Pop: o melhor do ano
Escolhas de Gonçalo Frota, João Bonifácio, Mariana Duarte, Mário Lopes, Nuno Pacheco, Pedro Rios e Vítor Belanciano.
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30
Arca
XL Recordings, distri. PopStock
Existe algo de ritualístico nesta música, com espasmos electrónicos, configurações retorcidas, ritmos que parecem vidro partido e as sombras misteriosas que se vão desenhando no horizonte a fazerem parte da mesma fascinante teatralização romantizada. V.B.
29
Ermo
Lo-fi Moda
NorteSul
Um álbum de pulsão urbana, onde agitação e euforia convivem com solidão e neurose, em que as luzes faiscantes dos néons brilham num momento para se apagarem no seguinte – e a escuridão que sobrevém pode ser refúgio salvador ou desespero que se acentua. M.L.
28
Kamasi Washington
Harmony Of Difference
Young Turks, distri. PopStock
Ao segundo disco mantém intactas as propriedades que seduziram ao primeiro acometimento: uma música que consegue ser tão comunicativa quanto complexa, evocativa do passado do jazz mas não ficando refém dele, numa combinação de ambientes, harmonias e ritmos que se sustentam em rede, produzindo um belo mapa sonoro ancorado no jazz. V.B.
27
King Gizzard & The Lizard Wizard
Flying Microtonal Banana
Heavenly Records, distri. Popstock
O que mais impressiona é como nada soa maturado, como não parece haver qualquer intelectualização do conceito a que a banda se propôs. Do início ao fim podemos ignorar todas as pontes que os setes australianos estão a construir, podemos pôr de parte o trabalho de taxidermia musical e entregarmo-nos ao efeito puramente físico que esta música tem em nós. M.L.
26
Alvvays
Antisocialites
Transgressive
Antisocialites, o segundo disco dos canadianos Alvvays é isso: aquele estado entre a dormência e a euforia, associado ao fim de qualquer coisa, quando a noite entra porta adentro mas ainda nos agarramos à escassa luz que morre nas frestas da persiana e esse bocadinho de luz ganha foros de sistema solar. J.B.
25
Kelly Lee Owens
Kelly Lee Owens
Smalltown Supersound, distri. PopStock
Ao primeiro álbum cria de imediato o seu próprio universo sonoro, entre a canção pop sonhadora e a austeridade electrónica, num todo que resulta fluido, orgânico e atmosférico. As composições conseguem ser em simultâneo fantasistas e de impacto certeiro. V.B.
24
Thundercat
Drunk
Brainfeeder
Drunk é relaxado e lúdico, indiferente às regras mas sem aquela presunção de quem está a querer inventar um jogo novo. O jazz é a raiz mas é coisa de brincar, não um livro sagrado que é preciso replicar. J.B.
23
Avey Tare
Eucalyptus
Domino, distri. Pias
Avey Tare cria música de vigília, reúne e sobrepõe sons que organiza em canção, pega naquilo que gravou em bruto, curtas melodias à guitarra acústica, e transforma-as, distende-as, dá-lhes um corpo que as torna mais próximas do sentimento que terá atravessado o momento da criação. M.L.
22
Nídia
Nídia É Má, Nídia É Fudida
Príncipe Discos
Nídia continua a driblar entre a funcionalidade e a disfuncionalidade rítmica, gerando novos sons, pregando rasteiras ao ritmo biológico dos corpos. Sempre em temas curtos, directos ao assunto, prontos para injectar adrenalina. M.D.
21
Kelela
Take Me Apart
Warp, distri. Symbiose
A partir dos fragmentos de diversas linguagens urbanas (R&B, dubstep, trap, hip-hop, drum & bass) uma voz ergue-se envolvida num som atmosférico futurista capaz de criar uma nova linguagem emocional. V.B.
20
Moses Sumney
Aromanticism
Jagjaguwar, Distri. PopStock
É desses discos que se transforma num instrumento de descoberta da realidade, com a música a ter a capacidade de traduzir de forma simples e poéticas realidades complexas. Não são necessários artifícios. Basta uma voz, uma guitarra, alguns ecos e orquestrações e muito espaço. V.B.
