A bienal de Coimbra deu o salto, mas ainda pode crescer
Segunda edição da exposição de arte contemporânea termina este sábado. Curador e tema do próximo Anozero são apresentados em Janeiro.
“Nesta fase é comum dizer-se que os números ultrapassaram largamente as expectativas”, começa por introduzir o director do Circulo de Artes Plásticas de Coimbra, Carlos Antunes. No entanto, o director da instituição que produz o Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, prefere sublinhar “a margem de crescimento muito grande” que a iniciativa que termina este sábado tem, apesar de ter gozado de “uma grande receptividade e de um número de público surpreendente”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Nesta fase é comum dizer-se que os números ultrapassaram largamente as expectativas”, começa por introduzir o director do Circulo de Artes Plásticas de Coimbra, Carlos Antunes. No entanto, o director da instituição que produz o Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, prefere sublinhar “a margem de crescimento muito grande” que a iniciativa que termina este sábado tem, apesar de ter gozado de “uma grande receptividade e de um número de público surpreendente”.
O responsável fala-nos no Convento de Santa Clara-a-Nova, um dos principais locais de exposição da bienal que se estendeu a vários pontos da cidade. Com a fanfarra da obra More Sweetly Play the Dance de William Kentridge como som de fundo, Carlos Antunes sublinha que este é só o “início de uma aventura longa”. Isto porque “Coimbra não faz apenas uma bienal de artistas relevantes que vêm aqui mostrar as suas obras, mas convoca artistas relevantes para ajudarem a reflectir" sobre a própria cidade, refere.
Foi o caso do convento, um espaço que estava desocupado e degradado e que acabou por ser o ponto alto duma bienal subordinada ao tema “curar e reparar”. O edifício foi “dado a conhecer ao cidadão, ao mesmo tempo que criou possibilidades de leituras novas”, partindo de obras como as de Fernanda Fragateiro ou de Julião Sarmento, que interagem com o espaço.
E as novas leituras sugerem novos usos. Numa perspectiva de continuidade, Luiza Teixeira de Freitas, que trabalhou como curadora-adjunta de Delfim Sardo, afirma que “o interessante seria ver um outro curador a trabalhar no mesmo espaço”. Isso não está garantido. O edifício integra a carteira do programa Revive, que visa a concessão de património do Estado a privados para fins turísticos. Mas é verdade que o Anozero recebeu a visita do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.
A poucos dias do encerramento do evento, a bienal tinha registado 18 mil entradas, sem que fossem contabilizados neste número os visitantes do circuito turístico da Universidade de Coimbra, onde estavam também expostas obras.
Para Carlos Antunes, a edição deste ano significou também mais um passo no processo de tornar a arte contemporânea familiar a novos públicos. Um processo que se torna mais fácil “quando há uma legitimação externa”, diz, citando directora do museu da Gulbenkian, e antiga directora da Tate Britain, Penelope Curtis, que numa entrevista afirmou que a bienal de Coimbra tinha sido a exposição mais interessante que tinha visto no último ano.
Luiza Teixeira de Freitas faz também menção à visibilidade internacional da iniciativa e entende que Coimbra pode inserir-se num circuito onde estão as bienais de Xangai, Istambul ou Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. A curadora refere que com esta edição se “pode falar de uma continuidade” e num “passo para a internacionalização”.
Para além de ter destapado a possibilidade de novos usos de um espaço monumental como o convento de Santa Clara-a-Nova, o legado da bienal vai traduzir-se noutro campo. O artista brasileiro Rubens Mano compôs a instalação c o n f i n s d e m e m ó r i a a partir de cinco carros da época do Estado Novo que se encontravam degradados na garagem do edifício. Os veículos, que pertenceram ao extinto Museu Nacional da Ciência e da Técnica e fazem agora parte do espólio da Universidade de Coimbra, vão ser recuperados por um coleccionador privado que servirá também de mecenas, e ficarão disponíveis ao público em moldes ainda por definir, avança Carlos Antunes.
Com o fim da segunda edição da bienal à vista, a próxima já está a ser preparada. Tema e curador para 2019 estão definidos e Carlos Antunes explica que deverão ser apresentados a 17 de Janeiro de 2018. Sem querer adiantar pormenores, o director do CAPC avança que o próximo curador será um “estrangeiro com grande currículo internacional” e que este deverá estrear-se na cidade já em 2018 com uma actividade inserida na bienal.