O Natal pode provocar ansiedade aos animais. O que fazer?
Rita Pereira é médica veterinária na Clínica Veterinária do Taralhão
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Rita Pereira é médica veterinária na Clínica Veterinária do Taralhão
Na época natalícia, as nossas casas enchem-se com os mais diversos agentes estimulantes para os animais. A árvore de Natal, as decorações, os odores da gastronomia tradicional desta época festiva, visitas humanas e não humanas, entre outros, podem ser fontes de excitação, ou até mesmo de ansiedade. O resultado mais provável quando os animais ficam sozinhos (nem que seja por alguns minutos)? Um cenário semelhante ao filme Sozinho em Casa: uma grande confusão.
Para tentar evitar isto, seguem-se algumas dicas:
1 – Manter a rotina
Os animais de companhia são animais de hábitos, por isso alterações na rotina podem gerar ainda mais ansiedade. Acções simples podem fazer a diferença: manter a rotina alimentar à hora habitual, realizar os passeios habituais (preferencialmente antes das visitas chegarem), manter o animal numa divisão mais calma e fornecer-lhe os seus brinquedos preferidos, por exemplo.
2 – Monitorizar a comida
Pode ser tentador dar-lhes “só um bocadinho” das iguarias natalícias, principalmente quando eles fazem olhinhos tipo “gato das botas”. Mas os pratos natalícios contêm muitas vezes elevado teor de gordura, várias especiarias e ossos, o que pode ser bastante prejudicial para a saúde dos nossos amigos de quatro patas. Inúmeros petiscos de Natal podem mesmo ser sinónimo de intoxicação: é o caso de uvas passas, nozes, chocolates. Em casos menos graves, estas “guloseimas” podem ser o motivo de alguns comportamentos estranhos: ladrar, raspar o chão e mordiscar podem ser as formas usadas para pedir uma ida ao wc, quando provocam algum tipo de alteração gastrointestinal.
Não deixar comida ao alcance dos animais (sem esquecer o caixote do lixo) e garantir que as visitas compreendem que não lhes devem fornecer “extras” alimentares podem evitar uma ida ao médico veterinário.
3 – A árvore de Natal
É compreensível a curiosidade do animal: está uma árvore dentro de casa! E, como se não bastasse, ainda vem apetrechada com ornamentos brilhantes e luminosos. É importante estabelecer regras e limites desde que a árvore é montada, o que por vezes pode ser um desafio. Árvores grandes, decorações brilhantes ou mesmo decorações comestíveis são um chamariz que se torna muito difícil de ignorar por parte dos animais. Usar a criatividade é sempre uma boa ideia, por exemplo, prendendo a árvore ao tecto com um gancho, no caso de animais mais problemáticos.
4 – Decorações
Relativamente às decorações natalícias, é importante ter atenção que algumas delas são mesmo tóxicas para os animais, como é o caso do azevinho e dos lírios. No caso de os animais permanecerem em áreas da casa com este tipo de decoração, é importante que eles tenham vigilância. Caso contrário, o ideal é optar por outro tipo de decoração mais segura.
Os acessórios natalícios para animais são cada vez mais comuns e fazem as delícias de quem as oferece. Contudo, importa ter em conta se esses acessórios são bem tolerados pelo animal ou se, pelo contrário, são mais um motivo de stress.
5 - Visitas
Nesta época natalícia as visitas em casa são mais frequentes e podem ser uma fonte de ansiedade e/ou de excitação excessiva para o animal. Um grande passeio antes de as visitas chegarem pode ajudar, bem como garantir que ele tem acesso permanente a um local mais tranquilo onde pode descansar, quando assim o entender.
As visitas também devem estar a par dos comportamentos que o animal não gosta, de forma a evitar situações desagradáveis. Por outro lado, também é importante compreenderem que interacções demasiado entusiastas não vão ser benéficas para o animal, antes pelo contrário.
6 – Fogo-de-artifício
O fogo-de-artifício é muito diferente dos sons naturais, como trovões por exemplo. É um som mais próximo do chão e fá-lo vibrar, é acompanhado por cheiro a queimado e sucedem-se vários barulhos explosivos. O animal tem a tendência de fugir, resultado do instinto de sobrevivência e pode acabar por ficar desorientado e perdido.
De forma a tornar esta experiência menos stressante, um passeio longo antes do fogo-de-artifício pode ajudar a gastar energias e a relaxar. Permanecermos calmamente junto dos nossos animais durante o fogo-de-artifício, dentro de casa, vai ajudá-los a compreender que não há nada a temer. É importante reforçarmos positivamente os comportamentos correctos, já que se dermos festas e demasiada atenção ao animal quando ele está a demonstrar comportamentos ansiosos, estes comportamentos só vão piorar. O importante é reforçar a calma, sem demasiado entusiasmo e excitação.
Permitir o acesso a esconderijos nos quais se sintam seguros e fornecer-lhes os seus brinquedos favoritos é também uma boa forma de ultrapassar melhor este tipo de situações.
7 – Presentes
Os animais conseguem descobrir quais as prendas que contêm comida e têm capacidades e persistência suficiente para abri-las. Estabelecer limites e regras é essencial e, em caso de dúvida, não deixar os presentes ao alcance deles.
Na altura de desembrulhar os presentes, o papel de embrulho, embalagens de plástico e laços coloridos são para os animais um brinquedo muito apelativo. Contudo, é fácil compreender o perigo que representam, através da ingestão ou inalação destes materiais. Descartar de imediato as embalagens e restantes embrulhos é o mais prudente a fazer.
8 – Prendas para animais?
Desfrutarmos de tempo de qualidade na companhia dos nossos animais e família é algo que infelizmente não acontece com tanta frequência como gostaríamos. A quadra natalícia é o motivo perfeito para usufruirmos dessa companhia e, quando assim é, não há melhor presente possível.
Clínica Veterinária do Taralhão
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