Nada mudou cinco anos depois de Sandy Hook. Chegou a hora de arregaçar as mangas

No dia 14 de Dezembro de 2012 ocorreu o massacre que mais chocou os EUA. 26 pessoas, entre as quais 20 crianças com seis e sete anos de idade, foram mortas a tiro. Obama prometeu mudar a política norte-americana sobre o acesso e posse de armas. Não conseguiu. Agora são os activistas que surgiram de Sandy Hook que querem entrar na política.

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Memorial às vítimas do tiroteio na escola Sandy Hook Reuters/Eduardo Munoz

Dos muitos homicídios em massa que ocorreram nos Estados Unidos nas últimas décadas, há um que ainda pesa na consciência norte-americana. No dia 14 de Dezembro de 2012, Adam Lanza, de 20 anos, entrou na escola primária de Sandy Hook, na pequena localidade de Newtown, no estado do Connecticut, e com uma arma semiautomática matou 26 pessoas, entre as quais 20 crianças de seis e sete anos. Apesar de a cada massacre haver de novo o mesmo debate sobre o controlo das armas e da violência provocada pelo seu porte, nunca o tema foi tão discutido como nas semanas que se seguiram a esse crime particularmente chocante. Contudo, como se pôde verificar nos tiroteios que ocorreram desde então, pouco ou nada mudou.

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Dos muitos homicídios em massa que ocorreram nos Estados Unidos nas últimas décadas, há um que ainda pesa na consciência norte-americana. No dia 14 de Dezembro de 2012, Adam Lanza, de 20 anos, entrou na escola primária de Sandy Hook, na pequena localidade de Newtown, no estado do Connecticut, e com uma arma semiautomática matou 26 pessoas, entre as quais 20 crianças de seis e sete anos. Apesar de a cada massacre haver de novo o mesmo debate sobre o controlo das armas e da violência provocada pelo seu porte, nunca o tema foi tão discutido como nas semanas que se seguiram a esse crime particularmente chocante. Contudo, como se pôde verificar nos tiroteios que ocorreram desde então, pouco ou nada mudou.

No dia da tragédia, o então Presidente Barack Obama disse, entre lágrimas, que os EUA já tiveram “de passar por demasiadas tragédias como esta”. Apesar de ter sido obrigado a reagir a vários tiroteios em massa, a morte das 26 pessoas em Newtown fez com que Obama desse um murro na mesa prometendo fazer tudo ao seu alcance para finalmente alterar o quadro legislativo que permite o livre acesso e venda de armas. E esse foi um dos maiores falhanços nos seus dois mandatos como Presidente dos EUA.

No dia em que o Congresso chumbou uma proposta para uma maior verificação dos antecedentes criminais e clínicos dos compradores de armas de fogo, Obama considerou esse “um dia vergonhoso para Washington”. Perante a incapacidade de convencer o seu próprio partido (os democratas tinham na altura a maioria no Senado), não restou outra opção a Obama que assinar ordens executivas – que não necessitam da aprovação do Congresso – para alargar a exigência de verificação do cadastro e do historial de problemas mentais dos compradores de armas.

Se nos corredores do Congresso a vontade de alterar o regime legislativo que permite o acesso às armas não se alterou mesmo perante a morte de 20 crianças, são os próprios familiares das vítimas, ou mesmo os cidadãos comuns, que tentam cerrar fileiras. E, cinco anos depois, deixaram de ser suficientes as manifestações, as palavras de ordem e as exigências de acção.

A comunidade de Newtown ainda hoje tenta sarar as feridas daquele dia de Dezembro e tentou, por si própria, alterar as coisas. Realizaram-se muitas campanhas pelo controlo de armas e pela segurança nas escolas, construíram-se memoriais para recordar as vítimas e uma nova escola, apoiou-se uma reforma para a saúde mental, processou-se o fabricante da arma semiautomática que foi utilizada para perpetrar o massacre e criou-se um site para se conhecer a história de vida das pessoas que sucumbiram perante os disparos de Lanza.

Como seria de esperar nenhuma destas acções resultou em alterações práticas na relação entre os norte-americanos e as armas: nos últimos dois anos registaram-se os dois homicídios em massa mais mortíferos de que há memória nos EUA (num concerto em Las Vegas já este ano e na discoteca Pulse em Orlando). E desde 2016, morreu em média mais do que uma pessoa por dia num tiroteio em massa.

Mudar de estratégia para responder à inacção

A falta de resposta política no que respeita a esta matéria fez com que os activistas pelo controlo de armas sintam agora a necessidade de mudar de estratégia. Agora, em vez de organizar eventos, manifestações ou campanhas para pressionar os congressistas norte-americanos a fazerem aprovar um novo quadro legislativo, os activistas começa a arregaçar as mangas e querem eles próprios chegar a Washington para começar a desbravar caminho.

A Reuters dá o exemplo do grupo Mães Exigem Acção, que foi criado Shannon Watts no dia a seguir ao massacre de Sandy Hooks.

Depois de mais de 400 dos seus 70 mil voluntários terem mostrado interesse em concorrer a cargos políticos, a organização começou a treiná-los para enfrentar as campanhas eleitorais e chegar a cargos políticos. Este ano, nove de 13 voluntários que concorreram a eleições venceram nas urnas, incluindo um assento parlamentar no estado de New Hampshire ou no conselho da cidade de West University Place, no Texas. Outros 14 voluntários já manifestaram a sua vontade de concorrer às variadas eleições em 2018 – para o Congresso, para os parlamentos estaduais ou para os governos locais. Todos eles vão às urnas pelo Partido Democrata.

“A realidade é a de que o trabalho não começa realmente no Congresso. Aí é onde acaba”, explica Watts à Reuters. “Isto é uma maratona, não um sprint”, continua. “Vão ser necessários vários ciclos eleitorais”.

Alguns exemplos das candidatas políticas do grupo Mães Exigem Acção: Lara Kennedy vai concorrer à Câmara dos Representantes dos EUA no distrito do Texas, que abrange Austin e o Norte de San Antonio; Lucy McBath, cujo filho foi morto a tiro depois de uma discussão em 2012, vai concorrer ao parlamento estadual da Geórgia; Jennifer Longdon, que em 2004 ficou ferida durante disparos aleatórios, quer ser deputada estadual no Arizona; Adrienne Kvello quer enfrentar o republicano Charlie Collins – que apoia legislação para permitir mais armas nos campus universitários, tribunais e no capitólio estadual - e candidata-se a um assento no parlamento do Arcansas.

Outro dos exemplos sobre o qual escreve a Reuters é Amber Gustafson, que tem armas e que durante toda a vida pertenceu às fileiras do Partido Republicano. No entanto, trocou para o Partido Democrata no ano passado, juntou-se ao Mães Exigem Acção e agora garante que se sair vitoriosa da sua batalha por um lugar no Senado pelo estado do Iowa vai lutar pelo controlo de armas para evitar outro Sandy Hook: “Eu sou a favor das pessoas que defendem os seus direitos consagrados na Segunda Emenda (artigo da Constituição dos EUA que prevê o direito das pessoas a possuírem armas). Mas também acredito e sei que boas leis podem realmente proteger vidas.”