8% do total (497.296 euros).
Despesas triplicam no Seixal
Apesar de ter havido eleições e de algumas autarquias terem mudado de cor política, há tradições que se mantêm. Em Almada, por exemplo, a câmara voltou a comprar smartphones para oferecer numa festa, à semelhança do que já tinha feito no ano passado. O gasto, desta vez, foi menor: 5.788,50 euros face aos 7.377,50 euros de 2016. No município agora governado pelo PS, a despesa total desceu 8500 euros, situando-se este ano ligeiramente acima dos 170 mil euros.
Em Oeiras, o investimento natalício de 2016 já tinha superado os 220 mil euros. Este ano, as despesas subiram 70 mil e ficaram perto dos 300 mil euros. As tendas para a festa de dos funcionários, a iluminação nas ruas, os brinquedos para os filhos dos trabalhadores e os cabazes: foi tudo mais caro em 2017 do que no ano passado. E a câmara até nem voltou a contratar André Sardet para um concerto privativo. Em 2016, esse brinde aos trabalhadores custou quase 22 mil euros.
No Seixal, a despesa praticamente triplicou. Em 2016, o município do distrito de Setúbal tinha gasto 84.300 euros e, este ano, as despesas já vão em 277.815 euros. Apesar de ter perdido a maioria absoluta nas eleições autárquicas de Outubro deste ano, o Partido Comunista mantém-se à frente da gestão do município.
Já a câmara da Guarda foi a que teve mais despesas natalícias no ano passado: no total, a autarquia gastou 252.803 euros. Este ano, o valor é, por enquanto, ligeiramente inferior.