Quando vencer as eleições não é o mais difícil

Se os partidos independentistas não sabem se chegarão à maioria, podem pelo menos contar uns com os outros. O Cidadãos, de Arrimadas, só sabe que conta com o PP.

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Numa campanha absolutamente extraordinária – os jornalistas espanhóis repetem que é a “mais estranha e difícil vivida desde 1977”, na transição do franquismo para a democracia –, todos sabem que ser o mais votado no dia 21 não significa ser capaz de governar. Depois de meses de comoção, referendos e cargas policiais, ninguém quer admitir que será necessário voltar às urnas, mas também ninguém pode garantir que não seja.

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Numa campanha absolutamente extraordinária – os jornalistas espanhóis repetem que é a “mais estranha e difícil vivida desde 1977”, na transição do franquismo para a democracia –, todos sabem que ser o mais votado no dia 21 não significa ser capaz de governar. Depois de meses de comoção, referendos e cargas policiais, ninguém quer admitir que será necessário voltar às urnas, mas também ninguém pode garantir que não seja.

Nos últimos anos proclamou-se o fim do bipartidarismo em Espanha, com governos alternados entre o Partido Popular e o PSOE, mas a verdade é que não foi possível chegar a acordos e o PP de Mariano Rajoy lá governa em minoria, depois de ter tido o apoio do Cidadãos de Albert Rivera e Inés Arrimadas para ser investido. Na Catalunha tudo pode ser ainda mais complicado.

Em 2015, a coligação Juntos pelo Sim, que unia a direita do Partido Democrata Europeu Catalão (antiga Convergência) com a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) e outros pequenos partidos e independentes, ficou aquém da maioria de 68 num parlamento de 135. Mas contou com o apoio dos dez deputados da CUP (Candidatura Unitária Popular, à esquerda da ERC).

Agora, todos se apresentam sozinhos, menos o PDeCAT, que com a lista Juntos pela Catalunha junta ao partido o ex-líder da Associação Nacional Catalã, Jordi Sánchez (em prisão preventiva, acusado de “sedição”) e outros independentes. E por mais que se tente fugir à ideia dos dois blocos, o soberanista e o unionista, são essas as contas que se fazem a cada sondagem: as últimas mostram que nem um nem outro terão deputados suficientes para chegar à Generalitat.

Se a vitória couber a Inés Arrimadas, como indicam grande parte dos inquéritos mais recentes, a situação pode ser ainda mais difícil. A líder do C’s catalão só sabe que pode contar com o apoio do PP de Xavier García Albiol, muito provavelmente o partido menos votado. A incógnita é Miquel Iceta e o Partido Socialista Catalão – Iceta já disse que nunca investiria Arrimadas mas também já recusou esclarecer se o fará.

Não há impossíveis em política, mas não está fácil antecipar uma solução de governo com Arrimadas à cabeça. Mesmo porque o desaire do PP pode ter consequências nacionais – e se os partidos suspeitarem que haverá legislativas antecipadas não deixarão de fazer contas antes de decidir apoios na Catalunha. Cenário em que os socialistas terão uma decisão ainda mais difícil.