Ano novo, administração nova no Teatro Nacional São João
2018 será ano de mudanças na instituição, que finalmente voltará a ver a sua missão enquadrada por um contrato-programa a assinar muito em breve, promete a tutela. Temporada abre com ópera e segue sob a influência de Shakespeare e Gil Vicente.
Expirado em Novembro o mandato da administração do Teatro Nacional São João (TNSJ), presidida – há já nove anos – por Francisca Carneiro Fernandes, abre-se um novo ciclo na vida da instituição, que ainda deverá ver nomeada até ao final deste ano a sua nova equipa de gestão, antecipou esta quarta-feira o secretário de Estado da Cultura, que assistiu da primeira fila à apresentação do programa do S. João para os primeiros três meses de 2018. Miguel Honrado garantiu aos jornalistas, no final da sessão, que a tutela está “a trabalhar afincadamente” para chegar a uma solução o mais brevemente possível e que em breve dará notícias.
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Expirado em Novembro o mandato da administração do Teatro Nacional São João (TNSJ), presidida – há já nove anos – por Francisca Carneiro Fernandes, abre-se um novo ciclo na vida da instituição, que ainda deverá ver nomeada até ao final deste ano a sua nova equipa de gestão, antecipou esta quarta-feira o secretário de Estado da Cultura, que assistiu da primeira fila à apresentação do programa do S. João para os primeiros três meses de 2018. Miguel Honrado garantiu aos jornalistas, no final da sessão, que a tutela está “a trabalhar afincadamente” para chegar a uma solução o mais brevemente possível e que em breve dará notícias.
É de esperar, portanto, que seja já o próximo conselho de administração a assinar o novo contrato-programa que enquadrará a actividade do S. João no próximo triénio. Francisca Carneiro Fernandes lembrou que desde 2009 o TNSJ está privado de um “instrumento” que o secretário de Estado diz ser “fundamental antes de mais para o trabalho de planeamento artístico” que este e os outros dois teatros nacionais, D. Maria II e São Carlos, têm por missão desenvolver. Os três contratos-programa, que foram “intensamente” discutidos com as respectivas administrações, até porque há especificidades artísticas e "geográficas” a ter em conta, estão a ser “ultimados” – “final feliz” à vista, prometeu o secretário de Estado.
O novo documento, adiantara antes a presidente do conselho de administração, é “bastante mais concreto” do que o anterior na fixação dos objectivos do S. João e das condições de que este disporá para os cumprir, o que “é uma boa notícia” – mas as notícias ainda poderiam ser melhores, considerou, lembrando que o teatro esperou demasiado tempo para ver “finalmente a indemnização compensatória para 2018 atingir o nível que tinha em 2010”. O anunciado reforço orçamental, lamentou, ainda “não é suficiente” para garantir melhores condições aos trabalhadores e colaboradores da casa”, “reforçar a produção própria” e intensificar a presença internacional do TNSJ. Mesmo assim, a equipa voltou a conseguir em 2017 os “pequenos milagres” de fazer crescer o volume de público (mais de 79 mil espectadores, contra os menos de 66 mil do ano passado), a percentagem de bilhetes vendidos (79%) e a taxa de ocupação das três salas que tem a seu cargo (88%). Um esforço que, naquele que terá sido o seu último discurso como número um da casa, Francisca Carneiro Fernandes fez questão de reconhecer mesmo no fim da conferência de imprensa, e antes de uma enorme salva de palmas.
Vicente, Shakespeare e Camilo
Entretanto, noutra frente, longe das negociações de bastidores dos corredores ministeriais, a vida do S. João para os primeiros três meses de 2018 está já bem mais definida. O programa apresentado esta quarta-feira no Salão Nobre abre a 5 de Janeiro com a vinda ao Porto de The Rape of Lucretia, de Benjamin Britten, co-produção com o Teatro Nacional de São Carlos que ressuscita uma anterior encarnação da sala da Praça da Batalha, o Real Teatro de São João (1789-1908), principal – quando não única – casa de ópera da cidade até perto do final do século XIX (Camilo Castelo Branco, que esta temporada do S. João também ressuscita, foi dos seus mais inflamados frequentadores). Nuno Carinhas, o director artístico do TNSJ, sublinhou “a boa notícia” que é também voltar a acolher uma encenação “do extraordinário e muito querido” Luis Miguel Cintra” nesta primeira operação partilhada com o São Carlos.
A seguir haverá Gil Vicente, um dos autores mais presentes ao longo deste trimestre – de 17 a 21 de Janeiro, o Teatro Carlos Alberto (TeCA) recebe Embarcação do Inferno, o já muito viajado espectáculo com que a Escola da Noite, de Coimbra, e o CENDREV, de Évora, continuam a festejar os 500 anos, cumpridos em 2016, da “muito provável primeira apresentação” do Auto da Barca do Inferno. Esclarecendo que esta nova abordagem à obra mais popular de Gil Vicente se viu contagiada pela tradição popular dos Bonecos de Santo Aleixo, António Augusto Barros, um dos seus encenadores, manifestou o desejo de que possa constituir para os espectadores do S. João “uma discreta invenção” – devidamente enquadrada por um programa paralelo “para vicentistas e não-vicentistas” que inclui duas oficinas e uma conferência por José Augusto Cardoso Bernardes, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e director da respectiva Biblioteca Geral.
Tal como Gil Vicente, outra figura muito da casa, William Shakespeare, volta esta temporada a assombrar o S. João: de 21 de Fevereiro a 11 de Março, a reposição de Macbeth, na encenação de Nuno Carinhas que teve a sua estreia em 2016 e está agora em cena no D. Maria, em Lisboa, “com casa esgotada até ao fim da carreira”, activa uma oficina criativa e uma conferência de Michael Dobson, director do Shakespeare Institute, sobre a imensa descendência (artística, literária, filosófica) do casal Macbeth (24 de Fevereiro).
Entre as estreias absolutas que passarão este trimestre pelo TeCA, Nuno Carinhas destacou ainda a nova criação do bailarino e coreógrafo Flávio Rodrigues, que ali trará Magma – No Limite da Selvajaria, peça entre a dança, a performance e o som (15 a 17 de Fevereiro); A Longa Noite de Camilo, em que Pedro Estorninho e o TEatroensaio especularão acerca do que terá acontecido durante os 105 minutos que decorreram entre o tiro com que o escritor português se suicidou e a hora efectiva da sua morte (28 de Fevereiro a 3 de Março); e Velocidade de Escape, a sequência que o Visões Úteis dará ao recentemente estreado Teoria 5S (16 a 18 de Março). As vindas ao Porto de Elizabeth Costello, de Cristina Carvalhal, Actores, de Marco Martins, Vespa, de Rui Horta, e Nathan, o Sábio, de Gotthold Ephraim Lessing, na versão estreada no último sábado pela Companhia de Teatro de Almada, completam o programa, em que terá ainda lugar a reposição de um espectáculo histórico do Teatro de Marionetas do Porto, Óscar, comemorando os 30 anos da companhia e lembrando o seu mítico fundador, João Paulo Seara Cardoso (1956-2010).