Baralhar e dar de novo

Star Wars perdeu a graça que ainda tinha para se tornar na mais recente vítima da necessidade de rendibilizar um franchise com os olhos fixos nas bilheteiras.

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Ponto de ordem à mesa. O cinema já existia antes de George Lucas ter dado início à saga da Guerra das Estrelas em 1977 e continuará a existir depois da Disney decidir, num futuro mais ou menos longínquo, dar por finda a sua continuação (mesmo que talvez não na forma em que o conhecemos hoje). E uma das coisas boas que a trilogia original de Lucas tinha era a desfaçatez descomplexada com que reciclava o cinema popular de série B - as space operas, os serials em episódios, as grandes aventuras rodadas nos backlots dos estúdios – com os valores de produção e a tecnologia que não existiam originalmente. Por isso, nenhum Star Wars poderá alguma vez ser “o melhor filme de sempre” que os fãs querem desesperadamente que seja - em grande parte porque a ambição de Lucas nunca tinha sido mais do que uma enorme aventura popular em episódios.

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Ponto de ordem à mesa. O cinema já existia antes de George Lucas ter dado início à saga da Guerra das Estrelas em 1977 e continuará a existir depois da Disney decidir, num futuro mais ou menos longínquo, dar por finda a sua continuação (mesmo que talvez não na forma em que o conhecemos hoje). E uma das coisas boas que a trilogia original de Lucas tinha era a desfaçatez descomplexada com que reciclava o cinema popular de série B - as space operas, os serials em episódios, as grandes aventuras rodadas nos backlots dos estúdios – com os valores de produção e a tecnologia que não existiam originalmente. Por isso, nenhum Star Wars poderá alguma vez ser “o melhor filme de sempre” que os fãs querem desesperadamente que seja - em grande parte porque a ambição de Lucas nunca tinha sido mais do que uma enorme aventura popular em episódios.

É por aí que Os Últimos Jedi ganha aos pontos ao Despertar da Força de J. J. Abrams que relançou o franchise em 2015: Rian Johnson, cineasta com ideias próprias e um gosto enorme por desconstruir de dentro as lógicas de género (Brick, 2005; Looper – Reflexo Assassino, 2012), é o primeiro realizador depois de Lucas a regressar às origens do cinema popular. É ver como a batalha que abre o filme, com caças e bombardeiros rebeldes a atacarem os couraçados da Primeira Ordem, é tirada a papel químico dos filmes de aviação da Segunda Guerra Mundial; é ver como os diálogos revelam a espaços o humor descartável que a série perdeu por completo na sisudez mitológica da primeira trilogia. Johnson acerta no tom fluido e aventureiro e tem as referências certas. Mas tem de equilibrar isso com a demolidora lógica do franchise imposta pelos “novos patrões” da Disney, e é aí que escorrega.

Os Últimos Jedi empastela, entaramela, anda aos solavancos ao longo de uma duração desnecessariamente longa; e nesses solavancos Johnson passa a ser apenas um funcionário a baralhar as peças para dispor o tabuleiro para os próximos episódios da “saga” (porque, para além do “episódio IX” que será dirigido de novo por Abrams, já há uma nova trilogia de filmes prevista). Que Os Últimos Jedi ainda tenha a espaços frescura e enlevo suficientes para fazer pensar no original é bom; que dê o centro de gravidade (necessariamente comovente) a Carrie Fisher e a Mark Hamill é ainda melhor. Mas não chega, até porque as expectativas que a implacável máquina de promoção da Disney cria são, cada vez mais, impossíveis de cumprir.

Não é possível voltarmos ao lugar onde fomos felizes; é humano querer tentá-lo, mas já não podemos voltar a 1977, mesmo que a espaços Rian Johnson chegue lá perto. E sair da sala com a sensação que Star Wars perdeu a graça que ainda tinha para se tornar na mais recente vítima da necessidade de rendibilizar um franchise com os olhos fixos nas bilheteiras é mau.

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