Os atletas russos ainda não decidiram se vão a Pyeongchang

Putin não vai forçar o boicote e o COI deixou a porta aberta aos atletas que provem estar limpos. A decisão final será anunciada na próxima terça-feira.

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Vitaly Mutko e Vladimir Putin nos Jogos de Sochi em 2014 Sputnik Photo Agency/Reuters

Quando começarem a marchar as comitivas nacionais a 9 de Fevereiro de 2018 no Estádio Olímpico de Pyeongchang, na Coreia do Sul, vai faltar a bandeira da Rússia, uma das nações dominantes nos desportos de Inverno, depois de o Comité Olímpico Internacional (COI) ter anunciado a exclusão do Comité Olímpico Russo (COR) dos Jogos de Inverno do próximo ano devido a violações de doping ocorridas em Sochi 2014. Esta é uma exclusão confirmada a nível institucional, mas que não implica a exclusão de todos os atletas russos. Vladimir Putin, o Presidente da Rússia, já disse que não os irá obrigar a boicotar os Jogos coreanos e o COI deixou a porta aberta aos atletas que provem estar limpos.

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Quando começarem a marchar as comitivas nacionais a 9 de Fevereiro de 2018 no Estádio Olímpico de Pyeongchang, na Coreia do Sul, vai faltar a bandeira da Rússia, uma das nações dominantes nos desportos de Inverno, depois de o Comité Olímpico Internacional (COI) ter anunciado a exclusão do Comité Olímpico Russo (COR) dos Jogos de Inverno do próximo ano devido a violações de doping ocorridas em Sochi 2014. Esta é uma exclusão confirmada a nível institucional, mas que não implica a exclusão de todos os atletas russos. Vladimir Putin, o Presidente da Rússia, já disse que não os irá obrigar a boicotar os Jogos coreanos e o COI deixou a porta aberta aos atletas que provem estar limpos.

Mas só na próxima terça-feira, depois de uma reunião entre atletas, treinadores e federações russas, é que haverá uma decisão final, e não é claro que esta vá ser uma tomada de posição colectiva, ou sequer se haverá liberdade de escolha para cada um dos atletas. “É uma decisão muito difícil participar nos Jogos Olímpicos, porque todos sabemos o que os espera e o que vão enfrentar dos jornalistas e dos atletas de outros países. Nós não vamos impor a nossa opinião, se eles devem ir, ou não”, declarou, citado pela agência TASS, Alexander Zhukov, presidente do COR, na Duma, deixando em aberto a possibilidade de organizar uma competição alternativa para os atletas, caso estes decidam não ir a Pyeongchang.

Esta decisão do COI é a primeira exclusão olímpica de um país por doping e o organismo vai mais longe do que tinha ido nos Jogos do Rio em 2016, em que, após a divulgação das primeiras conclusões do relatório McLaren, feito por iniciativa da Agência Mundial Antidopagem (AMA), deu o poder de decisão às federações internacionais sobre a exclusão dos russos — só o atletismo e o halterofilismo se decidiram pela exclusão de equipas russas. Foi uma decisão anunciada no seguimento das conclusões da comissão liderada pelo antigo presidente suíço e membro da Comissão de Ética do COI Samuel Schmid, que descrevia um sistema de ocultação de resultados positivos de atletas russos no laboratório de Sochi durante os Jogos de Inverno em 2014, mas sem se comprometer quanto a um eventual envolvimento estatal.

“A Comissão Disciplinar do COI não encontrou provas documentadas, independentes e imparciais que confirmem o apoio ou o conhecimento deste sistema por parte das altas autoridades do Estado”, diz o relatório. Não foi tão longe como revelações anteriores, que apontavam para o envolvimento de altos responsáveis do Governo e serviços secretos russos. Ainda assim, o COI decidiu-se pela punição de vários governantes e responsáveis do desporto russo. Um deles foi Zhukov, que viu o seu estatuto de membro do COI ser suspenso, outro foi Vitaly Mutko, ministro russo do desporto em 2014, e que foi excluído do Jogos para toda a vida.

Os Jogos de Pyeongchang podem, assim, não ter nenhum representante da nação que dominou o medalheiro em Sochi há quatro anos e que tem um dos maiores palmarés nos desportos de Inverno. Em Sochi, os russos conquistaram 33 medalhas, sendo que 25 dos atletas russos (11 medalhados, cinco deles campeões) que competiram há três anos já foram banidos por violações de doping, após a investigação de uma outra comissão formada pelo COI - a organização de Pyeongchang 2018 está a aguardar pelos resultados dos recursos dos atletas banidos ao Tribunal Arbitral do Desporto para agendar cerimónias de entrega de medalhas referentes a Sochi.

Segundo um estudo da empresa de estatística desportiva Gracenote, e já tendo em conta a exclusão dos 25 atletas de Sochi, a Rússia deveria conquistar 21 medalhas, um número que iria colocar o país em quinto lugar entre as nações participantes. É, portanto, uma incógnita se estarão na Coreia atletas como Evgenia Medvedeva, bicampeã mundial de patinagem artística, ou Viktor Na, o coreano naturalizado russo que foi triplo campeão em Sochi na patinagem de velocidade e que anunciou a sua retirada após os Jogos no país em que nasceu. Se estiverem, será como “Atletas Olímpicos da Rússia” a competir sob a bandeira do COI e sem direito a bandeira e hino caso sejam campeões, uma solução semelhante ao que aconteceu este ano nos Mundiais de atletismo de Londres, em que vários atletas russos, por decisão da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), competiram como “Atletas Neutros Autorizados”.

Por avaliar está o impacto desta decisão do COI no Mundial de futebol de 2018 que será organizado pela Rússia. Se já é certo que ninguém da organização local estará envolvido no processo de recolha e análise das amostras — a agência russa antidoping e o laboratório de Moscovo estão suspensos pela AMA —, há suspeitas de que o escândalo pode não ficar por aqui. É que a AMA poderá ter informações adicionais sobre outros casos de doping, que podem implicar jogadores da selecção da Rússia que esteve no Mundial 2014.