Comércio online explode e pressiona empresas de logística

Os portugueses estão a usar cada vez mais as plataformas online para fazer compras e neste Natal isso traduz-se em crescimentos de 15% a 17%, aumentando a pressão sobre as empresas do sector

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Comércio online ganha peso na concorrência com lojas físicas. Fabio Augusto

A tendência está identificada há já alguns anos, e as expectáveis taxas de crescimento também já estão definidas pela ACEPI - Associação da Economia Digital: a percentagem da população de portugueses que faz compras online já vai nos 36%, e em 2025 essa percentagem deve crescer até aos 59%. O estudo Anual da Economia e da Sociedade Digital em Portugal, feito pela ACEPI com a colaboração da IDC, consultora em análise de mercado, aponta para um fecho de ano, em 2017, com um volume de compras online efectuadas pelos portugueses em cerca de 4,6 mil milhões de euros. Actualmente 85% dos portugueses que compram online já o fizeram em sites estrangeiros e 50% das compras online já são feitas fora de Portugal.

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A tendência está identificada há já alguns anos, e as expectáveis taxas de crescimento também já estão definidas pela ACEPI - Associação da Economia Digital: a percentagem da população de portugueses que faz compras online já vai nos 36%, e em 2025 essa percentagem deve crescer até aos 59%. O estudo Anual da Economia e da Sociedade Digital em Portugal, feito pela ACEPI com a colaboração da IDC, consultora em análise de mercado, aponta para um fecho de ano, em 2017, com um volume de compras online efectuadas pelos portugueses em cerca de 4,6 mil milhões de euros. Actualmente 85% dos portugueses que compram online já o fizeram em sites estrangeiros e 50% das compras online já são feitas fora de Portugal.

Normalmente, quando escolhem um produto num catálogo online, os consumidores não sabem propriamente qual a empresa lhes irá fazer a entrega, uma vez que esse é um serviço que é subcontratado pelo vendedor. Por isso, terão de confiar em quem lhes está a vender o produto, tendo muito pouca margem de escolha dos entregadores num circuito que, em grande parte das vezes, envolve mais do que uma empresa.   

As empresas que fazem a entrega dessas encomendas são as primeiras a confirmar que, num período alargado, que começa no dia 24 de Novembro, vésperas do comercial Black Friday que se celebra nos Estados Unidos, até à véspera de Ano Novo, a procura aumenta exponencialmente o que obriga as empresas de correio expresso a preparem-se atempadamente, começando pelo planeamento com os clientes até ao reforço das equipas. Um dos exemplos disso pode ser dado pela UPS, que prevê rebentar todos os recordes nesta época natalícia, com a entrega de 750 milhões de encomendas globalmente. “A UPS prepara-se para gerir  praticamente o dobro do volume diário normal tendo-se capacitado através do investimento em instalações, tecnologias operacionais para utilização pelo cliente e contratações sazonais”, informou a empresa, em comunicado, sublinhando que em 17 dos 21 dias que antecedem o dia de Natal, a empresa deverá processar 30 milhões de embalagens, um número que compara com 19 milhões de embalagens processadas, em média, e diariamente, nos restantes dias do ano.

Ao PÚBLICO, Wilfredo Ramos, responsável pela UPS em Portugal e Espanha, referiu que a empresa se prepara para este pico de procura e que para além dos acordos de previsão de necessidades celebrado com alguns clientes, este ano esse esforço passou também pela expansão de instalações e investimentos em tecnologia na Europa (que fazem parte do programa de 2 mil milhões de dólares de investimento na rede até 2019) e do aumento global em 6% da capacidade de entrega e separação/classificação de embalagens ao longo do ano passado.

Mais trabalho, mais emprego

Para dar resposta às necessidades dos clientes e atender aos compromissos de entrega, a UPS antecipa empregar 95.000 trabalhadores sazonais temporários em todo o mundo, incluindo motoristas, ajudantes de entrega (que viajam com motoristas), classificadores de embalagens e carregadores. O que a UPS faz, também, é estabelecer parcerias estratégicas com empresas locais, para assegurar um melhor cumprimento da tarefa.

