A primeira vez que vi “A Guerra das Estrelas”
Quem não consegue ir à estreia tem de se ficar pelas memórias e esperar ao som de John Williams pela hora marcada
Há um concerto da Orquestra Sinfónica Nacional da Dinamarca dedicado aos 40 anos d' A Guerra das Estrelas, em que Jakob Stegelman, escritor e produtor dinamarquês, faz uma breve introdução e desencanta uma frase que talvez importe recordar: “Todas as pessoas têm dois aniversários. O dia em que nasceram tecnicamente. O aspecto científico. E o dia em que viram A Guerra das Estrelas pela primeira vez”.
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Há um concerto da Orquestra Sinfónica Nacional da Dinamarca dedicado aos 40 anos d' A Guerra das Estrelas, em que Jakob Stegelman, escritor e produtor dinamarquês, faz uma breve introdução e desencanta uma frase que talvez importe recordar: “Todas as pessoas têm dois aniversários. O dia em que nasceram tecnicamente. O aspecto científico. E o dia em que viram A Guerra das Estrelas pela primeira vez”.
O que, devo acordar, não me parece mentira. Não que faça colecção desde infância de pequenos stormtroopers, peluches galácticos ou tapetes, só porque sim. Essa colecção existe (embora sempre pequena — aceitam-se doações), mas é bem mais recente. Pode dizer-se que despertei tarde para a Força. Os cultos sempre me fizeram confusão. São sempre muito pretensiosos e raras vezes legítimos. Talvez seja por isso que demorei tanto tempo para ver, pela primeira vez, A Guerra das Estrelas — Episódio IV: Uma Nova Esperança.
Recostei-me no sofá num dia de sol a seguir ao almoço, tela cheia no computador e aí entra a música que nos ilumina (podem parar para colocar a banda sonora, eu compreendo). Conheci o Luke, a Leia, o Han, o Chewbacca e o Darth Vader, claro. Essa tarde acabou era já noite, com a trilogia original vista e com outra ideia sobre este culto galáctico: claramente justificado.
E, como em todos os cultos, há rituais que se criam. Compram-se livros, bonecos e autocolantes para o frigorífico que nunca saíram do plástico. Mas, todos os anos, chega aquele momento, entre Outubro e Novembro, em que a tradição manda começar tudo de novo e rever toda a saga. Pela ordem que nos deram, que ainda não tive coragem para me aventurar nos formatos mais esquisitos. Para conhecimento, começamos pela trilogia dos episódios IV ao VI, regressamos ao passado com os episódios I, II e III e, agora, damos um salto para o futuro no VII, VIII e, daqui a dois anos, o IX. E não digam que não faz sentido porque é muito mais bonito descobrir as histórias que ficam por contar na trilogia original, depois de saber o destino.
17 de Dezembro de 2015. A Guerra das Estrelas regressa ao cinema, filmes vistos e revistos, bilhetes comprados. Para os que não estiveram numa sala de cinema nesse regresso, imaginem um espaço onde as pessoas se sentam e os anúncios parecem ainda mais longos do que o normal. A ansiedade torna-se geral e, de repente, surge aquele primeiro som que já ouvimos repetidamente. Mas ali é diferente. Há possibilidade de lágrimas, um aplauso enorme, gritos de contentamento e ninguém se importa com o barulho — estamos todos na mesma nave.
Esta quinta-feira, 14 de Dezembro, o caminho de Rey prosseguiu, o de Leia acabou e o de Luke começou. Mas surge o problema de ter de passar a olhar cautelosamente para as redes sociais até chegar a minha sessão. Sábado, 16 de Dezembro, às 10h30. Não era a hora a que queria acordar num fim-de-semana. De todo. Mas foi o horário possível.
A rotina está marcada. Os filmes já foram vistos religiosamente em Novembro, a música já está marcada diariamente no Spotify — e aqui ao lado também — e continuo a adicionar “bonecada” (palavras da minha mãe, óbvio) à lista das melhores prendas que posso comprar para mim próprio este Natal. Sábado de manhã vou acordar cedo, colocar uma Imperial March para recordar ou a Han and Leia para me preparar.
Para quem não entende o que é a magia d' A Guerra das Estrelas, não se preocupem, ninguém vos vai condenar. Mas não vale a pena fazerem um ensaio sobre os efeitos especiais serem maus nos primeiros filmes, ser ficcional e irrealista. Nós sabemos que os primeiros efeitos não eram os melhores (para os tempos actuais), que não existem jedi (pelo menos ainda não os descobrimos) e que a Força é como uma religião. Mas é tão bom ver, ouvir e pesquisar sobre uma história tão bem desenhada que tem passado, presente e futuro. Uma história em que os ewoks só entram no final do Episódio VI: O Regresso do Jedi, mas salvam o dia. Ou passar uma trilogia irritado por perceber como surge Darth Vader. Afinal, todos gostamos de uma boa história.
Se ainda não viram o Episódio VIII: Os Últimos Jedi, antes de entrarem no cinema, pensem na primeira vez que viram A Guerra das Estrelas. E, já agora, porque não custa pedir, o meu sonho é ter um ewok como melhor amigo. Se alguém souber onde fica a Floresta da Lua de Endor, agradeço o contacto.