Entre o céptico e o idiota, humanos precisam-se!
A um passo do fim do ano de 2017, seria pedir muito que todos os cépticos idiotas se tornassem mais capazes de transformar o mundo. Que fossem capazes de se beliscarem para saberem se ainda há esperança de sentirem
O cepticismo. Há dois tipos de cépticos: o acomodado à crítica de que nada resulta; e o teimoso, que procura provar que o seu cepticismo talvez não esteja certo.
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O cepticismo. Há dois tipos de cépticos: o acomodado à crítica de que nada resulta; e o teimoso, que procura provar que o seu cepticismo talvez não esteja certo.
O acomodado atingiu tal arrogância sobre a sociedade que o rodeia que frequentemente ridiculariza todas as iniciativas que outros possam avançar; arroga-se de uma superioridade sobre tudo e todos, que transforma as tentativas dos outros em coisas estúpidas de quem não tem nada de relevante para fazer; e, atingiu um tal nível de frustração que só conseguiu ser bom num único aspecto da sua vida, sendo incapaz de tentar algo mais com medo de falhar ou receio de se expor. O teimoso vive no meio da ponte, vive sobre dúvidas intensas, mas acha incrível que outros frequentemente façam coisas; mesmo com dúvidas das probabilidades de sucesso, usa críticas construtivas e que incentivam o avanço; e, não tendo medo de falhar nem de se expor, procura mais a experiência e a aprendizagem do que o sucesso.
Não há mal algum no cepticismo, a ele devemos a capacidade crítica, devemos a capacidade de uma reflexão mais profunda e alargada sobre vários aspectos da vida e do mundo, devemos a capacidade de resiliência quando sobre convenções sociais e certezas absolutas da ciência foram lançadas incertezas que geraram novas verdades, novas realidades. Mas há mal na forma como o cepticismo se acerca de nós e se apresenta perante os outros. Quando esse cepticismo é usado para humilhar, desmotivar ou limitar a esperança e a iniciativa do outro, então o cepticismo está transformado na arma do falhado, do ignóbil, que não se tendo realizado passa os dias com sarcasmos e ironias sobre a forma como os outros se deveriam comportar e estar. E isso é ser um céptico idiota.
O mal de sermos cépticos idiotas é que, infelizmente, não fazemos apenas mal a nós mesmos, fazemos mal aos que nos rodeiam, fazemos mal ao mundo em que vivemos. Transportamos a frustração de quem não consegue ser mais, não consegue ir mais além do que aquilo em que se tornou. E este cepticismo idiota é tão triste quanto o facto, inequívoco, de que se perdeu um ser humano que outrora teve potencial. Um ser humano que se construiu apenas em parte e desistiu de ser mais completo, de ser mais capaz, para se tornar num espectador do mundo à sua volta e da alegria que nele pulula.
Mas, esquecendo os cépticos, fiquemos apenas com os idiotas. Gosto mais dos que se riem de si mesmos e fazem rir os outros do que os que humilham mesmo quando recorrem subtilmente à sua inteligência mordaz. Não serve de muito achar-se inteligente, até mesmo ser reconhecidamente inteligente, quando essa inteligência esconde pouca humanidade.
A um passo do fim do ano de 2017, seria pedir muito que todos os cépticos idiotas do mundo se tornassem mais capazes de transformar o mundo, que unissem o seu cepticismo e a sua inteligência para construir um mundo mais capaz e esperançoso. Que, acima de tudo, fossem capazes de se beliscarem para saberem se ainda há esperança de sentirem. E, se nada sentirem à primeira, que tentassem várias vezes até sentirem alguma coisa.
Precisamos de pessoas mais humanas, mais do que tudo o resto. É disso que precisamos, de pessoas mais humanas.