Os sons de Lisboa em viagem pelo mundo
Um dos objectivos da Filho Único tem sido exportar os músicos portugueses com quem trabalha, e os casos de DJ Marfox e da editora Príncipe, ou de Norberto Lobo e Lula Pena, dão-lhe razão.
Em 2013, quando nos encontrámos com alguns dos activistas que constituem a editora Príncipe, na Quinta do Mocho, na zona metropolitana de Lisboa, como DJ Marfox, DJ Firmeza ou Mobuku, não era previsível que num curto espaço de tempo estivessem nas páginas da imprensa internacional de referência ou que circulassem pelo espaço global para sessões DJ, mas foi isso que aconteceu. Essa afirmação deveu-se aos criadores da música, mas também ao enquadramento e comunicação da mesma e aí, André Ferreira e Nelson Gomes, ambos da Filho Único, bem como Márcio Matos – autor das capas dos discos – e José António Moura, o núcleo da editora, têm sido essenciais.
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Em 2013, quando nos encontrámos com alguns dos activistas que constituem a editora Príncipe, na Quinta do Mocho, na zona metropolitana de Lisboa, como DJ Marfox, DJ Firmeza ou Mobuku, não era previsível que num curto espaço de tempo estivessem nas páginas da imprensa internacional de referência ou que circulassem pelo espaço global para sessões DJ, mas foi isso que aconteceu. Essa afirmação deveu-se aos criadores da música, mas também ao enquadramento e comunicação da mesma e aí, André Ferreira e Nelson Gomes, ambos da Filho Único, bem como Márcio Matos – autor das capas dos discos – e José António Moura, o núcleo da editora, têm sido essenciais.
Há cerca de dez anos quando a estrutura começou havia esse desígnio de mostrar para o exterior que em Lisboa e em Portugal se estava a fazer alguma da música mais vital que se podia ouvir por aí. Hoje pode dizer-se que esse objectivo tem sido cumprido. Não estamos a falar, evidentemente, da conquista de uma realidade massificada, mas de fatias de mercado com bastante capital simbólico. Que o diga Marlon Silva, ou seja DJ Marfox, que há uns anos atrás encarou a hipótese de dar por terminada a sua actividade, então circunscrita ao chamado circuito das discotecas africanas, e que hoje actua nos quatros cantos do mundo, do MoMA de Nova Iorque ao Institute of Contemporary Arts de Londres, passando por clubes japoneses ou chineses.
“Há cerca de dez anos que a Filho Único faz o meu agenciamento, tendo sido a primeira entidade a acreditar e a apostar em mim, ao mesmo tempo que foram capazes de levar a música da periferia para o centro de Lisboa com as noites no MusicBox e para todo o mundo, na verdade, com as minhas actuações e da Nídia, Firmeza, Nigga Fox e outros que fazem parte da editora”, afirma ele, acrescentando que, ao longo destes anos, a aprendizagem tem sido uma constante dos dois lados.
“Eu, enquanto artista, e eles, enquanto agenciadores, temos sido submetidos a novas exigências e sinto que nos temos dado muito bem com a aprendizagem e com as novas experiências. Eu com digressões por países para além da Europa, do Brasil aos Estados Unidos, e eles sabendo posicionar-me nesses sítios.”
Na maior parte das vezes viaja sozinho, mas das datas efectuadas este ano destaca uma minidigressão feita pelo Reino Unido (Londres, Manchester, Glasgow), ao lado de Nigga Fox e DJ Firmeza, com um final inesquecível na cidade escocesa. “Era domingo, havia um apetite insaciável das pessoas por nos ouvirem e quando assim acontecem coisas incríveis”, exclama, enunciando no entanto que também existem por vezes obstáculos. Este ano, recorda, passou por um momento difícil quando estava em Seul, na Coreia do Sul, e não conseguia embarcar para a China. “Mas depois de alguns telefonemas a Filho Único resolveu o problema à distância e lá segui viagem.”
Mas não têm sido apenas os agentes da Príncipe a circular pelo mundo. Numa base menos regular têm sido concretizadas digressões com muitos outros músicos portugueses que a Filho Único agencia, das Pega Monstro aos Gala Drop, passando por Norberto Lobo ou Lula Pena – embora esta seja um caso à parte, já que as muitas datas internacionais que tem efectuado este ano são da responsabilidade de uma agência internacional. “Nas primeiras vezes que marcamos datas internacionais para os nossos artistas existem sempre componentes práticas a afinar mas até agora não houve muitos amargos de boca”, refere André Ferreira, apesar de assumir que houve situações difíceis, recordando alguns desencontros entre músicos e organizações de festivais, decorrentes de alguns problemas de comunicação.
Quem também tem feito um percurso paralelo à Filho Único é Norberto Lobo. Aliás o seu primeiro álbum, Mudar de Bina, data de 2007, o ano em que a estrutura foi criada. “É verdade, sim, fomos crescendo ao mesmo tempo. Eles foram-me abrindo portas que de outra forma seriam muito mais difíceis de entreabrir”, diz-nos, recordando um percurso que foi sendo construído de forma pausada, afinal, como a própria Filho Único. “Existe um desenvolvimento mútuo e uma mesma compreensão do que é fazer música e comunica-la e isso é fundamental”, diz.
“Crescer com os artistas em quem acreditamos, dar-lhes voz, não só aqui, mas pelo mundo também, em especial na Europa onde temos uma boa rede de contactos, foi desde sempre um dos objectivos e, isso, aos poucos, tem sido possível”, enquadra André Ferreira. Entre a guitarra ondulante de Norberto Lobo, a impetuosidade rock das Pega Monstro e a adrenalina rítmica de Marfox parece existir um mundo de diferenças, mas não para a Filho Único, capaz de comunicar ao mundo que são tudo expressões singulares, mas provenientes de um contexto e de um momento histórico preciso: Lisboa, Portugal, hoje.