O que é uma Intifada?

A palavra quer dizer revolta, algo para agitar, mudar, uma situação. Ligada à causa palestiniana desde a"guerra das pedras", em 1987, o Hamas apelou esta quinta-feira a uma terceira Intifada.

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Duas intifadas (revoltas) marcam a história do conflito israelo-palestiniano, e apelos a uma terceira, como o que foi feito esta quinta-feira pelo movimento islamista Hamas, têm acontecido ciclicamente – até já houve quem questionasse, há dois anos, se não estava já uma terceira Intifada em marcha.

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Duas intifadas (revoltas) marcam a história do conflito israelo-palestiniano, e apelos a uma terceira, como o que foi feito esta quinta-feira pelo movimento islamista Hamas, têm acontecido ciclicamente – até já houve quem questionasse, há dois anos, se não estava já uma terceira Intifada em marcha.

A primeira Intifada (1987-1993)

A palavra intifada em árabe tem um sentido de uma acção que faz agitar as coisas, que faz mexer. Ficou colada aos palestinianos em Dezembro de 1987 quando após uma colisão de um camião israelita com duas carrinhas levando trabalhadores palestinianos morreram quatro palestinianos. Esta foi a “guerra das pedras”, quando muitos jovens palestinianos atacaram sobretudo forças ocupantes, militares israelitas – estes receberam a famosa ordem de Yitzhak Rabin para “partir os ossos” dos revoltosos (morreram mais de mil palestinianos na repressão).

O movimento espontâneo contra a ocupação, que ganhou o apoio da liderança palestiniana, sobretudo da Fatah, a facção de Yasser Arafat, que queria conseguir um Estado palestiniano independente. A revolta ganhou alguma simpatia internacional e negociações de paz culminaram na assinatura dos acordos de Oslo em 1993.

Os acordos de Oslo deveriam ter uma aplicação faseada, e ser completados com novas negociações, mas estas vão-se arrastando sem frutos.

A segunda Intifada (2000-2004/5)

Os palestinianos estavam frustrados com a demora na aplicação do acordado e o pavio que provoca a explosão deste sentimento é uma visita do então líder da oposição Ariel Sharon ao Pátio das Mesquitas, em Setembro de 2000. Nos primeiros dias, há motins em que morrem cinco palestinianos e cerca de 200 ficam feridos. A revolta desta vez é armada, e os atentados suicidas, menos frequentes durante a primeira Intifada, tornam-se característica fundamental da segunda. Israel reocupa zonas que eram governadas pela Autoridade Palestiniana e constrói o muro ou barreira de segurança na Cisjordânia. Não houve um acontecimento que marcasse o final da segunda Intifada – há quem considere que quando morreu Yasser Arafat, em 2004, ela já estava a terminar, há quem considere 2005 como o ano do final. Por isso também é difícil contabilizar as vítimas, mas morreram cerca de 3300 palestinianos e cerca de 1300 israelitas (segundo cálculos do jornal israelita Ha’artez).   

Uma terceira Intifada?

Líderes do Hamas já declararam anteriormente uma terceira Intifada. Em 2014/2015, especulou-se se uma onda de ataques de palestinianos e árabes israelitas com veículos a atropelar pessoas em paragens de autocarro ou nos passeios, ou ataques com facas, não era já a terceira Intifada. No entanto, os ataques acabaram por se tornar mais raros e não se considerou que houvesse de facto uma revolta generalizada, tratando-se de um conjunto de ataques isolados e não apoiados pela generalidade dos palestinianos e das lideranças das várias facções, como no caso das duas intifadas.

Por isso, não basta apelar a uma Intifada para esta acontecer. É preciso uma revolta generalizada com apoio e organização das lideranças. A Fatah tem, até agora, insistido que o caminho para os palestinianos conseguirem o seu Estado independente são as negociações. Com a declaração de Trump já há vozes no movimento a defender não só a retirada de negociações como o fim da coordenação de segurança com Israel. Mohammed Dahlan, rival de Mahmoud Abbas pela liderança da Fatah, fala numa nova fase de "batalha nacional", mas uma luta "diplomática e legal".