Nascido no seio das fábricas, o Teatro Narciso Ferreira vai ressurgir como pólo cultural

A requalificação do edifício construído em meados do século XX para servir a população de Riba d’Ave, então um dos núcleos da indústria têxtil do Vale do Ave, está contemplada no Orçamento Municipal de Famalicão para 2018 e deve arrancar no segundo semestre. O novo espaço vai receber as associações da vila, mas também pode servir de palco a alguma da programação da Casa das Artes

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As marcas de degradação visíveis nas fachadas do Teatro Narciso Ferreira, que sobressai no panorama da Avenida com o mesmo nome, junto à travessia sobre o rio Ave numa zona de confluência entre os concelhos de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso, vão-se apagar durante o próximo ano, quando estiverem no terreno as obras que vão reavivar a expressão artística naquele espaço.

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As marcas de degradação visíveis nas fachadas do Teatro Narciso Ferreira, que sobressai no panorama da Avenida com o mesmo nome, junto à travessia sobre o rio Ave numa zona de confluência entre os concelhos de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso, vão-se apagar durante o próximo ano, quando estiverem no terreno as obras que vão reavivar a expressão artística naquele espaço.

“Vamos recuperar o legado histórico do edifício e, por outro lado, criar condições para que, no futuro, haja mais dinamismo cultural naquela região, para benefício de quem aí vive”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Paulo Cunha, apontando a data de início da empreitada para o segundo semestre de 2018.

A requalificação do Teatro Narciso Ferreira, inaugurado em 1944 e baptizado em honra do empresário têxtil responsável pela construção das fábricas mais importantes de Riba d’Ave no século XX, é um dos principais investimentos do orçamento municipal para 2018 — “cerca de três milhões de euros, comparticipados em cerca de 85% por fundos comunitários”, estimou o autarca — e avança 11 anos depois da Câmara ter adquirido o direito de superfície à Fundação Narciso Ferreira, a proprietária, numa altura em que o futuro do edifício estava em risco.

“Ou o edifício era demolido e era construído lá um prédio ou era mantido”, esclareceu Raúl José Ferreira, presidente da instituição fundada em 1945. O bisneto de Narciso Ferreira recordou que o equipamento foi construído por iniciativa de Raúl Ferreira, um dos filhos do empresário, para garantir à população da zona o acesso à cultura, sobretudo aos trabalhadores das duas fábricas da família, a Sampaio Ferreira e a Oliveira Ferreira que, na época, ascendiam aos cinco mil. “Quando havia uma revista mais conhecida, actuavam em Lisboa e no Porto, mas também em Riba d’Ave. O teatro enchia completamente. Mesmo quando passava cinema, tinha sempre bastante gente”, sublinhou.

O espaço tornou-se num dos legados da família Ferreira expostos na vila industrial, com 3.425 habitantes (Censos de 2011), a par do hospital, do mercado, da antiga escola primária e do antigo quartel da GNR, mas, nos anos 90, com a crise do sector têxtil, que afectou o Vale do Ave, começou a deteriorar-se e foi encerrado. Como o Teatro Narciso Ferreira “não era uma fonte de rendimento” e a sua “manutenção era muito cara”, a fundação, alegou o presidente, não dispunha de “meios suficientes para manter o teatro como algo vivo”, pelo que, em Junho de 2007, teve de o ceder à Câmara por 30 anos para garantir que seria salvaguardado.

Espaço multifacetado

A requalificação, projectada por Noé Dinis, vai preservar os traços exteriores, desenhados pelo arquitecto portuense Manuel Amoroso Lopes, mas remodelar o interior. O auditório principal, outrora com 476 lugares sentados, vai assumir três configurações possíveis após as obras: eventos com 168 lugares sentados, com 250 lugares sentados, caso se reduza a área do palco e se acrescente uma bancada amovível, ou com 500 pessoas em pé. Em redor da sala, haverá camarins, armazéns, uma sala de ensaios, um espaço para o público, outro para a administração e ainda um terraço ao ar livre, para lazer.

O Teatro Narciso Ferreira vai-se tornar num “espaço multifacetado”, preparado para espectáculos de teatro, de dança ou de música e para sessões de cinema e capaz de “responder às necessidades da própria comunidade”, mas também de albergar “alguns espectáculos de âmbito mais profissional”, observou Álvaro Santos, director da Casa das Artes, o principal espaço cultural de Famalicão, gerido directamente pela Câmara.

Com uma “componente acústica forte”, realçou o agente cultural, o novo espaço vai receber as associações locais, onde se incluem as companhias de teatro amador do concelho, que já costumam participar na iniciativa Teatro n’Aldeia, promovida pela Câmara para levar o teatro a vários pontos do concelho, associações de dança, com “algumas produções já de alguma monta”, e a Banda Filarmónica de Riba d’Ave, que se distingue pelos 201 anos de existência.

Álvaro Santos prevê, por outro lado, que a Casa das Artes desenvolva “algumas actividades artísticas” ou até “um ou outro ciclo de programação” no Teatro Narciso Ferreira, até pela “sobreocupação” do espaço que gere, na cidade de Famalicão. Frisou ainda que o aparecimento de novos projectos na música, no teatro e até no novo circo, após a transferência do Instituto Nacional das Artes do Circo para o concelho, pode dinamizar o espaço e a comunidade em redor.

Ainda recordada das festas de final de ano no antigo auditório, quando frequentava a escola primária, e dos filmes que lá assistiu, a presidente da Junta de Freguesia de Riba d’Ave sublinhou que a recuperação do edifício é “importantíssima” para “dar uma nova dinâmica à vila”, mas também aos territórios para os quais a vila é ponto de referência. “Com o teatro a funcionar, será óptimo para nós, ribadavenses, mas também para todas as freguesias nas redondezas”, constatou Susana Ferreira.