O meu primeiro pontapé na incubadora
Santana Lopes não foi apenas um primeiro-ministro infeliz. Foi um desastre total e absoluto que entregou o país a Sócrates.
Se conseguisse abstrair-me da pessoa que diz as coisas e me concentrasse apenas nas coisas que a pessoa diz, o meu candidato favorito à liderança do PSD seria Pedro Santana Lopes. Mas não consigo. Ainda que Santana se apresentasse aos portugueses com o programa eleitoral dos meus melhores sonhos jamais seria capaz de votar nele, e devo dizer que me é completamente incompreensível este seu avanço para a liderança do PSD, e o número de pessoas que está a ser capaz de congregar à sua volta. Santana Lopes teve a sua oportunidade em 2004 e falhou calamitosamente. Não merece tentar outra vez.
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Se conseguisse abstrair-me da pessoa que diz as coisas e me concentrasse apenas nas coisas que a pessoa diz, o meu candidato favorito à liderança do PSD seria Pedro Santana Lopes. Mas não consigo. Ainda que Santana se apresentasse aos portugueses com o programa eleitoral dos meus melhores sonhos jamais seria capaz de votar nele, e devo dizer que me é completamente incompreensível este seu avanço para a liderança do PSD, e o número de pessoas que está a ser capaz de congregar à sua volta. Santana Lopes teve a sua oportunidade em 2004 e falhou calamitosamente. Não merece tentar outra vez.
Dir-me-ão: não será ele digno de uma segunda oportunidade? A resposta é: não. Nem toda a gente merece uma segunda oportunidade. Convém não confundir a política com os evangelhos, que nos aconselha a perdoar setenta vezes sete. No desempenho de cargos profissionais ao mais alto nível não deve haver segundas oportunidades, dada a importância do que está em jogo. Se um foguetão explode nos ares, não se vai dar uma nova oportunidade ao responsável por esse lançamento, a ver se à segunda corre melhor. Se um general conduz os seus soldados para um massacre inútil, não se vai dar uma segunda oportunidade a esse general. Se um primeiro-ministro se arrasta pelo país de forma patética, acumulando casos atrás de casos, trapalhadas atrás de trapalhadas, traições atrás de traições, durante os poucos meses que está no cargo, só se os eleitores forem malucos é que lhe vão dar uma segunda oportunidade para mostrar que, afinal, da primeira vez só teve azar. Pedro Santana Lopes não foi apenas um primeiro-ministro infeliz. Foi um desastre total e absoluto que entregou o país a José Sócrates. Como é possível que o PSD tenha enlouquecido ao ponto de achar que ele pode ser o melhor candidato para enfrentar António Costa em 2019?
Algumas pessoas argumentam que o problema de Santana Lopes foi não ter legitimidade eleitoral. Herdou a pasta de Durão Barroso e não foi uma escolha directa dos portugueses. Lamento, mas a História do planeta Terra destrói esse argumento. Winston Churchill não foi eleito em 1940, quando sucedeu a Chamberlain. Harry Truman não foi eleito em 1945, quando sucedeu a Roosevelt. E não me parece que tenha faltado autoridade a qualquer um deles para liderarem os seus países durante os anos mais dramáticos de todo o século XX. O problema de Santana Lopes não foi a falta de legitimidade eleitoral. O problema de Pedro foi o princípio de Peter: ele foi promovido até ao nível da sua incompetência.
Infelizmente, não há forma de garantir que um incompetente se tenha transformado num competente 15 anos depois. Pode acontecer? Teoricamente, pode. Eu acredito que as pessoas mudam, aprendem e melhoram. Só que ao nível de primeiro-ministro – tal como na guerra, ou no lançamento do space shuttle – não dá para arriscar. É tão simples quanto isto. Não dá para pagar para ver. Mais: seria tão pesada a mochila de 2004/2005 que Santana arrastaria às suas costas, que qualquer buraco no caminho ganharia a dimensão de uma cratera. Nunca haveria estado de graça – apenas recordações da gigantesca desgraça que foram os seus oito meses como primeiro-ministro. Tudo isto me parece tão evidente, tão escandalosamente óbvio, que ver Santana candidato apenas demonstra que o PSD pós-Passos é um partido em cacos. Está tão obcecado com as lutas internas que se tornou indiferente aos interesses do país e ao seu próprio futuro.