O futuro do entretenimento está na nossa sala de estar?

Bright, de David Ayer, o realizador de Esquadrão Suicida, com Will Smith como estrela principal, estreia-se esta sexta-feira mundialmente no Netflix. É um dos filmes que o serviço de streaming produziu em Ultra HD 4K e HDR e que está disponível no sistema de som Dolby Atmos. Para se ter a experiência da sala de cinema em casa.

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“Já não é preciso ser-se o Ronaldo para se ter a experiência da sala de cinema em casa”, diz Javier Foncillas, que trabalha nos Laboratórios Dolby, perante um grupo de jornalistas europeus sentados numa das salas do edifício MetaDesign, em Berlim, onde o Netflix organizou um evento para falar sobre o que entende ser o futuro na sua área de entretenimento.

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“Já não é preciso ser-se o Ronaldo para se ter a experiência da sala de cinema em casa”, diz Javier Foncillas, que trabalha nos Laboratórios Dolby, perante um grupo de jornalistas europeus sentados numa das salas do edifício MetaDesign, em Berlim, onde o Netflix organizou um evento para falar sobre o que entende ser o futuro na sua área de entretenimento.

O espanhol está a explicar que, com a evolução tecnológica, o que a Dolby conseguia fazer até aqui numa sala de cinema, quer em espectacularidade e definição de imagem (com Dolby Vision), quer em termos de sonoridade (com Dolby Atmos), pode agora ser reproduzido nas nossas salas de estar com aparelhos compatíveis. E que não é preciso ser-se o jogador mais bem pago do mundo para se conseguir ter acesso a essa qualidade.

A experiência de se estar imerso no filme que se está a ver, através de som que nos chega de todos os lados com a ajuda de colunas (sound bars) e auscultadores (que podem custar 300 euros, embora haja a partir daí várias opções de orçamentos) e de uma cor e definição que por vezes até nos pode chegar a perturbar por não estarmos habituados a tanta qualidade, já é possível de atingir num ecrã de uma Smart Tv (que suporte Ultra HD: 4k e HDR). Mas de nada adianta ter montado em casa um home theater para se aceder a entretenimento de alta qualidade se não estiverem acessíveis conteúdos. Por isso, o Netflix quer contrariar o que acontecia no passado, com o consumidor a ter muitas vezes de “esperar dois anos para usufruir plenamente da tecnologia dos novos aparelhos”, explica Greg Peters, director de produto deste serviço de streaming.

A empresa desenvolveu “relações próximas” com os fabricantes dessas tecnologias, e está a trabalhar paralelamente com os criadores de conteúdos. Promete ter filmes e séries “que mostrem e se enquadrem nessas novas capacidades técnicas dos aparelhos” no exacto dia em que estes ficam à venda. “Se os fabricantes apresentam os novos modelos 4K, teremos conteúdos em streaming para essas televisões nesse mesmo dia”, acrescenta Greg Peters.

O Netflix disponibiliza muitos filmes e séries em Ultra HD 4k e em High Dynamic Range (HDR) e mais de metade do catálogo disponível no serviço já suporta som Surround 5.1. Neste evento em Berlim, a empresa fundada nos Estados Unidos anunciou a possibilidade de acesso ao som tridimensional da Dolby Atmos desde que o consumidor tenha em casa o equipamento adequado e possua uma assinatura Premium (a mais cara deste serviço).

A salgalhada de Bright

Alguns dos títulos que suportam Dolby Atmos e já estavam disponíveis no Netflix são Okja, BLAME!, Death Note, a segunda temporada de Stranger Things (HDR), O Homem do Volante, Sem Deus, Dark e Marvel – O Justiceiro. Esta sexta-feira fica disponível a grande aposta do serviço para este Natal: Bright (HDR e Dolby Atmos), um thriller de acção realizado por David Ayer (de Esquadrão Suicida, Fim de Turno e argumentista de Dia de Treino) e escrito por Max Landis. O primeiro blockbuster do Netflix terá custado cem milhões de dólares, montante que a empresa não confirma, e conta a história de dois polícias, Ward, um humano interpretado por Will Smith, e Jakoby, um Orc interpretado por Joel Edgerton. Durante uma patrulha nocturna de rotina numa Los Angeles em que convivem diversas criaturas estranhas (como os Orcs do Senhor dos Anéis, fadas, duendes e elfos), os dois polícias têm de ultrapassar as diferenças pessoais, lutar contra inimigos e proteger uma jovem elfo interpretada pela actriz australiana Lucy Fry da perseguição da elfo Leilah interpretada pela actriz sueca Noomi Rapace.

Filme de acção, mistura realidade com fantasia e mitologia e move-se no universo de jogos de vídeo. O argumento tem muitas pontas soltas, nada ali é muito convincente, e os actores, que sabemos serem bons, parecem por vezes não saber como se encaixar em tamanha salgalhada. No entanto, visto num ecrã e numa sala preparados para HDR e Dolby Atmos, Bright torna-se suportável e ganha com isso. Apesar de as críticas que têm saído nestes últimos dias considerarem o filme desastroso, já se sabe que terá uma sequela.

Se pensávamos que o futuro do entretenimento passava unicamente pelos dispositivos móveis que podemos levar para qualquer lugar, o Netflix está a dizer-nos que afinal pode estar na nossa sala de estar. “O futuro é complicado”, diz Greg Peters entre gargalhadas, quando o questionamos sobre este assunto. “Os dispositivos móveis vão ser cada vez melhores e vão ter um papel importante mas específico na nossa vida. As televisões vão ter um papel diferente. Por causa do tamanho do ecrã e da forma como o nosso globo ocular funciona, a televisão vai continuar a ser o melhor sítio para assistirmos aos conteúdos mais bonitos, da maneira mais imersiva possível, com o melhor som. Essas novas tecnologias vão acabar por chegar aos dispositivos móveis, vamos acabar por poder ver HDR e 4K nos nossos telemóveis, mas ainda assim será menos impressionante por causa do tamanho do ecrã. Mas se este for o único aparelho que tenha consigo, e se não estiver na sua sala de estar, então é óptimo tê-lo para ter acesso.”

Um típico utilizador do Netflix usa entre três e cinco dispositivos difererentes para aceder ao serviço de streaming. Mas o que é interessante é que entre todos estes dispositivos — telemóvel, tablets ou computadores — a televisão continua a ter um papel especial na forma como assistimos a programas de entretenimento. “Sabemos isso porque, na Europa, mais de 60% das horas que os nossos assinantes passam a ver os nossos conteúdos são através de dispositivos categorizados como televisão. Isto faz sentido. O telemóvel é perfeito quando estamos em viagem, quando temos momentos livres e estamos à espera de alguma coisa, mas é completamente diferente estar à frente de um grande ecrã, relaxado, a assistir a algo incrível. O tempo que os nossos assinantes passam em frente a uma televisão é três vezes maior do que o que passam a ver o nosso serviço no telemóvel. E os conteúdos que as pessoas vêem na televisão também são diferentes. Os conteúdos destinados à família ou os filmes de acção são mais vistos numa televisão”, explica Greg Peters.

Em Portugal, o streaming do Netflix em TV está a liderar, com 51% horas de visualização, e a box, muitas vezes em 4k, está em primeiro lugar como sendo o dispositivo mais popular, seguido pelas Smart Tv e pelos dispositivos de streaming como Apple Tv, Roku ou Chromecast, e ainda através de consolas de videojogos como a Xbox e a PlayStation. 

"As pessoas sempre gostaram de ver televisão e não se prevê que esse comportamento mude tão cedo", conclui Greg Peters.  

O PÚBLICO viajou a convite do Netflix