“Os homens não compreendem o que é sentir assédio diariamente”, diz Minnie Driver
Em resposta à entrevista de Matt Damon, a actriz Minnie Driver criticou a sua distinção entre os vários tipos de assédio. Numa outra entrevista, a actriz Glenn Close diz sentir-se revoltada pelas atitudes de Weinstein, ainda que ele sempre tenha sido "decente" consigo.
Depois de Matt Damon ter dito numa entrevista que não se devia misturar um apalpão com uma violação, a actriz Minnie Driver criticou a atitude do actor, considerando que este não devia dizer como é que as mulheres se devem sentir. Ao jornal britânico Guardian, a actriz Minnie Driver disse neste domingo que os homens, “muito simplesmente, não compreendem o que é sentir assédio diariamente”. Numa outra entrevista ao mesmo jornal, a actriz Glenn Close fala sobre a sua relação com Harvey Weinstein e admite ter ficado “revoltada” quando ouviu que havia uma guerra contra os homens. “Pensei ‘estão a gozar?’ O que é que acham que aconteceu contra as mulheres nos últimos séculos?”.
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Depois de Matt Damon ter dito numa entrevista que não se devia misturar um apalpão com uma violação, a actriz Minnie Driver criticou a atitude do actor, considerando que este não devia dizer como é que as mulheres se devem sentir. Ao jornal britânico Guardian, a actriz Minnie Driver disse neste domingo que os homens, “muito simplesmente, não compreendem o que é sentir assédio diariamente”. Numa outra entrevista ao mesmo jornal, a actriz Glenn Close fala sobre a sua relação com Harvey Weinstein e admite ter ficado “revoltada” quando ouviu que havia uma guerra contra os homens. “Pensei ‘estão a gozar?’ O que é que acham que aconteceu contra as mulheres nos últimos séculos?”.
A actriz Minnie Driver referia-se ao actor e realizador Matt Damon, com quem namorou e contracenou no filme de 1997, O Bom Rebelde (Good Will Hunting, no título original). Numa entrevista que deu esta semana, Damon dizia que havia uma diferença entre “acariciar alguém no rabo e uma violação ou abusos a menores”. “Estes dois tipos de comportamento devem ser eliminados, sem dúvida, mas não devem ser misturados”, disse ainda, em entrevista à ABC News, elogiando as mulheres que se chegaram à frente para contar as suas histórias.
Minnie Driver reagiu imediatamente no Twitter, criticando a forma como os homens que se manifestam sobre a diferença entre “comportamentos inadequados, assédio sexual e violação” acabam por ser “completamente surdos e, como resultado, sistematicamente parte do problema”.
“Não há nenhuma mulher que eu conheça, eu incluída, que não tenha experienciado abusos verbais e epítetos sexuais durante toda a sua vida”, disse, “ao ponto de ter a minha carreira ameaçada em diversas ocasiões por parte de homens com quem eu não aceitei ir para a cama”.
“Não há nenhuma hierarquia de assédio”, explicou ainda a actriz, argumentando que não se deve hierarquizar o sofrimento de uma mulher violada ou de uma mulher a quem foi mostrado o pénis sem que ela quisesse, como aconteceu com o comediante Louis C. K. “Não se pode dizer a essas mulheres que umas se devem sentir piores que as outras”, acrescentou, pedindo aos homens que “ouvissem” e que condenassem qualquer tipo de assédio.
Também a actriz Alyssa Milano respondeu a Matt Damon afirmando que “é o micro que faz o macro”. “Fui uma vítima de todos os tipos de assédio sexual do espectro de que falas. Todos magoaram. E estão todos conectados a um patriarcado ligado a uma misoginia normalizada, aceite – e até bem-vinda”, escreveu numa série de tweets. “Não estamos revoltadas porque alguém nos agarrou o rabo. Estamos revoltadas porque fizeram-nos acreditar que isto é normal”, concluiu.
Harvey Weinstein e a caixa de Pandora do assédio sexual
O tema do assédio sexual tem estado em cima da mesa e da esfera mediática desde que, em Outubro, começaram a surgir dezenas de acusações de assédio (e também violação) sexual contra o famoso produtor de Hollywood. Em entrevista ao Guardian, publicada neste sábado, a actriz Glenn Close diz que foi preciso existir um caso como o de Harvey Weinstein para que se notassem verdadeiras mudanças em Hollywood no que diz respeito ao sexismo.
“Eu conheço o Harvey, e ele nunca fez nada disto comigo, mas havia quem dissesse que ele era um porco. Eu não sabia que era assim tão grave, e não sei de ninguém, pessoalmente, que tenha passado por isso. Gosto de acreditar que eu poderia ter feito algo em relação a isso”, conta ao jornal britânico. E apresenta a biologia como argumento: “Parece-me que a forma como os homens trataram as mulheres desde o início dos tempos é porque têm cérebros diferentes.”
Já em Outubro, a actriz tinha dito estar triste e zangada pela “conspiração de silêncio” em torno das acções de Harvey Weinstein, confessando que há anos que ouvia rumores sobre o realizador apesar de ele sempre ter sido “decente consigo”. “O Harvey sempre foi decente comigo, mas agora que os rumores estão a ser fundamentados, sinto-me zangada e sombriamente triste”, disse ao New York Times, elogiando a coragem das delatoras.
No início desta semana, a actriz Salma Hayek escreveu um artigo no New York Times onde relata a forma como foi assediada e violentada por Harvey Weinstein, considerando que ele também era o seu “monstro”. A actriz e produtora mexicana diz que desde que começou a colaborar com Weinstein, no início da sua carreira e na produção do filme Frida, que estreou em 2002, teve de dizer “não” muitas vezes. “Não a tomar banho com ele. Não a deixá-lo ver-me a tomar banho. Não a deixá-lo fazer-me massagens. Não a deixar um amigo dele fazer-me massagens todo nu. Não a deixá-lo fazer-me sexo oral. Não a despir-me com outra mulher”, escreve no artigo.
Weinstein foi acusado por várias dezenas de mulheres – incluindo Rose McGowan e Gwyneth Paltrow – de assédio sexual ao longo das últimas semanas, mas negou todas as acusações. Aceitou, contudo, fazer sessões de terapia. As sucessivas denúncias motivaram outras mulheres (e homens) a pronunciarem-se sobre assédio sexual e violação, denunciado outras figuras públicas como Kevin Spacey e Louis C.K.
Em Novembro, foi revelado que Harvey Weinstein mantinha uma lista secreta com 91 nomes de pessoas, maioritariamente mulheres, que estava a investigar, através de detectives, para evitar a denúncia pública do seu comportamento sexual ao longo das últimas décadas — o realizador negou o recurso a qualquer agência de detectives, e disse que era “pura ficção a ideia de que qualquer pessoa tenha sido alvo de espionagem".