Implacável Marega com margem para continuar a surpreender

Confiança renovada e capacidade de superação sustentam segunda vida do avançado maliano no Estádio do Dragão, ao qual chegou com o aval de José Peseiro.

Foto
Marega, com um bis, foi decisivo no recente triunfo sobre o Marítimo LUSA/JOSE COELHO

Responde por diferentes alcunhas, embora “exterminador” seja aquele que melhor lhe assenta, futebolisticamente falando. Depois de uma época de maturação em Guimarães, Moussa Marega ameaça romper em definitivo com todos os arquétipos e rótulos que lhe foram colando desde que trocou o Marítimo pelo FC Porto. Aliás, fazendo uso de um dos seus inquestionáveis poderes, superou já as melhores expectativas, numa coabitação perfeita com outra força da natureza do ataque dos “dragões”, a arrasar defesas e a estabelecer novos máximos pessoais ao lado de Aboubakar, somando ambos 12 golos na Liga.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Responde por diferentes alcunhas, embora “exterminador” seja aquele que melhor lhe assenta, futebolisticamente falando. Depois de uma época de maturação em Guimarães, Moussa Marega ameaça romper em definitivo com todos os arquétipos e rótulos que lhe foram colando desde que trocou o Marítimo pelo FC Porto. Aliás, fazendo uso de um dos seus inquestionáveis poderes, superou já as melhores expectativas, numa coabitação perfeita com outra força da natureza do ataque dos “dragões”, a arrasar defesas e a estabelecer novos máximos pessoais ao lado de Aboubakar, somando ambos 12 golos na Liga.

Apesar do tratamento, “Lord” Marega não nasceu em berço de ouro nem herdou dotes como os do companheiro Brahimi, que o maliano garante ser o verdadeiro “ás” da companhia. E isso tornou-se evidente no último clássico, no qual revelou a face mais primitiva, ainda por lapidar. O diamante bruto que o Marítimo descobriu para colmatar a saída de outro gigante, o nigeriano Maazou — igualmente Moussa —, acaba, por ironia do destino, de obliterar a defesa do clube que o acolheu no futebol português.

E isso, em futebol, é suficiente para apagar a imagem deixada na frustrante exibição frente ao Benfica, em que esbanjou duas oportunidades de ouro para o FC Porto dominar em absoluto o rival da Luz. Reparos que remetem para as declarações de técnicos e dirigentes com quem trabalhou nos modestíssimos clubes franceses onde começou a escrever a própria história no futebol mundial. Uma história de grandes fragilidades técnicas, compensadas com a força da mente e do físico.

“Grande humildade”

Marega cultiva um estilo directo, incisivo, explosivo, indómito, como se viu no último FC Porto-Marítimo. E isso basta-lhe. Essa é a magia do atacante, que de lateral direito saltou para o meio-campo antes de se fixar no ataque, onde encarna como poucos o papel de carrasco.
Olhando para trás, Marega pode agora afirmar que o trabalho e a perseverança compensam, mesmo que tenha passado algumas provações. José Peseiro desempenhou um papel fundamental ao sancionar a contratação do então maritimista, que, apesar do grande potencial que já revelava, ainda hoje tem margem para continuar a surpreender.

"Dei a minha opinião e o aval para o FC Porto avançar e garantir o Marega. Infelizmente, o momento da equipa não era o mais favorável para uma adaptação tranquila. O peso da camisola e a exigência dos adeptos foram notórios. Ainda assim, teve oportunidade para jogar e mostrar uma grande humildade e capacidade de trabalho”, recorda José Peseiro, em declarações ao PÚBLICO.

“Depois, as circunstâncias mudaram e o FC Porto acabou por ceder o Marega, ao contrário do que estava previsto. Mas não restam dúvidas de que o empréstimo ao Vitória acabou por beneficiá-lo, pois tornou-se num jogador importante dentro da estrutura, ganhou a confiança de que necessitava para poder evoluir num clube onde a pressão e a exigência são igualmente enormes. O Pedro Martins e o Vitória tiveram muito mérito no crescimento do Marega, que agora regressou ao FC Porto mais capaz e apto a impor-se, já numa conjuntura diferente, fruto do trabalho que está a ser desenvolvido pelo Sérgio Conceição e por toda a equipa”, concede Peseiro.

Temperamento forte

De todo o modo, o técnico português (que desde a saída do FC Porto treinou o Sp. Braga e o Al Sharjah) não deixa de confessar admiração pelo salto quântico do maliano. “Ninguém pode afirmar que o Marega não está a surpreender. Eu, pelo menos, não vou dizer que já sabia ou esperava que ele conseguisse apresentar-se a este nível. Basta ver os dois últimos golos, com o pé esquerdo… Mesmo sabendo de todo o potencial — e por isso dei o meu parecer favorável à contratação —, não deixa de ser surpreendente. Mas, mais uma vez, isso advém da confiança que foi conquistando, da grande humildade e da perseverança”, atesta José Peseiro.

Para trás, ficam já fragmentos de um trajecto que sulcou traços de carácter, atestado por alguns episódios bem conhecidos dos portugueses, como a expulsão ao serviço do V. Guimarães, à 10.ª jornada (quando somava já dez golos). Sair de campo aos 25 minutos, com um vermelho directo, e abandonar o estádio com o jogo ainda a decorrer, foi, provavelmente, o episódio mais sintomático do que referira Ivo Vieira, técnico de Marega no Funchal, ao revelar o temperamento forte do avançado, característica que no FC Porto parece perfeitamente controlada.

Esse parece ser, de resto, um dos segredos do novo técnico, conhecido pelo carácter indomável e frontal. Os tempos de angústia do maliano, passados no ginásio, durante o consulado de Nuno Espírito Santo, parecem cada vez mais longínquos. De quase dispensáveis a nucleares, Marega, Aboubakar e até Brahimi — o único com capacidade para driblar o destino — surgem cada vez mais fundidos com o espírito do novo “dragão”, livres para atacar o futuro.