Nova Praça de Espanha vai meter muita água

Estão em exposição as nove propostas para a criação de um grande parque na Praça de Espanha. Câmara promete começar as obras em 2019, mas entretanto os cidadãos são chamados a pronunciar-se.

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Todas as propostas implicam mudanças profundas na praça Daniel Rocha

Só durante o próximo ano se vai saber como será o futuro parque urbano da Praça de Espanha, mas uma coisa parece já certa: a água terá um papel central. Quase todas as propostas de desenho para aquele parque, que vão agora ser sujeitas a discussão pública, prevêem a criação de bacias de retenção e lagos ou trazer à superfície as ribeiras que atravessam aquele local e hoje se escondem por debaixo do betão.

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Só durante o próximo ano se vai saber como será o futuro parque urbano da Praça de Espanha, mas uma coisa parece já certa: a água terá um papel central. Quase todas as propostas de desenho para aquele parque, que vão agora ser sujeitas a discussão pública, prevêem a criação de bacias de retenção e lagos ou trazer à superfície as ribeiras que atravessam aquele local e hoje se escondem por debaixo do betão.

“A presença da água é fundamental”, disse o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Salgado, esta quinta-feira, depois de apresentadas as nove propostas que sobreviveram à primeira fase do concurso de concepção. Elas vão estar visíveis ao público, a partir desta sexta-feira e até ao fim de Janeiro, na galeria de exposições temporárias da Gulbenkian. Durante esse período, os cidadãos podem fazer críticas e sugestões às propostas, que depois se submetem a novo concurso. “Este local é de tal modo importante que nos parece que se justifica plenamente esta metodologia”, afirmou Salgado.

A transformação da Praça de Espanha, prometeu o vereador, deve começar no início de 2019. Já se sabe que as alterações vão ser de monta. A praça deixará de ter a forma de uma grande rotunda, as duas faixas de rodagem centrais (que ligam a Avenida Calouste Gulbenkian à Avenida dos Combatentes) desaparecem, o terminal de autocarros também. O futuro parque vai estender-se desde uma transversal da Avenida José Malhoa até à esquina da Avenida de Berna, tornando-o assim em “mais do dobro do Jardim da Estrela”, como disse Salgado em Janeiro.

A forma que o parque terá é o que se começa agora a discutir. Cada equipa defendeu o seu projecto esta quinta-feira num auditório secundário da Gulbenkian, cheio que nem um ovo.

Para Catarina Raposo, do consórcio entre os ateliês de arquitectura Ventura Trindade e Baldios, “desde cedo pareceu que trabalhar as questões da água era absolutamente fundamental”. Por isso, a equipa apostou no desenho de um pequeno vale e num sistema de clareiras e pequenos lagos que, complementados com açudes, servem para ajudar a reter a água da chuva. Sempre que há cheias em Lisboa, a Praça de Espanha é um dos sítios mais martirizados. Além do trabalho à superfície, o projecto dos dois ateliês propõe ainda a construção de um grande reservatório subterrâneo.

Jogar com a topografia do terreno, criando declives e clareiras, e plantar muitas árvores nos limites exteriores do parque, de modo a criar um efeito barreira em relação à azáfama da cidade, são propostas praticamente transversais a todos os projectos. O ateliê NPK diz querer “expandir” o “oásis urbano” que é a Gulbenkian. Propõe-se “renaturalizar a linha de água”, trazendo a velha ribeira à superfície. “É preciso alterar o paradigma da água na cidade. É bom senti-la e vê-la”, disse o responsável por este projecto.

Já a proposta do ateliê Beco da Bela Vista prevê a criação de novos acessos à estação de metro, que ficará implantada mesmo no meio do parque, e uma passadeira diagonal directa aos jardins da Gulbenkian.

O projecto de Machado Costa, Murer e Ferreira Neto distingue-se por não estar completo, propositadamente. “Nós não sabemos muito bem que tipos de usos vamos ter neste parque. Propomos que cerca de 30% do parque seja dedicado a nada, ou seja, a tudo”, disse um dos arquitectos. Isto consegue-se através de amplas clareiras “multifuncionais”, que podem constantemente ser modificadas. “A ideia é que, no fim, o projecto não seja feito só para nós, mas com os contributos de quem quer que seja.”

Há ainda propostas que se inclinam mais para um programa cultural e artístico, bebendo da vizinhança dos teatros Aberto e da Comuna, bem como da própria Fundação Gulbenkian.

“Temos um calendário ambicioso”, admitiu Manuel Salgado. Mas esta “é uma intervenção que é mesmo para executar”, garantiu. Por fim, deu uma novidade: é também para o ano que será lançado o concurso para um parque no Vale de Santo António.