Como não desesperar com os TPC em tempo de férias

As férias do Natal chegaram e com elas os trabalhos para casa. Como incentivar os filhos a fazê-los? O PÚBLICO ouviu alguns especialistas na matéria.

Foto
Nuno Ferreira Santos

O primeiro período lectivo terminou, mas isso não significa que as crianças e os jovens estejam completamente de férias. Muitos saem da escola carregados de Trabalhos Para Casa, os famosos TPC, e sem muita vontade. E com razão, pelo menos é o que pensam alguns dos especialistas que o PÚBLICO contactou. Para o pedagogo Renato Paiva “na grande maioria dos casos, os TPC nas férias são absolutamente desnecessários”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O primeiro período lectivo terminou, mas isso não significa que as crianças e os jovens estejam completamente de férias. Muitos saem da escola carregados de Trabalhos Para Casa, os famosos TPC, e sem muita vontade. E com razão, pelo menos é o que pensam alguns dos especialistas que o PÚBLICO contactou. Para o pedagogo Renato Paiva “na grande maioria dos casos, os TPC nas férias são absolutamente desnecessários”.

“Estudar pode não parecer uma tarefa divertida e os trabalhos de casa parecem ser uma invasão do tempo de férias”, justifica. No entanto, se os TPC são pedidos pelos professores, então devem ser feitos porque outra coisa que os pais têm de incutir é "a responsabilidade", afirma o pedagogo. A mesma opinião tem a psicóloga Teresa Espassandim, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), lembrando que aos pais cabe ajudar os filhos “a compreender e a assumir as consequências da decisão de fazer ou não fazer [os trabalhos], com autonomia”.

“Os TPC em período de férias podem ser um contra-senso, porque as crianças e adolescentes deveriam estar libertos das actividades intencionais de aprendizagem em contexto formal e deveriam brincar, explorar outras actividades”, entende Teresa Espassandim.

Maria José Araújo, professora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, defende que é “tudo uma questão de bom senso”. Se os adultos descansam nas férias, por que é que as crianças não podem fazer o mesmo? “É preciso prestar atenção aos exemplos que damos às crianças”, elucida a especialista para quem é ponto assente de que "as férias são para descansar, brincar e criar bem-estar!"

"Enquanto não se perceber isto andaremos todos a prestar um mau serviço às crianças”, realça a investigadora, acrescentando que a Convenção sobre os Direitos das Crianças, aprovada em 1989 pela ONU, estipula que elas têm “direito ao repouso, a tempos livres, a participar em jogos e actividades recreativas próprias da sua idade e a participar livremente na vida cultural e artística”. Araújo lamenta: “É sempre a condição de aluno a sobrepor-se à de criança."

Cuidado com a carga

Pedro Rosário, investigador e professor da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, não é da mesma opinião e lembra que os alunos não devem estar desligados do trabalho durante as férias. No entanto, salvaguarda que a quantidade de TPC deve ser adequada à idade da criança. "Se a carga não for adequada, vai acabar por transtornar a família e a criança”, alerta.

Também a psicóloga Rita Carreira, responsável do centro de estudos Geração +, em Lisboa, defende que "as férias são para descansar, mas a cabeça não pode parar". Desaconselha que a criança passe o dia a jogar ou a ver televisão, porque “a cabeça precisa de estímulos cognitivos”. É isso que procura fazer em tempo de férias com os miúdos que frequentam o seu centro de estudo: jogos de memória, de diferenças, dominós, etc.

Na hora de discutir sobre os TPC, os pais não devem pressionar demasiado as crianças no que toca ao desempenho. “Esta sobrevalorização dos resultados pode colocar muita pressão, mesmo que não verbalizada, e sentimentos de impotência por parte dos pais", descreve Teresa Espassandim. É importante reconhecer “os esforços e o trabalho feito pela criança ou adolescente”.

E nada de prometer recompensas recomendam os especialistas. “Isso é algo que não deve acontecer”, sublinha Renato Paiva.

Conselhos para os pais:

  1. Relaxe. Aproveite os TPC para passar algum tempo com o seu filho. Mostre que se preocupa e está ali para ele. A psicóloga Rita Carreira aconselha os pais a tornar o momento de estudo o mais agradável possível.
  2. Não se esqueça de ver se a carga de TPC e o espaço de trabalho são adequados, aconselha Pedro Rosário. Não deixe que as férias desorganizem a rotina do seu filho. É preciso ajudá-lo a manter a rotina com horas certas para comer, estudar, etc. “As férias são uma oportunidade para descansar, para quebrar a rotina, mas não todas as rotinas”, defende.
  3. Articule com os miúdos quando fazer os TPC e fazer uma planificação. “Assim torna-se mais simples de, ao final do dia, perceber se foram ou não cumpridos. Se é um compromisso, os pais podem desde logo colocar orientações específicas do que pode acontecer em caso de incumprimento”, sugere Renato Paiva.
  4. Evite conflitos com os filhos para que os TPC não estraguem o Natal e as férias. Por isso, tenha paciência, aconselha Maria José.
  5. E quando fazer os TPC, no princípio, no meio ou no fim das férias? “Não há receitas mágicas”, diz. Mas existe uma coisa muito importante: ensinar o seu filho a ser responsável. Lembre-se que o seu filho precisa de tempo livre para outras coisas que não a escola. Por isso, não se esqueça que há um tempo para tudo!