Oposição venezuelana pede à Europa para vigiar eleições de 2018
Júlio Borges e António Ledezma receberam em Estrasburgo o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento atribuído pelo Parlamento Europeu, em representação da oposição democrática da Venezuela.
Os dois rostos da oposição democrática da Venezuela, Júlio Borges e Antonio Ledezma, que receberam esta quarta-feira em Estrasburgo o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento atribuído pelo Parlamento Europeu, agradeceram emocionados a distinção, que consideraram ser um importante contributo para o “resgate da democracia” no seu país, e pediram à Europa para manter o seu compromisso com os princípios do Estado de direito, da democracia e dos direitos humanos – que já não encontram na Venezuela.
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Os dois rostos da oposição democrática da Venezuela, Júlio Borges e Antonio Ledezma, que receberam esta quarta-feira em Estrasburgo o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento atribuído pelo Parlamento Europeu, agradeceram emocionados a distinção, que consideraram ser um importante contributo para o “resgate da democracia” no seu país, e pediram à Europa para manter o seu compromisso com os princípios do Estado de direito, da democracia e dos direitos humanos – que já não encontram na Venezuela.
“Que nunca mais se fale de torturados e presos políticos em países que se dizem democracias”, apelou o antigo presidente da área metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, obrigado a fugir da Venezuela depois de ter sido preso e condenado pelo regime. “Que se abram as celas e regressem os exilados, para que tenhamos Estado de Direito e uma democracia plena de oportunidades para todos”, reforçou Júlio Borges, presidente da Assembleia Nacional, cujos poderes legislativos foram assumidos pela Constituinte empossada em Agosto (e composta apenas por representantes do chavismo).
Quatro meses de manifestações de rua e protestos anti-governamentais resultaram em mais de 120 mortos e de 300 detidos, que a oposição designa como presos políticos. Os dois líderes venezuelanos evocaram as imagens da “brutal repressão das forças de segurança do Estado contra os cidadãos” e sublinharam que “as armas da república não devem ser usadas para silenciar as diferenças que podem ser dirimidas através do voto, que é o veículo para a expressão de milhões de venezuelanos".
"O voto exercido em liberdade é uma declaração de independência”, afirmou Júlio Borges.
Lembrando que o calendário eleitoral aponta para a realização de uma votação presidencial em 2018 – que o Presidente Nicolás Maduro, candidato a um novo mandato, já ameaçou vedar a candidatos de certos partidos de oposição – os líderes venezuelanos pediram que a comunidade internacional acompanhe o processo. “Pedimos à Europa e a todo o mundo livre que preste atenção a este escrutínio, que deve decorrer sem chantagens e pressões, sem repressão e com respeito pela vontade dos eleitores. Solicitamos formalmente que uma missão eleitoral do Parlamento Europeu seja enviada para acompanhar estas eleições, para servir de garantia de que sejam livres”, pediu Júlio Borges.
Numa sessão de perguntas e respostas com jornalistas, em Estrasburgo, antes da cerimónia de entrega do prémio, Borges e Ledezma repetiram que a pressão internacional é crucial para assegurar a legitimidade da eleição. “Sejamos claros: não tenho dúvidas de que a posição [do Presidente Nicolás Maduro] é não abandonar o poder em nenhuma circunstância”. Para Borges, é preciso criar pressão dentro e fora da Venezuela para que o Presidente se submeta a “um processo democrático”. Mas isso implica determinação, porque, disse, a Venezuela “não tem condições eleitorais para uma eleição presidencial [limpa]”.
Mas os dois líderes traziam uma outra mensagem concertada, sobre a necessidade de unir a oposição ao chavismo, que atravessa um momento de crise e se encontra dividida e desmoralizada. “Só unidos vamos conseguir vencer o regime que existe na Venezuela”, considerou Borges, para quem “a única coisa que [Maduro] quer é a força bruta”.
Pelo contrário, garantiu António Ledezma, a oposição quer “resolver as nossas diferenças pelo caminho cívico, democrático e legal".
"Não queremos resolver problemas nos quartéis, nem com pistolas e baionetas. Não queremos vingança mas justiça. Queremos que a Venezuela recupere a sua liberdade, e para isso propomos a via eleitoral”, disse.
Ausente da sessão do plenário, onde os discursos dos dois líderes venezuelanos foram aplaudidos de pé, esteve o grupo comunista do Parlamento Europeu – o que mereceu palavras de reprimenda e desagrado de vários eurodeputados.
Fora do plenário, eurodeputado comunista, João Pimenta Lopes, justificou a ausência classificando o prémio como uma “encenação” e uma forma de “ingerência sobre assuntos de países soberanos”. O Parlamento Europeu, contestou, laureou “pessoas que têm promovido a violência, a desestabilização económica e social no país”. À oposição, acusou-a de promover a violência nas manifestações e atribui-lhe a responsabilidade de haver “pessoas queimadas vivas, ataques a escolas e centros clínicos queimados, inclusivamente actos que resultaram na morte, infelizmente, de mais de 100 pessoas, entre Abril e Julho” e de “actos de violência contra as autoridades venezuelanas”.