Quem ganhou, perdeu ou sobreviveu nas eleições catalãs

Há um claro vencedor das eleições do tudo ou nada para o independentista e vários derrotados por motivos bem diversos.

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Vencedores

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Vencedores

Carles Puigdemont

A lista que formou a partir do auto-exílio (fuga à Justiça, para os juízes espanhóis e para os anti-independentistas) e a insistência na legitimidade de ser o presidente em exercício afastado por Mariano Rajoy revelaram-se num enorme sucesso para Carles Puigdemont. Os catalães não o penalizaram por se encontrar em Bruxelas, antes pelo contrário – e o resultado da Juntos pelas Catalunha, 34 deputados e 21,65% dos votos, acabou por ser quase o dobro do que antecipavam as sondagens. Isto, quando a ERC lhe virou as costas e recusou reeditar a Juntos pelo Sim, lista com que chegaram ao poder em 2015.

Inés Arrimadas

A andaluza que se fez catalã, líder na Catalunha do partido Cidadãos, aqui fundado há 11 anos para combater a imersão linguística (método em que os alunos aprendem todas as disciplinas em catalão, ao mesmo tempo que estudam castelhano) e o soberanismo, conseguiu um feito absolutamente extraordinário. Numa comunidade autonómica maioritariamente de esquerda e onde o nacionalismo tem governado, Inés Arrimadas venceu as eleições, com 37 deputados e mais de 25% (a única a obter mais de um milhão de votos). Sabendo estar a festejar uma vitória de Pirro, por não ter possibilidades de somar apoios e ser investida, celebrou “a primeira vitória de um partido não nacionalista” na Catalunha. É verdade, se estivermos a falar de vitória em deputados e votos: em 2003, o PSC de Pasqual Maragall somou mais votos do que a antiga Convergência e União, mas elegeu menos quatro deputados. A vitória é toda de Arrimadas, que se impôs desde 2015 enquanto líder da oposição, mas Albert Rivera, presidente do C’s, vai poder beneficiar dos resultados em termos nacionais.

Vencidos

Mariano Rajoy

A derrota absoluta, antecipava-se, era um resultado desastroso da candidatura de Xavier García Albiol somado à obtenção, por parte dos independentistas, de nova maioria. Rajoy não podia ter saído da noite de quinta-feira mais vencido do que saiu – aliás, o político que parecia capaz de sobreviver a tudo, à corrupção, às medidas de austeridade e ao fim do bipartidarismo, sofre aqui a mais pesada derrota política de toda a sua carreira. E mesmo que recuse retirar conclusões nacionais e falar em legislativas antecipadas, sabe que a partir de agora começou de facto a disputa nacional pela hegemonia do centro-direita. Como recorda no jornal Ara Antoní Bassas, acaba de confirmar-se o desejo do presidente do Banco Sabadell, Josep Oliu, quando afirmou que “tinha de ser criado um Podemos de direita”.

Oriol Junqueras

A ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) quis concorrer sozinha porque desde 2012 a maioria das sondagens lhe antecipavam uma vitória folgada. Com Oriol Junqueras na prisão e Marta Rovira, secretária-geral do partido, a fazer as vezes de líder, a ERC alcança até o seu melhor resultado de sempre, perdendo para a Juntos pela Catalunha o lugar de maior força independentista por uns meros 12 mil votos. Pareciam mais, na Estação do Norte, onde as poucas centenas de militantes não conseguiram animar-se nem com a revalidação da maioria do bloco soberanista. Rovira só os pôs a gritar por curtos momentos quando disse: "Oriol, que nos está a ver da prisão”. A dirigente também lembrou que há “metade do governo no exílio”, mas não ficou bem à ERC ter recusado coligar-se com o presidente que afinal ainda considera legítimo, depois de o ter pressionado a declarar a independência.

CUP

A Candidatura de Unidade Popular concorre pela terceira vez apenas a eleições autonómicas (antes tinha implantação municipal) e sofre uma queda estrondosa: perde mais de metade dos deputados (passa de dez a quatro) e quase metade dos votos. Para o único partido que insiste na via unilateral e não aceita um novo referendo, considerando que a declaração de independência de 27 de Outubro é suficiente para começar a construir um Estado, o resultado só não é pior porque a ERC e Puigdemont se arriscam a ficar de novo reféns da sua vontade. Foi a CUP que impôs Puigdemont como presidente (em vez de Artur Mas) ou que mais o pressionou depois a não recuar – nem no referendo nem na declaração. O problema para o partido mais à esquerda do parlamento catalão é que tanto Puigdemont como a ERC já estão a namorar outro movimento para lhes permitir governar, pelo menos com a sua abstenção, o Catalunya en Comú, liderado por Xavier Domènech.

Os Comuns de Domènech

Quase que sobrevivem por poderem ainda aspirar a ter papel de árbitros – isto se as duas listas independentistas mais votadas optarem por não negociar com os intransigentes deputados da CUP – mas perdem 45 mil votos e três deputados (elegem agora oito), não esquecendo que venceram as eleições legislativas na Catalunha. Tinham e continuam a ter uma posição delicada, ao insistirem na defesa de um referendo sobre a independência mas na sua oposição à secessão. É o compromisso possível entre o Podemos nacional e o movimento que integra na Catalunha, a que desta vez se chamou Catalunya en Comú. “Não vamos participar nem passiva nem activamente na investidura de Puigdemont”, já disse o líder, Xavier Domènech, parecendo sugerir que os independentistas podem contar com a sua abstenção. Marta Rovira fez questão de falar dos “comuns” e de Domènech na noite eleitoral, afirmando que começam a “aproximar-se” e podem “cooperar no futuro”. Se houver, como parece, uma marcha atrás e nova tentativa para negociar uma consulta com Madrid, os “comuns” podem mesmo acabar por se tornar úteis no jogo político catalão.

Sobrevivente

Miquel Iceta

O líder do Partido Socialista dos Catalães e o presidente do PSOE afirmaram que os resultados (17 deputados e quase 14%, com 600 mil votos) ficaram muito longe do esperado. A questão é que as expectativas de Miquel Iceta eram demasiado ambiciosas: o socialista sonhava ter votos suficientes para quebrar a lógica de dois blocos (independentista e unionista) e se impor com uma posição intermédia em que fosse possível uma eventual aproximação aos “comuns” ou até à Esquerda. Não é que o PSC defenda qualquer tipo de referendo, apenas é mais brando do que o PP quando se trata da Catalunha (isto, apesar de ter apoiado a aplicação do artigo 155 da Constituição, com Pedro Sánchez a afirmar que tinha “confiança” em Rajoy). Esquecendo os sonhos de Iceta, é a primeira vez desde 1999 que o partido inverte a tendência de descida e a sangria de deputados – de 52, em 1999, para os 16, de 2015, quando tocou no fundo. O PSC não voltou a ser a força com apoios para sonhar governar a Catalunha em coligações, mas teve mais 80 mil votos do que há dois anos e meio e elege mais um deputado, chegando aos 17.