Pedro Sobrado será o novo presidente do Teatro Nacional São João
O actual responsável do departamento editorial do TNSJ irá suceder a Francisca Carneiro Fernandes, cujo mandato terminou em Novembro.
Unanimemente elogiado pelo seu trabalho como responsável pelo departamento editorial do Teatro Nacional de São João (TNSJ), no Porto, Pedro Sobrado é o nome escolhido pelo secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, para suceder a Francisca Carneiro Fernandes na presidência do conselho de administração da instituição .
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Unanimemente elogiado pelo seu trabalho como responsável pelo departamento editorial do Teatro Nacional de São João (TNSJ), no Porto, Pedro Sobrado é o nome escolhido pelo secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, para suceder a Francisca Carneiro Fernandes na presidência do conselho de administração da instituição .
Os trabalhadores do teatro já foram informados da decisão pela actual administração, cujo mandato terminou em Novembro, mas a Secretaria de Estado da Cultura não confirmou ao PÚBLICO esta nomeação, que só deverá ser publicamente anunciada em Janeiro.
Sem grande notoriedade pública, mas bem conhecido de todos quantos colaboraram ao longo dos últimos anos nas produções do TNSJ, Pedro Sobrado não só coordena, com os seus colegas do departamento de Edições, João Luís Pereira e Ana Almeida, os já célebres Manuais de Leitura que acompanham as encenações da casa – “são quase monografias sobre as peças”, elogia o ensaísta António Feijó, colaborador regular do teatro portuense –, como contribui frequentemente para as próprias dramaturgias dos espectáculos. Colaborou, por exemplo, em Al mada nada, encenado por Ricardo Pais, e em sucessivas encenações do actual director artístico do TNSJ, Nuno Carinhas, como as peças vicentinas Breve Sumário da História de Deus e Alma ou, mais recentemente, Os Últimos Dias da Humanidade e Macbeth.
Nascido no Porto em 1976, Sobrado licenciou-se em Ciências da Comunicação, tem uma pós-graduação em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias e é mestre em Estudos de Teatro, conciliando neste momento a sua actividade no TNSJ com a docência de literatura dramática na Universidade Lusófona do Porto, onde co-dirige a licenciatura em Artes Dramáticas – Formação de Actores. E está ainda a preparar uma tese sobre o teatro religioso de Gil Vicente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Chegou ao TNSJ no ano 2000, quando o então director Ricardo Pais o convidou para ser assessor de imprensa, funções que desempenhou durante alguns anos, até integrar, em 2006, o departamento de Edições, onde assegura a coordenação editorial da colecção de textos dramáticos do TNSJ na editora Húmus, bem como outras publicações, com destaque para os já referidos Manuais de Leitura. Nestes anos de direcção artística de Nuno Carinhas (cujo mandato terminará em Outubro de 2018), tem ainda coordenado e comissariado colóquios e ciclos de conferências, assumindo também frequentemente funções de moderador de conversas e debates.
“Acho fantástico que o Pedro Sobrado seja presidente”, diz o homem que o levou para o TNSJ, Ricardo Pais. “É alguém que atravessa a vida toda daquele teatro, e que se fez ali”, observa o encenador, acrescentando: “Uma coisa que se deve dizer do Pedro é que é essencialmente um homem de teatro, ao nível administrativo, intelectual e literário, e como ‘desempenhador’ de vários métiers específicos."
Classificando-o como alguém “com uma inteligência muito acima dos QI’s que geralmente se encontram nas instituições de teatro em Portugal”, Ricardo Pais vê em Pedro Sobrado “o exemplo do que o Teatro São João pode ser, e daquilo que deve ser se quiser cumprir os princípios básicos inscritos na ideologia das leis orgânicas que definem o teatro nacional”.
O PÚBLICO ouviu ainda alguns dos colaboradores frequentes das encenações do TNSJ e dos respectivos Manuais de Leitura e programas paralelos, e o consenso em torno das qualidades profissionais e pessoais de Sobrado dificilmente poderia ser mais evidente.
“Estive envolvido em muitas iniciativas do Teatro São João, não apenas em traduções ou versões dramatúrgicas, mas também com textos para programas ou colaboração em conferências ou mesas-redondas, e o Pedro Sobrado foi muitas vezes a pessoa que articulou esses trabalhos”, diz António Feijó, que sublinha o “grande profissionalismo” do futuro presidente da administração. “Tinha uma informação muito precisa e detalhada sobre as peças e as questões a elas associadas, colocava sempre as questões certas, e tinha uma capacidade de relação com todas as pessoas envolvidas que tornava tudo mais fácil”, descreve o actual director da Faculdade de Letras de Lisboa, concluindo: “É uma excelente escolha”.
Pedro Mexia, que colaborou com o TNSJ em projectos como Endgame, de Beckett, ou Macbeth, diz que, nas funções que Pedro Sobrado vinha desempenhando, aquelas em que o conheceu e teve oportunidade de apreciar o seu trabalho, só pode “dizer o melhor”. De resto, impressionou-o o suficiente para o ter convidado a apresentar no Porto o seu último livro, Malparado: “Apresentou o livro como se fosse prestar provas de mestrado”. Uma seriedade que também reconhece na qualidade dos Manuais de Leitura que Sobrado coordena. “Ele tem uma relação muito escrupulosa com os textos”, nota, assinalando ainda outra qualidade que todos lhe parecem creditar: “Quando se conhece o Pedro Sobrado, a sua primeira marca é ser uma pessoa invulgarmente afável”.
A poetisa, ensaísta e tradutora Ana Luísa Amaral, também ela cúmplice habitual do TNSJ, em particular nos projectos shakespearianos, confirma a “intrínseca delicadeza” de Sobrado, que descreve como “uma pessoa muito ponderada e cultíssima, com interesses que vão muito para além do âmbito do teatro”. Afirmando-se “felicíssima” com a escolha, aponta o percurso de Pedro Sobrado como indício de que este “vai decerto fazer um trabalho excelente” nas suas novas funções.
Na genuína satisfação com que todas as pessoas que o PÚBLICO ouviu reagiram a esta escolha talvez se note, ainda assim, uma ligeira (e nunca expressa) perplexidade. “Imagino que agora vá ter funções diferentes”, diz Pedro Mexia. “Não sei exactamente o que faz um administrador”, reconhece Ana Luísa Amaral.