19
Björk
Utopia
One Little Indian, distri. PopStock
Onde Vulnicura era matizado de cinzento, com horizontes claustrofóbicos e quartos de cortinas cerradas, Utopia procura a luz, o acreditar outra vez na transcendência e na possibilidade do amor. O resultado final é soberbo. Representa um novo capítulo. Um glorioso renascimento. V.B.
18
Big Thief
Capacity
Saddle Creek Records
O indie folk-rock dos Big Thief não é a invenção do fogo. Mas conjugado com esta voz e estas histórias - belíssimas, cruéis, belissimamente cruéis - é único. J.B.
17
Sílvia Pérez Cruz
Vestida de Nit
Universal
Ouvir hoje Sílvia Pérez Cruz será, porventura, uma fortuna semelhante àquela que tiveram os privilegiados que ouviram Chavela, Amália, Piaf, Violeta e até Lhasa nos seus anos áureos e disso se podem gabar para inveja generalizada. É a isso que estaremos muito provavelmente a assistir de novo neste momento. G.F.
16
Ariel Pink
Dedicated to Bobby Jameson
Mexican Summer
Ariel Pink, ao contrário de Jameson, vai sobrevivendo incólume em Los Angeles. Vive para contar o que encontra nela, na cidade que nunca existiu. Aqui criou treze canções para este disco. Reunidas, formam um álbum que ganha lugar de destaque na sua discografia. M.L.
15
Gaye Su Akyol
Hologram Ímparatorlugu
Glitterbeat Records
Em Gaye Su Akyol não há uma gota de vergonha. Apenas uma vontade de fazer música orgulhosamente turca, mas pertencente a uma Turquia construída sobre o cruzamento e as trocas das mais diversas civilizações. G.F.
14
Julie Byrne
Not Even Hapiness
Basin Rock
Há sussurros intimistas e cenários naturais idílicos e espaçosos, embora povoados por recordações, amores e desilusões, com a voz e a guitarra acústica, rodeada por reverberações, no centro da acção. É dessa forma simples e solene que Julie Byrne se guia, encaminhando-nos também. V.B.
13
Camané
Camané Canta Marceneiro
Warner Music
Amores desencontrados, fatais, desgostos, vidas dilaceradas, tudo isto passa pelos fados de Alfredo Marceneiro, iluminados por uma luz eterna, inextinguível. Neste disco a ideia é transportar todo esse universo para a voz de Camané, segundo o próprio, da forma mais espontânea possível. N.P.
12
Circuit des Yeux
Reaching for Indigo
Drag City, distri. Flur
Ao longo dos anos foi criando para si um lugar onde a exploração, feita da profundidade de música ambiental, se conjugam com a dimensão de singer-songwriter introspectiva, fundada na folk, mas este disco tem um alcance diferente, como se o que criou antes frutificasse definitivamente. M.L.
11
Amélia Muge e Michales Loukovikas
Archipelagos – Passagens
Ed. Periplus
Se PERIPLUS, o anterior álbum, estabelecia pontes (Portugal-Grécia, Ocidente-Oriente), alicerçando-se nelas, ARCHiPELAGOS estabelece-se como uma exaltante ode marítima onde múltiplas “ilhas”, pessoais e geográficas, literárias e musicais, reais e imaginárias, coexistem sem se anularem. N.P.
10
Ibeyi
Ash
XL Recordings; distri. Popstock
Após lançarem as bases para a sua música em 2015, numa súmula tão descarnada quanto bela de soul, jazz, hip-hop, música cubana e cânticos ioruba, Naomi e Lisa-Kaindé Díaz reincidem num magnífico cancioneiro de sedução. Só que a candura outrora pessoal é agora arma de combate contra tudo o que está errado à sua volta. G.F.
9
Fever Ray
Plunge
Rabid, distri. PIAS
Ao segundo álbum, a sueca Karin Dreijer (Fever Ray), mantém a dose de estranheza e familiaridade que já havia fascinado na primeira aventura, adicionando-lhe novos temas e elementos sonoros, numa atitude de desafio que não espanta quem tenha acompanhado os últimos trabalhos com o irmão nos The Knife. V.B.
