Dustin Hoffman acusado de assédio "horrendo, desmoralizador e abusivo"
Figura afável para o grande público, é alvo de acusações de assédio em ambiente de trabalho pela terceira vez. Colegas da actriz que denunciou o caso dizem desconhecer o alegado comportamento de Hoffman.
Uma terceira mulher veio a público acusar o actor Dustin Hoffman de assédio sexual, alegadamente cometido nos anos 1980 durante a produção de uma peça na Broadway. Desta vez, e ao contrário do que aconteceu depois da denúncia da primeira das suas acusadoras, Hoffman não reagiu publicamente às acusações de a ter apalpado ou despido contra a sua vontade, por vezes em palco ou frente a câmaras, mas vários dos seus familiares e colegas da época saíram em sua defesa.
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Uma terceira mulher veio a público acusar o actor Dustin Hoffman de assédio sexual, alegadamente cometido nos anos 1980 durante a produção de uma peça na Broadway. Desta vez, e ao contrário do que aconteceu depois da denúncia da primeira das suas acusadoras, Hoffman não reagiu publicamente às acusações de a ter apalpado ou despido contra a sua vontade, por vezes em palco ou frente a câmaras, mas vários dos seus familiares e colegas da época saíram em sua defesa.
Depois de ter sido confrontado pelo apresentador John Oliver numa sessão que assinalava os 20 anos do filme Manobras na Casa Branca (Wag the Dog, 1997), onde negou ter cometido os actos de que é acusado, Hoffman vê-se novamente sacudido pelo efeito Weinstein. O actor de 80 anos, figura afável e normalmente recebida de forma calorosa pelo grande público, é pela terceira vez acusado de má conduta sexual no âmbito da vaga de denúncias e investigações que desde Outubro dominam a esfera pública de vários países.
O primeiro desses casos cruza-se com as denúncias agora feitas pela actriz Kathryn Rossetter. Esta última descreve alegados comportamentos de Hoffman que vão desde o convite a massajá-lo num quarto de hotel até apalpões repetidos, por vezes segundos antes de serem fotografados juntos como co-protagonistas da peça de Arthur Miller A Morte de um Caixeiro Viajante, em 1983, e despi-la de surpresa frente à equipa. Ou, como descreve sobre a forma como se comportaria "em quase todos os espectáculos", "seis a oito espectáculos por semana”: “Sentia a mão dele sob o meu vestido, na parte interior das minhas coxas”. “Uma noite ele começou mesmo a pôr os seus dedos dentro de mim. Noite após noite, ia para casa e chorava.”
Foi, diz, "horrendo, desmoralizador e abusivo". A história de Rossetter é contada num texto na primeira pessoa na revista Hollywood Reporter e diz respeito à peça que, dois anos mais tarde, seria transformada em telefilme. Foi nessas filmagens que a argumentista Anna Graham Hunter terá sido assediada pelo actor, segundo a denúncia que trouxe a público no início de Novembro, um mês passado sobre a eclosão do escândalo Weinstein.
Hunter também escreveu sobre o assunto na primeira pessoa na Hollywood Reporter, um dos vários formatos que têm assumido as denúncias sobre alegados comportamentos de assédio – tudo começou com duas investigações exaustivas sobre o produtor Harvey Weinstein pelo New York Times e pela revista New Yorker, a que se seguiram investigações do Los Angeles Times, do Washington Post ou das mesmas publicações sobre nomes como o produtor Brett Ratner, o político Roy Moore, o maestro James Levine ou o realizador James Toback. Outras publicações têm optado por dar voz directamente a alegadas vítimas ou por fazer entrevistas que, em alguns casos, desencadeiam vagas de denúncias ou investigações, como no caso das acusações feitas pelo actor Anthony Rapp sobre Kevin Spacey e que precipitaram queixas sobre o comportamento do actor em vários países.
Hoffman optou por não comentar estas novas acusações, que surgem acompanhadas por uma fotografia do actor a apalpar a mama de Rossetter enquanto ela sorri e parece tentar agarrar-lhe o braço. Em vez disso, encaminhou a revista de Los Angeles para várias pessoas que com eles trabalharam e que não se recordavam de tais incidentes. “Não soa verdadeiro”, diz o responsável pela produção Tom Kelly. “Dada a minha posição, é insultuoso dizer que este tipo de actividade se passaria até chegar ao ponto de violação sexual.”
Também a produtora Wendy Riss Gatsiounis (Genius) disse à Variety em Novembro que Hoffman fez um comentário de teor sexual quando ela lhe propunha um trabalho. As únicas declarações públicas do actor sobre o tema datam de Novembro, quando disse: “Tenho o maior respeito pelas mulheres e sinto-me terrível por qualquer coisa que tenha feito e que a possa ter colocado numa situação desconfortável. Sinto muito. Não reflecte quem sou." Confrontado com o tema esta semana por John Oliver, o actor disse sobre Anna Graham Hunter: “Antes de mais, não aconteceu da forma que ela relatou”; “Continuo sem saber quem ela é. Nunca a conheci.” Acusou Oliver de ter feito um “julgamento tão rápido” a partir das alegações feitas contra si e defendeu que os comentários de teor sexual eram algo “natural” naquelas décadas. “Eu disse coisas estúpidas. A equipa também disse coisas estúpidas. Fazia parte do humor. E foi há 40 anos.”
“Agora estamos em 2017. Harvey abriu uma comporta. Mas, enquanto escrevo isto, Dustin ainda parece imune”, riposta Kathryn Rossetter no texto publicado esta sexta-feira, e em que diz ainda ter-se queixado a membros da equipa, sem sucesso, e ter desistido de denunciar o caso ao Actors Equity, o sindicato dos actores de teatro, depois de aconselhada a ter cuidado com as repercussões na sua carreira.