Valdemar não teve um presente, mas tem um desejo para 2018

Autarcas das localidades afectadas pelos incêndios insistem em encontrar apoio para reconstruir segundas habitações que arderam

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Valdemar Alves, presidente da Câmara de Pedrógão Grande Sergio Azenha

O Natal não lhe trouxe esse presente, mas Valdemar Alves, presidente da câmara de Pedrógão Grande, já tem as passas para o desejo de ano novo: “Todas as habitações têm de ser reconstruídas, incluindo as segundas habitações” – aquelas que também arderam, mas cujas famílias não viviam já em Pedrógão Grande.

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O Natal não lhe trouxe esse presente, mas Valdemar Alves, presidente da câmara de Pedrógão Grande, já tem as passas para o desejo de ano novo: “Todas as habitações têm de ser reconstruídas, incluindo as segundas habitações” – aquelas que também arderam, mas cujas famílias não viviam já em Pedrógão Grande.

“Eram as casas dos que sairam”, mas que quiseram manter um pé na terra, diz ao PÚBLICO. “Saíram do suor dos que foram para a Alemanha, para França, para Lisboa ou para o Porto, mas que quiseram manter uma ligação” – mantendo de pé as habitações da família ou construindo casas de raiz. Se ninguém os ajudar a reconstruir, pedra a pedra, não mais voltarão.

É esse o medo de Valdemar Alves, mas também de Tomás Correia, o líder do Montepio que é da terra (e, desde as autárquicas, presidente da Assembleia Municipal – eleito também pelo PS). “Quando eu era jovem, havia 35 mil habitantes no concelho. Hoje os recenseados são três mil”. Depois da tragédia, quantos não voltarão?

No programa de emergência, o Governo fechou a porta a esse apoio: haveria dinheiro para apoiar a reconstrução, sim, mas não de quem não morava já em Pedrógão. O autarca aceitou o argumento: “Estavam a avaliar isso, mas os segundos incêndios complicaram as contas, temos de ser realistas”. Mas não desistiu. “Estamos a ver com outras entidades. Tenho de ver com a Santa Casa, porque o novo provedor disse que tinha dinheiro para ajudar. Ver se falo com algum embaixador, da China ou de França. Uma deputada disse-me que em França houve concelhos que passaram pelo mesmo que nós aqui”. 

E os donativos? “Deixei de falar”

Em Pedrógão Grande falta dinheiro, faltam apoios, faltam meios. Valdemar Alves fala como se não fosse um desespero, mas a cada palavra que diz sentimos-lhe tudo o que falta. E os milhões em donativos?  

“Há pessoas que não receberam nada e outras que receberam duas ou três vezes”, lamenta Valdemar Alves. Mas… como assim?

Em Pedrógão, não há queixas sobre o fundo que o Estado gere, aquele que está a servir para reconstruir as primeiras habitações ardidas. Mas o resto… é difícil seguir-lhe o rasto, até para quem está dia a dia, hora a hora, a tentar pôr a terra como ela era.

“Há uma falta de comunicação muito grande entre as instituições. Há quem tenha andado a distribuir indiscriminadamente, directamente, julgando que estão a fazer uma grande coisa.”

O autarca já nem faz disso uma luta, baixou os braços nesta, esperando ter força para as outras, muitas, que ainda tem pela frente. “Deixei de falar, não vale a pena”, diz ao PÚBLICO, numa conversa ainda antes do Presidente chegar à vila. “Quando foi o concerto de solidariedade no Altice Arena eu disse logo que devia ter ido tudo para a conta do Estado. Depois andaram a distribuir o dinheiro, até para hospitais”, lamenta, recordando como a CGD, uma das instituições que abriu conta para ajudar as vítimas, usou parte desse dinheiro dos portugueses para investir numa ala do hospital de Coimbra. “No final, como eu disse aquilo, andaram a fazer queixa de mim”.

Agora, Valdemar Alves olha em volta e faz contas às vida - à vida do concelho. “É preciso limpar tudo. E as pessoas estranham, mas é preciso também os galinheiros, as poçilgas, as pequenas plantações. São muito importantes, porque as pessoas saem de casa e não têm nada para fazer. Isso ajuda a compor a alma”. E os meios? “Tenho que os arranjar”.