“Embora não tenhamos volumes específicos para a linha pública, o que posso dizer é que acreditamos que as empresas portuguesas têm uma oferta muito forte, que lhes permite ir além das fronteiras do mercado nacional, seja para os EUA ou para a Europa, e a UPS pode fazer chegar os seus produtos a qualquer parte do mundo. Basicamente, o que fazemos é desenvolver parcerias estratégicas com empresas locais, especialmente com as PME que pretendam transformar-se em verdadeiras empresas globais”, conclui Wilfredo Ramos.

A Rangel é uma dessas empresas nacionais que representa em Portugal uma das grandes multinacionais da logística, a FedEx, e que tem crescido na oferta de soluções integradas de organização, transporte e entrega. Nuno Rangel, presidente executivo da empresa confirma que neste período natalício “o aumento de compras online é significativo e acelera de ano para ano, quer na importação, quer no mercado doméstico”. E neste ano de 2017 esse acréscimo é particularmente notório: ”Durante o ano tivemos um crescimento de cerca de 11% das encomendas expresso, comparado com 2016, mas neste período de final do ano, estamos com um aumento de 17%, o que demonstra que o período de pico, está cada vez mais acentuado, o que é uma preocupação para as empresas de entregas expresso, que são quem faz o last mile [última milha] da maior parte das entregas de e-commerce”, esclarece.

Como forma de colmatar o stress de final de ano, e para não falhar com os compromissos, “até porque sabemos o quão desagradável é fazer uma compra online, para um presente de Natal e não conseguir receber antes do dia 24 de Dezembro”, diz o presidente da empresa, a Rangel prepara-se atempadamente para minimizar os problemas. “O segredo é um planeamento atempado em conjunto com os nossos clientes de forma a antecipar e preparar adequadamente os meios. Temos planos de contingência quer para o transporte internacional quer na distribuição, armazenagem e mesmo com a actividade aduaneira”, acrescenta.

Problemas na alfândega

Nuno Rangel explica que um dos problemas que a empresa enfrenta, muitas vezes, é o processo ser bloqueado na alfândega, “uma vez que o pico das compras online neste período pertence sobretudo a compras de particulares, com pouco know how de trâmites”. “Tentamos, assim, fazer tudo para acelerar o processo, reforçando a equipa que contacta com os destinatários para agilizar a obtenção da documentação necessária”, explica. Outra das dificuldades prende-se com as repetidas ausências e respectiva coordenação de horários de entrega em particulares, sendo por isso importante ter uma rede organizada. “Na distribuição reforçamos os meios e a nossa capacidade, assim como fazemos mais recolhas e entregas tardias”, acrescenta.

A Rangel teve de recrutar equipas adicionais para reagir ao aumento de volume de encomendas e também aí enfrentou uma dificuldade acrescida: “Houve uma diminuição da elasticidade, devido à redução da taxa de desemprego no nosso país e ao aumento de procura de mão-de-obra atípica e generalizada”, diz Nuno Rangel. “A título de exemplo, existem zonas geográficas de pleno emprego onde já é quase impossível fazer recrutamento para o nível das necessidades, o que leva, da nossa parte, à tomada de medidas excepcionais de mudança de localização de stocks ou deslocalização de equipas”, esclarece.

A Garland é uma das empresa nacionais que assumiu o e-commerce como uma das suas mais recentes apostas. Ricardo Sousa Costa, administrador responsável pela Garland Logística, refere que essa aposta surgiu há cerca de um ano, quando ampliaram as instalações na Maia para criar uma área equipada com tecnologia para desenvolver especificamente o negócio do e-commerce. “Em apenas um ano, passámos de um para mais de 10 clientes, entre os quais a Farfetch”, refere o administrador.

No período de Natal a Garland registou um aumento significativo da actividade logística ligada ao e-commerce, “acima do crescimento natural de actividade dos clientes de retalho e indústria”. “Estamos este ano com um crescimento de 15% de volume de negócio face a período homólogo do ano passado e, como tal, tivemos de fazer um reforço dos recursos humanos proporcionado ao crescimento de actividade verificado”, concluiu Ricardo Costa.