Com a Just a Change, Mário passou a ter a casa como nova

Organização sem fins lucrativos juntou-se ao programa Porto Amigo e agora a ambição é reabilitar cem casas em quatro anos.

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A casa de Mário Lapa, 55 anos, continua a ser tão exígua quanto era, mas dentro das portas da pequena habitação situado numa ilha da Rua de Justino Teixeira, em Campanhã, no Porto, cabe agora uma casa-de-banho e há chão novo, paredes sem humidade e um espaço geral mais arrumado. Por cerca de nove mil euros a habitação do homem surdo-mudo parece outra, depois de um grupo de voluntários da Just a Change ter passado por ali. Esta é a primeira casa reabilitada no âmbito da nova versão do programa Porto Amigo, que conta agora com a colaboração da organização sem fins lucrativos e com financiamento comunitário. Depois de ter reabilitado pouco mais de 20 casas em oito anos, o projecto deverá intervir em cem novas habitações nos próximos quatro anos.

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A casa de Mário Lapa, 55 anos, continua a ser tão exígua quanto era, mas dentro das portas da pequena habitação situado numa ilha da Rua de Justino Teixeira, em Campanhã, no Porto, cabe agora uma casa-de-banho e há chão novo, paredes sem humidade e um espaço geral mais arrumado. Por cerca de nove mil euros a habitação do homem surdo-mudo parece outra, depois de um grupo de voluntários da Just a Change ter passado por ali. Esta é a primeira casa reabilitada no âmbito da nova versão do programa Porto Amigo, que conta agora com a colaboração da organização sem fins lucrativos e com financiamento comunitário. Depois de ter reabilitado pouco mais de 20 casas em oito anos, o projecto deverá intervir em cem novas habitações nos próximos quatro anos.

O projecto Porto Amigo nasceu em 2009, por iniciativa da Câmara do Porto e em colaboração com a Fundação Manuel António da Mota, do grupo Mota-Engil. Destinava-se aos mais idosos da cidade e prometia pequenas reabilitações capazes de melhorar a qualidade de vida e facilitar a mobilidade dos seus moradores. Oito anos depois, o Porto Amigo tem novos parceiros e novos destinatários, como Mário. Ou seja, agora podem beneficiar de obras os moradores com mais de 60 anos ou que possuam pelo menos 60% de incapacidade e vivam em situação de insuficiência económica.

É esse o caso do padeiro, que beneficia do Rendimento Social de Inserção há cerca de dois anos, segundo o assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã, José António Pinto. Foi a junta que, conhecedora da vivência “um pouco desamparada” de Mário, mas também “do carinho muito especial” de que é alvo por parte dos vizinhos, o apontou como o caso perfeito para receber a primeira intervenção da nova versão do Porto Amigo ou da Just a Change/Porto, que há quem trate o projecto por ambos os nomes.

Fundada em 2010, a organização sem fins lucrativos chegou ao Porto no início deste ano e conseguiu captar o interesse de centenas de universitários que se inscreveram como voluntários. Estudantes de Medicina ou de Direito, sem conhecimento de obras, mas que arregaçaram as mangas e seguiram à risca as instruções do mestre-de-obras contratado para o projecto, explica Simão Oom, director da operação da Just a Change/Porto.

Cumprindo, cada um, dois turnos por mês, durante um semestre lectivo, cerca de cem voluntários deram o seu contributo para transformar a casa de Mário Lapa, que nunca quis deixar a ilha onde viveu praticamente toda a vida. Simão Oom garante que, desde que haja mais parceiros e financiamento, não faltam voluntários para intervir em mais casas na cidade. Rui Pedroto, da Fundação Manuel António da Mota, está mais do que disposto a dar trabalho aos jovens voluntários, pelo que aponta, para os próximos quatro anos, “o objectivo ambicioso” de conseguir reabilitar cem casas como a de Mário.

A incentivar esta ambição está o financiamento conseguido junto do programa Portugal Inovação Social, que no âmbito da linha Parcerias para o Impacto, tem 110 mil euros para investir no trabalho da Just a Change/Porto durante três anos. Filipe Almeida, que preside ao Portugal Inovação Social – uma “iniciativa pública e pioneira”, descreve – explica que este é exactamente um dos casos de inovação social, assente em parcerias entre entidades públicas e privadas, que pode receber uma fatia dos 150 milhões do Fundo Social Europeu que o Governo destinou ao Portugal Inovação Social. Nas obras como a da casa onde mora Mário Lapa, esta instituição financia 70% dos trabalhos, ficando a Fundação Manuel António da Mota e a Fundação Calouste Gulbenkian com a responsabilidade de financiamento dos restantes 30%.

Já a Câmara do Porto apoia logisticamente o Porto Amigo e sinaliza os casos que podem beneficiar deste apoio. Já há mais uma obra pronta em Lordelo do Ouro e José António Pinto diz que, só em Campanhã, há pelo menos “20 famílias” que veriam a vida melhorar com a chegada do Porto Amigo à sua porta.

O vereador da Habitação, Fernando Paulo, não sabe ainda dizer quantas famílias em toda a cidade poderiam receber as obras do Porto Amigo, mas garante que está a ser feito um levantamento dos casos gerais, ao mesmo tempo que está a ser exigida mais intervenção da Rede Social do Porto. As juntas, diz, serão um parceiro essencial neste eixo de acção e estão previstas reuniões mensais para que a informação circule de forma mais eficaz.

Descrevendo o Porto Amigo como “mais um eixo de intervenção” na política habitacional da autarquia – que tem cerca de mil pedidos de casa em lista de espera -, Fernando Paulo salienta os méritos particulares da nova face desta experiência com quase uma década. “Mais do que resolver problemas de habitação, procura-se incluir, integrar socialmente, criando-se laços e elos de ligação com os moradores. Durante alguns meses há mais cidadania nestes locais. E, por outro lado, não desenraizamos as pessoas, que se sentem assim mais protegidas”, diz.

Com a ajuda de uma intérprete de Língua Gestual, Mário diz que sim, que está contente. Que já não está sempre doente e que tudo o que foi feito lhe melhorou a vida. Já não pinga dentro de casa, já não está tudo escuro da humidade. E tem uma casa-de-banho lá dentro.