Conservadores entregam diplomacia e segurança interna à extrema-direita
Quase duas décadas depois, a extrema-direita anti-imigração volta a entrar num Governo austríaco. Líder do FPÖ promete cooperar com a UE.
A extrema-direita austríaca garantiu pastas decisivas no novo executivo liderado pelos conservadores, incluindo a Defesa, os Negócios Estrangeiros e a Administração Interna, mas promete cooperar com Bruxelas. A Áustria contraria assim a tendência europeia e permite que o crescimento eleitoral da extrema-direita se traduza em poder governamental.
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A extrema-direita austríaca garantiu pastas decisivas no novo executivo liderado pelos conservadores, incluindo a Defesa, os Negócios Estrangeiros e a Administração Interna, mas promete cooperar com Bruxelas. A Áustria contraria assim a tendência europeia e permite que o crescimento eleitoral da extrema-direita se traduza em poder governamental.
O acordo entre o Partido Popular (ÖVP, na sigla original) e o Partido da Liberdade (FPÖ) anunciado na sexta-feira à noite e formalizado este sábado não é surpreendente. Com a exclusão de uma renovação da “grande coligação” com os sociais-democratas, aos conservadores restava apenas a hipótese de negociar um entendimento com a extrema-direita.
Porém, já durante a campanha eleitoral, as posições do candidato a chanceler, Sebastian Kurz, se tinham aproximado do programa do FPÖ. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu o fim da “imigração ilegal” e expôs receios de que se esteja a criar no país uma “sociedade paralela” entre a comunidade muçulmana. O líder do FPÖ, Heinz-Christian Stracher, chegou mesmo a acusar os conservadores de plagiarem o programa do seu partido.
A composição do novo Governo permite à extrema-direita controlar áreas muito sensíveis, como a diplomacia ou a segurança interna, onde a sua agenda anti-imigração e eurocéptica pode ser posta em prática. No discurso de apresentação do Governo, Strache quis, no entanto, deixar uma mensagem tranquilizadora para Bruxelas: “Iremos contribuir como um parceiro activo e confiável para o desenvolvimento da União Europeia.” A partir de Junho do próximo ano, a Áustria vai assumir a presidência rotativa da UE.
Strache não escondeu que defende o levantamento das sanções económicas aplicadas pela UE à Rússia – o FPÖ tem laços próximos com o Rússia Unida, no poder – mas admitiu que Viena irá apoiar a posição maioritária no seio dos 28 Estados-membros.
Os novos ministros
O executivo será chefiado por Kurz, que, aos 31 anos, torna-se o mais jovem chefe de Governo no mundo e Strache será designado vice-chanceler. À frente da diplomacia vai ficar Karin Kneissl, uma independente trazida para o Governo pela mão da extrema-direita, muito crítica da política de "portas abertas" aos refugiados sírios defendida pela chanceler alemã Angela Merkel.
A Administração Interna fica nas mãos do secretário-geral do FPÖ, Herbert Kickl, uma peça-chave na organização do partido e que terá o papel delicado de chefiar as forças policiais austríacas. A pasta da Defesa fica com Mario Kunasek, um rosto da linha dura do partido nas questões de segurança e de imigração. Kunasek defendeu a aplicação de um regime de recolher obrigatório para os requerentes de asilo e a imposição de fortes restrições no seu acesso ao serviço público de saúde, segundo a organização de defesa dos direitos humanos Mitmensch, citada pela Reuters.
Esta será a segunda passagem do FPÖ pelo governo, depois de em 2000, liderado então pelo carismático Jörg Haider, ter integrado uma coligação com os conservadores. Na altura, a inclusão da extrema-direita num governo europeu levou a UE a suspender o direito de voto da Áustria no Conselho Europeu. As sanções acabaram por ser levantadas por Bruxelas, que receava um crescimento do sentimento eurocéptico entre os austríacos.
Com este acordo de coligação, a Áustria torna-se no único país na UE a contar com uma formação de extrema-direita no Governo. Apesar de formações com programas semelhantes terem conseguido bons resultados eleitorais em vários países, têm permanecido afastadas do poder – como aconteceu em França, na Holanda e na Alemanha. Há um ano, o candidato do FPÖ às eleições presidenciais austríacas tinha já ficado muito perto de alcançar a vitória, acabando por ser derrotado na repetição da segunda volta pelo candidato dos Verdes, Alexander Van der Bellen.