Daesh volta a matar civis em Cabul para iniciar violência sectária
Ataque num centro cultural com ligações ao Irão fez mais de 40 mortos, incluindo quatro mulheres e duas crianças.
Apesar de os Estados Unidos terem largado a "mãe de todas as bombas" sobre combatentes do Daesh no Afeganistão, em Abril passado, o grupo continua a cometer ataques sangrentos contra civis no país. Esta quinta-feira, um bombista-suicida fez-se explodir num centro cultural da capital, Cabul, e matou mais de 40 pessoas, incluindo mulheres e crianças.
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Apesar de os Estados Unidos terem largado a "mãe de todas as bombas" sobre combatentes do Daesh no Afeganistão, em Abril passado, o grupo continua a cometer ataques sangrentos contra civis no país. Esta quinta-feira, um bombista-suicida fez-se explodir num centro cultural da capital, Cabul, e matou mais de 40 pessoas, incluindo mulheres e crianças.
O ataque aconteceu por volta das 10h30 locais (6h em Portugal continental), no centro cultural Tabayan, onde várias dezenas de pessoas participavam numa palestra sobre a invasão do Afeganistão pelas tropas da União Soviética, em Dezembro de 1979. O centro Tabayan tem ligações ao Governo xiita do Irão, e é por isso que se tornou um alvo para os radicais sunitas do Daesh e a sua vertente salafista wahabita – como o grupo não tem sido bem-sucedido na conquista de território desde que chegou ao Afeganistão, em Janeiro de 2015, tenta agora iniciar uma guerra sectária entre xiitas e sunitas.
Perto do centro cultural Tabayan, esta quinta-feira, os familiares das vítimas apontavam o dedo às autoridades, em particular ao Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, acusado de fazer pouco para impedir estes ataques contra civis.
"Todos os que perderam a vida neste ataque eram pessoas vulneráveis. Nenhum deles era filho de um deputado, do Presidente ou de um ministro", disse Mohammad Husain ao canal de notícias afegão TOLONews. "Não consegui encontrar o meu filho. Espero que Ashraf Ghani perca o seu filho para sentir a nossa dor", disse a mãe de outra vítima.
O porta-voz do Presidente, Shahussain Murtazawi, anunciou em conferência de imprensa que já foram destacados "especialistas para avaliarem o incidente e a situação dos feridos". Na mesma ocasião, o porta-voz do Ministério do Interior, Najib Danish, disse que haverá punições se se descobrir que a polícia "foi negligente".
Assim que se soube da notícia do ataque, os taliban afegãos apressaram-se a negar a sua responsabilidade – apesar de cometerem vários atentados, os taliban afegãos não são conhecidos por atacarem especificamente alvos xiitas. Essa é uma marca da versão afegã do Daesh – desde Outubro, os combatentes do grupo já mataram cerca de 130 civis em cerimónias públicas.
Até 2015, os taliban eram a força insurgente preponderante no Afeganistão, com objectivos locais: derrubar as autoridades para voltar a instalar o emirato com que governaram o país entre 1996 e 2001, e expulsar todas as forças internacionais. No início de 2015, o Daesh chegou ao Afeganistão com um objectivo mais alargado: assumir o controlo do território e ir aumentando o mapa de um califado para onde todos os muçulmanos deveriam ir viver.
Mas os taliban recusaram submeter-se ao Daesh e a guerra entre os dois grupos mantém-se desde então, somando-se aos conflitos que cada grupo tem com as forças afegãs. Este ano, e só na capital, Cabul, os vários conflitos fizeram quase 500 mortos entre a população civil.