8
Éme
Domingo à Tarde
Cafetra
Domingo à Tarde chega-nos consciente do país onde está e do que veio atrás, colocando Éme numa timeline de escritores de canções portugueses que vai de José Afonso a B Fachada. Ao terceiro álbum, Éme agarra no património da música popular portuguesa para olhar o presente e fazer algo seu. E sai-se gloriosamente bem, ao lado de uma banda em pico de forma. M.D.
7
Converge
The Dusk In Us
Epitaph, distri. PIAS
Um tratado de música pesada, uma monumental exibição de catarse, caos, violência e beleza. Ao nono disco, os Converge torcem o hardcore e o metal de formas excitantes e aventureiras, recusando o conforto do estatuto de veteranos, enquanto Jacob Bannon, aos berros, abre o coração à nossa frente. P.R.
6
Pega Monstro
Casa de Cima
Upset The Rhythm/ Cafetra
Casa de Cima é ardor punk e indie-rock a dialogar com os cantares polifónicos das mulheres do interior de Portugal e com a música popular do Nordeste brasileiro. É Maria e Júlia Reis a superarem-se, a mostrarem de uma forma muito própria aquilo que uma canção pode ser. Um disco singular nas vozes, nas letras, no cantar o que estava por dizer. Tanta vida, tanta música lá dentro. M.D.
5
Luís Severo
Luís Severo
Cuca Monga
Luís Severo sacode a ressaca romântica dos seus discos anteriores para falar do amor que já não é danação, da gentrificação de Lisboa, da vida adulta. São oito canções exemplares de joalharia folk sem vícios, valiosas nos detalhes, no esculpir da intimidade do tempo e das palavras. Um compositor e letrista em ascensão. M.D.
4
War On Drugs
A Deeper Understanding
Atlantic Records; distri. Warner Music
É a música da e para a grande paisagem americana. Acelera na estrada sob o céu nocturno, épica no som, intimista no canto. Tem a grandiloquência da E Street Band e um cuidado muito moderno no desenhar de um cenário musical, camada sobre camada de guitarras e sintetizadores. A Deeper Understanding é essa linguagem aprimorada de forma inspiradíssima. Impossível não seguir viagem com ele. M.L.
3
Kendrick Lamar
Damn
Interscope, distri. Universal
O rapper americano tornou-se numa das figuras mais consensuais da música popular. Ao quarto álbum, o que temos é ainda os seus conflitos, ao mesmo tempo que interroga como foi possível chegarmos aqui como comunidade. A maior diferença é musical. Dir-se-ia que os ritmos foram comprimidos até à essência, num disco que o mostra na plena posse das suas faculdades criativas. V.B.
2
Aldina Duarte
Quando se Ama Loucamente
Sony Music
Poucos discos haverá tão escancarados na narração da sinuosa trajectória de uma paixão que chega de rompante e termina abruptamente. Com Pedro Gonçalves na produção, Aldina chama as dores e as alegrias, faz o luto da relação e transforma tudo – inspirada por Maria Gabriela Llansol – num fado sublime, livre e sem tempo. G.F.
1
American Dream
LCD Soundsystem
Sony Music
Os LCD Soundsystem decidiram cancelar o “final perfeito” – palavras de James Murphy – que prepararam para si mesmos e voltaram à vida. Fizeram-no em boa hora: American Dream celebra o papel fundamental que tiveram no regresso do rock à pista de dança e dá um salto em frente, rumo a outros cantos da história da pop que os nova-iorquinos tornam seus. São banda para celebrar o corpo (Other voices é um delírio punk-funk que pede ginga e Tonite bombeia alegria para as ancas) e enfrentar a sua inevitável decadência (Black screen e a lembrança do amigo Bowie, o funk bicudo de Change yr mind a lidar com a depressão do rock star retirado). São também banda para nos fazer sonhar, como mostram American dream, com pompa fúnebre de teclados celestiais, e Oh baby, balada austera, no escuro, como os Suicide faziam. James Murphy sabia que não podia voltar se não tivesse um grande disco: ei-lo na forma de dez canções sobre idade, separações, traições, a coisa pop, a morte. Um sonho americano que fascina. P.R.