Trazer imigrantes para ganhar cidadãos
Com a crise financeira os imigrantes deixaram de aparecer. Agora, graças aos estabelecimentos de ensino e a empregos sazonais, estão a regressar.
O envelhecimento do país é particularmente sentido no interior, onde o cenário é dantesco: com as políticas de centralização a agravarem a falta de crianças, temos na prática metade do país a morrer aos poucos. Podemos fazer muita campanha em defesa do “vá para fora cá dentro”, mas não há políticas activas de fixação de populações no interior que possam fugir a uma palavra: emprego.
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O envelhecimento do país é particularmente sentido no interior, onde o cenário é dantesco: com as políticas de centralização a agravarem a falta de crianças, temos na prática metade do país a morrer aos poucos. Podemos fazer muita campanha em defesa do “vá para fora cá dentro”, mas não há políticas activas de fixação de populações no interior que possam fugir a uma palavra: emprego.
Para fixar populações, sejam elas imigrantes ou nacionais, é preciso que exista trabalho que as sustente. Com Lisboa e Porto a entrarem numa espiral de custos que prejudicam especialmente os jovens profissionais, outras capitais de distrito ganham apelo e interesse – até porque em várias cidades a qualidade de vida já pede meças à da capital. Mas sem emprego nada irá acontecer a não ser a criação de periferias mal reguladas, que colocam mais pressão sobre as maiores cidades e pioram o nosso índice médio de felicidade.
O trabalho de jornalismo de dados que hoje publicamos demonstra bem o impacto que políticas sensatas podem ter na aquisição de cidadãos. Exemplos como o de Bragança, que está a aumentar a população imigrante graças ao bom trabalho do Politécnico, são retemperadores. Que Bragança tenha uma das ruas mais cosmopolitas de Portugal é uma bela bofetada no suposto internacionalismo de Lisboa e Porto, onde muitos imigrantes representam mais problemas que soluções – exactamente ao contrário do que se passa no interior. Também há bons exemplos em Aveiro ou na Covilhã, casos em que as respectivas universidades se têm assumido internacionalmente e trabalham activamente na aquisição de alunos estrangeiros.
É certo que os estudantes equivalem a populações móveis e cíclicas, mas a boa gestão pode ajudar a que o ciclo se renove. Populações estudantis crescentes equivalem a clientes para bens e serviços, que acabam por ajudar a criar empregos e a fixar famílias nestas regiões. Se a isto se juntarem políticas que ajudem licenciados a ficar na região, com empregos, será meio caminho andado para diminuir o maior problema estrutural do país.
E, já que o estado central há décadas que nada faz nada para contrariar a desertificação do interior do país – estimulando até a concentração no litoral – resta pouco às regiões para agir no sentido de renovar populações. O nosso problema é tão grave que não serão os imigrantes a resolvê-lo, mas podem ser eles a evitar que algumas cidades morram. Ao menos isso.