O ouro das estrelas foi parar ao manto da Terra
Já sabemos que a origem do ouro está relacionada com a colisão entre estrelas de neutrões. E agora também sabemos que algum desse metal precioso foi parar ao manto da Terra, tendo chegado à superfície graças aos movimentos internos do planeta.
Este ano, observou-se pela primeira vez a colisão entre duas estrelas de neutrões (que surgem da morte de estrelas bastante maiores do que o nosso Sol, a partir de oito massas). E, entre muitas outras descobertas, confirmou-se que é nesse cataclismo que parte dos elementos químicos pesados do Universo tem origem, como o ouro com que gostamos de fabricar jóias – e que, sabe-se agora, foi parar também ao manto da Terra. E chega até à superfície graças aos movimentos internos do planeta, que originam as erupções vulcânicas que lhe dão “boleia”.
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Este ano, observou-se pela primeira vez a colisão entre duas estrelas de neutrões (que surgem da morte de estrelas bastante maiores do que o nosso Sol, a partir de oito massas). E, entre muitas outras descobertas, confirmou-se que é nesse cataclismo que parte dos elementos químicos pesados do Universo tem origem, como o ouro com que gostamos de fabricar jóias – e que, sabe-se agora, foi parar também ao manto da Terra. E chega até à superfície graças aos movimentos internos do planeta, que originam as erupções vulcânicas que lhe dão “boleia”.
O manto é a camada que separa o núcleo da crosta terrestre, distanciando-se dela até 70 quilómetros de profundidade. E embora não possamos lá chegar, as erupções vulcânicas arrastam até nós, por exemplo, xenólitos – fragmentos de uma rocha encapsulada por uma outra rocha maior –, que nos permitem compreender o que por lá se passa. Foi, aliás, graças a xenólitos que investigadores internacionais encontraram partículas de ouro nativo (em estado puro), da espessura de um fio de cabelo, e conseguiram descobrir por que é que os depósitos minerais de ouro se encontram apenas em certos lugares do planeta.
O estudo, publicado na revista científica Nature Communications, sugere que a concentração muito alta de ouro no chamado Maciço do Desejado, na Patagónia argentina e onde os tais xenólitos foram encontrados, poderá estar relacionada com a singularidade do manto sob essa província. “Esta história remonta há cerca de 200 milhões de anos, quando a América do Sul e a África constituíam um único continente [a Gonduana]”, explica José González Jiménez, um dos autores do artigo científico, citado em comunicado da Universidade de Granada (Espanha). “A sua separação foi causada, entre outros factores, pela ascensão de uma pluma mantélica do manto profundo [fenómeno geológico que consiste na ascensão de um grande volume de magma], que quebrou a crosta muito mais frágil e fina. A subida da pluma mantélica profunda gerou uma verdadeira fábrica química que enriqueceu o manto com metais, o que mais tarde geraria as condições ideais para a criação de depósitos de ouro. E depois o processo foi causado pelo movimento de uma placa tectónica debaixo de outra, permitindo a circulação de fluidos ricos em metal através de fissuras, que os precipitaram até à superfície terrestre, concentrando-os aí.”
Por outro lado, os xenólitos analisados são, de acordo com o artigo científico, a primeira prova de ouro nativo no manto por baixo do Maciço do Desejado, que liga uma fonte de manto enriquecida à ocorrência de uma grande província aurífera na crosta que está por cima.
Esta descoberta científica pode contribuir para uma exploração mais avançada dos depósitos minerais, que tenha em conta imagens de superfície ou “radiografias” da crosta terrestre, mas também estude as profundezas do manto, onde um dos metais que tem encantado o ser humano foi agora rastreado. “São feitas novas propostas de trabalho”, comenta ao PÚBLICO Pedro Nogueira, do Departamento de Geociências da Universidade de Évora. “E podem ser muito interessantes para a investigação sobre a origem do ouro.” Pelo menos sobre a origem do ouro na Terra, porque a origem do ouro em si mesmo, essa está nas fases finais de vida de estrelas maiores do que o Sol, que explodem, e cujos elementos químicos foram depois reciclados no disco de gases e poeiras onde nasceu o nosso sistema solar.
Texto editado por Teresa Firmino