Cinema: o melhor do ano
Escolhas de Jorge Mourinha, Luís Miguel Oliveira e Vasco Câmara.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
10
ex aequo
Uma Viagem pelo Cinema Francês por Bertrand Tavernier
De Bertrand Tavernier
Começando com um desafio que parece de outro tempo (“Imagine que está no cinema”), Tavernier repôs não filmes antigos, mas uma expectativa essencial: de Becker a Sautet, passando por Duvivier ou Renoir, e os seus filmes sobre a solidariedade, as utopias e fracassos, o cinema é o espelho e identidade do colectivo. V.C.
10
ex aequo
Stefan Zweig — Adeus Europa
De Maria Schrader
Não é o filme biográfico da praxe, este olhar de Maria Schrader sobre o escritor austríaco. É – à imagem da própria escrita de Zweig – um olhar minucioso, atento, comovente, sobre um homem em busca de âncoras num mundo em convulsão e um escritor perdido no meio da multidão. J.M.
9
O Outro Lado da Esperança
De Aki Kaurismäki
O estado da Europa (a “crise dos imigrantes”) e um espírito rock and roll sem tempo nem idade fundem-se neste filme intrinsecamente político e deliciosamente punk que elege a solidariedade lacónica e pragmática como coração de uma proposta humanista mas não iludida – uma “outra Europa” é possível? Sim, mas só no cinema. L.M.O.
8
120 Batimentos por Minuto
De Robin Campillo
Um filme de uma energia performática jubilatória, em metamorfose, o individual transformando-se em colectivo, no histórico latejando o íntimo — encontrando-se a política contígua às zonas erógenas —, o debate dando lugar à dança. É um pedaço de vibrante pedagogia: sobre o Act Up, a militância, mas também sobre a sala de cinema. V.C.
7
O Dia Seguinte
De Hong Sang-soo
Num ano em que Hong Sang Soo estreou três filmes este foi o único a chegar ao circuito português. Menos mal. Aprecie-se o maravilhoso minimalismo do coreano, a portentosa impressão de autenticidade deste grupo de actores e personagens a remoerem affairs entre a perplexidade, o arrependimento e a paixão. L.M.O.
5
ex aequo
Good Time
De Josh & Benny Safdie
Fomos raptados por este divertimento negro e cheio de cores para o qual Ben e Josh Safdie tiveram a cumplicidade de um aventureiro director de fotografia, Sean Price Williams, e de um teen idol, Robert Pattinson. Caos familiar, violência e fantasia, os Safdie (e nós) having good time. V.C.
5
ex aequo
Aquarius
De Kleber Mendonça Filho
Com este filme snob, romântico, lúcido e resistente, Kleber Mendonça Filho oferece uma vingadora ao seu cinema, a si próprio e a nós, espectadores. A empatia, aqui, é coisa política. É de poucos a capacidade de ser património. Sonia Braga foi o nosso edifício. V.C.
4
Lucky
De John Carroll Lynch
É injusto reduzir Lucky ao “imenso adeus” de um actor como Harry Dean Stanton. Porque foi preciso um realizador – John Carroll Lynch – para tornar esta história da “pequena América” em algo mais do que apenas o “testamento cinematográfico” de Stanton. Um pequeno grande filme – ou um grande pequeno filme. J.M.
3
Paterson
De Jim Jarmusch
A dimensão ritualista do cinema de Jarmusch tem-se acentuado. Paterson é o seu expoente máximo: uma semana na vida de um aspirante a poeta. É uma sereníssima reflexão sobre a criação artística marginal, escorada num belíssimo olhar sobre a “poesia do quotidiano”. L.M.O.
2
A Cidade Perdida de Z
De James Gray
A odisseia quixótica de um aventureiro do século XX confirmou a aura de mal-amado que rodeia James Gray. Mas este requiem crepuscular por um cinema que já não existe, entre David Lean e John Huston, é um dos mais notáveis filmes americanos do ano e da década. J.M.
1
Fábrica de Nada
De Pedro Pinho
Foi uma proposta de pensamento e agitação, agora que não se consegue ler o mundo. Grande filme instável, entre o ensaio, o musical e a fábula, filmou a luta dos operários contra o fecho da sua fábrica. E montou debate sobre o lugar do trabalho e o património ideológico do século XX. Alguém acreditou. Isto é, Pedro Pinho, Luísa Homem, Tiago Hespanha, Leonor Noivo, Susana Nobre e João Matos, o colectivo por trás de Fábrica de Nada, reactivaram um pacto que talvez esteja danificado. Com uma estocada, gesto libertador e melancólico, quiseram contagiar a sala - é esse o pacto que talvez possa estar danificado. Esse cinema de contágio (porque falamos do colectivo formado pelos espectadores e do seu património) foi activado por outros títulos do ano: 120 Batimentos por Minuto, de Robin Campillo (que duplicou no ecrã, nas cenas de debate do Act Up, a sala de cinema), Aquarius, de Kleber Mendonça Filho (a empatia, uma heroína que nos representa) ou Viagem pelo Cinema Francês com Bertrand Tavernier (se nos for permitido... um link delirante entre a euforia e o pessimismo do Julien Duvivier dos anos 30 e dos operários franceses e este angustiante e vibrante filme português) V.C.