As péssimas explicações de Miguel Frasquilho
Frasquilho não pode safar-se assim. Ou se explica muito melhor, ou passa a merecer que o classifiquemos como mais um ex-assalariado de Ricardo Salgado tristemente amnésico.
Nada faria mais pela higiene do regime do que o conhecimento de cada um dos beneficiários da Espírito Santo Enterprises. Em tempos, o Expresso levantou a hipótese de haver uma lista de jornalistas avençados, que nunca apareceu. Mas, pelo que se vai sabendo da actividade do BES, listas não devem faltar, e tudo indica que não se resumam a jornalistas. Na sua última edição, o Expresso adiantava mais um nome que recebeu transferências do famoso e omnipresente saco azul do BES: Miguel Frasquilho. Recorde-se que Frasquilho era director de uma empresa do grupo Espírito Santo (a Espírito Santo Research) ao mesmo tempo que se mantinha como deputado e vice-presidente da bancada do PSD – nada de ilegal, a legislação portuguesa permitia. Só que, em paralelo ao seu ordenado oficial, usufruiu de algumas transferências oficiosas via ES Enterprises – o que já é duvidoso que a legislação portuguesa permitisse, até por ser pouco provável que esse dinheiro tenha sido declarado ao fisco.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nada faria mais pela higiene do regime do que o conhecimento de cada um dos beneficiários da Espírito Santo Enterprises. Em tempos, o Expresso levantou a hipótese de haver uma lista de jornalistas avençados, que nunca apareceu. Mas, pelo que se vai sabendo da actividade do BES, listas não devem faltar, e tudo indica que não se resumam a jornalistas. Na sua última edição, o Expresso adiantava mais um nome que recebeu transferências do famoso e omnipresente saco azul do BES: Miguel Frasquilho. Recorde-se que Frasquilho era director de uma empresa do grupo Espírito Santo (a Espírito Santo Research) ao mesmo tempo que se mantinha como deputado e vice-presidente da bancada do PSD – nada de ilegal, a legislação portuguesa permitia. Só que, em paralelo ao seu ordenado oficial, usufruiu de algumas transferências oficiosas via ES Enterprises – o que já é duvidoso que a legislação portuguesa permitisse, até por ser pouco provável que esse dinheiro tenha sido declarado ao fisco.
Essas transferências foram o motivo da notícia do Expresso, em relação às quais Miguel Frasquilho apresentou péssimas explicações. Digamos que na escala de 0 a 100 da implausibilidade, em que no 100 se encontra a justificação “Carlos Santos Silva é apenas um amigo de infância”, as justificações de Miguel Frasquilho ficam ali nos 90. São muito implausíveis, mesmo. O valor total das transferências em causa – seis, entre 2009 e 2011 – somou 54 mil euros, o que é naturalmente uma gota de água no mar do saco azul. Mas Frasquilho admite não só ter recebido esse dinheiro, como esta estranhíssima particularidade: as transferências não foram feitas para contas suas, mas para contas de familiares próximos. Justificação de Miguel Frasquilho: “tinha dívidas a saldar com os meus familiares directos referidos”. Donde, em vez de resolver o problema directamente com eles, pediu à sua “entidade patronal” para transferir o dinheiro para as contas de pais e irmão.
Faz sentido? Nem por isso. Se eu devo dinheiro a um irmão ou a uma mãe vou pedir ao meu patrão que seja ele a saldar a dívida? É óbvio que não. Seria absurdo andar a partilhar com o DDT aspectos da minha vida financeira privada apenas para evitar o espectacular trabalho de fazer uma transferência a partir de uma conta-ordenado. E existe ainda este problema acrescido: a Espírito Santo Enterprises não só era uma offshore, como não fazia sequer parte da estrutura do grupo BES. Ou seja, a “entidade patronal” de Frasquilho não pagou coisa alguma aos seus familiares. Quem pagou foi uma empresa oculta que andou a distribuir dinheiro por Zeinal Bava, Henrique Granadeiro ou Hélder Bataglia, em processos de muito duvidosa legalidade, como todos sabemos.
Como se isto não fosse já suficiente, a notícia do Expresso não explica, por um lado, a que se devem tais pagamentos (ou seja, o que fez o actual chairman da TAP de tão relevante para merecer um complemento de ordenado), e Miguel Frasquilho não explica, por outro, que tipo de dívidas tinha para com irmão, pai e mãe. O que ele faz é manter-se num regime de explicações mínimas e de invocação de ignorância (nunca tinha ouvida falar na ES Enterprises; não faz ideia se o BES declarou os referidos rendimentos ao fisco, e por aí fora) que nós tão bem conhecemos de outros lugares. Frasquilho não pode safar-se assim. Ou se explica muito melhor, ou passa a merecer que o classifiquemos como mais um ex-assalariado de Ricardo Salgado tristemente amnésico.