Voz e Guitarra 3: “Estamos a fazer uma fotogaleria das canções nuas”
Vinte anos depois da primeira edição, lançada nos alvores da Expo’98, o projecto Voz e Guitarra chega esta sexta-feira ao terceiro volume, com um CD+DVD gravado ao vivo.
A primeira vez que tal projecto surgiu foi em 1997, num CD duplo editado nos 100 dias que antecederam a Expo’98. Chamava-se Voz e Guitarra e alinhava, na capa, 25 nomes. Regressou em 2013, quando o primeiro volume já tinha há muito desaparecido das lojas e dessa vez anunciava 33 nomes, também em CD duplo. Agora chega o terceiro, um CD mais DVD gravados ao vivo nas festas de Lisboa, nas noites de 3 e 4 de Julho de 2015. Costuma dizer-se que à terceira é de vez, mas nada indica que fique por aqui, até porque o cancioneiro português que alimenta o projecto está bem vivo e vai crescendo dia a dia.
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A primeira vez que tal projecto surgiu foi em 1997, num CD duplo editado nos 100 dias que antecederam a Expo’98. Chamava-se Voz e Guitarra e alinhava, na capa, 25 nomes. Regressou em 2013, quando o primeiro volume já tinha há muito desaparecido das lojas e dessa vez anunciava 33 nomes, também em CD duplo. Agora chega o terceiro, um CD mais DVD gravados ao vivo nas festas de Lisboa, nas noites de 3 e 4 de Julho de 2015. Costuma dizer-se que à terceira é de vez, mas nada indica que fique por aqui, até porque o cancioneiro português que alimenta o projecto está bem vivo e vai crescendo dia a dia.
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O que traz, então, este terceiro volume? Um CD e um DVD com 20 temas gravados nos espectáculos daquelas noites. É como se fosse possível voltar ao Terreiro do Paço (passaram por lá 60 mil pessoas nos dois dias, diz a organização) e rever o espectáculo no DVD ou simplesmente ouvi-lo no CD, já que o alinhamento é igual. António Miguel Guimarães, que teve a ideia do projecto inicial (sendo Manuel Paulo o produtor), diz na apresentação do disco que a ideia foi “incluir apenas as músicas que ainda não tinham sido apresentadas nos álbuns já editados”, ou seja, nos volumes 1 e 2 de Voz e Guitarra. Assim, no concerto gravado, ouvimos 14 vozes: Jorge Palma, Luís Represas, Sérgio Godinho e Vitorino, que só tinham participado no primeiro volume; Ana Deus, Dead Combo, João Pedro Pais, Mafalda Veiga, Márcia e Sara Tavares, que participaram apenas no segundo; Tim, que participou nos dois; e David Fonseca, Miguel Araújo e Rita Redshoes, os “estreantes”, que cantam pela primeira vez no âmbito deste projecto.
Versões próprias e alheias
Não só eles. Há ainda, nas guitarras, ao lado de Tim (a quem coube a direcção musical dos espectáculos), Mário Delgado e Moz Carrapa. Manuel Paulo, com António Miguel Guimarães, na direcção artística; e António Jorge Gonçalves, que já fizera as ilustrações para o volume 2 e aqui desenhou ao vivo, assegurando direcção visual dos concertos. E se há um peso de temas próprios (Tim, Mafalda Veiga, Dead Combo, Márcia, Sara Tavares, Ana Deus, Luís Represas, João Pedro Pais ou Sérgio Godinho só surgem no disco com temas seus), também ouvimos Jorge Palma, David Fonseca, Vitorino ou Miguel Araújo a reverem, além de temas de sua autoria, canções de outros autores: Palma canta Fausto Bordalo Dias (Foi por ela), Fonseca canta Palma (A gente vai continuar), Vitorino canta José Afonso (Traz outro amigo também) e Miguel Araújo dá voz ao Brasil, com Lamartine Babo e Ary Barroso (No rancho fundo). Não só ele: também Rita Redshoes canta um tema brasileiro: Não tenho medo da morte, de Gilberto Gil.
A importância dos músicos
Luís Represas e Mafalda Veiga cantam cada qual apenas um tema neste terceiro volume e de sua respectiva autoria: ele com Sorriso, ela com Imortais. Para ambos, a relação com a guitarra, que está na génese deste projecto, é uma constante no seu trabalho de tocar e compor. “Acaba por ser o meu habitat natural”, diz Mafalda. “Na verdade, os temas que escolhi para este projecto foram aqueles que tinham arranjos mais complexos nos discos. Preferi desmontar essas canções do que tocar outras que originalmente só tinham viola.” Luís Represas também usa a guitarra acústica como instrumento-base: “Cultivei sempre muito a minha relação com a guitarra, enquanto cantautor, não me assumindo como um guitarrista mas como alguém que se acompanha com a guitarra. Por outro lado, logo na primeira audição achei a ideia fantástica: reencaminhar as canções para o seu lado mais nu, mais próximo do ambiente em que foram compostas.”
Do concerto guardam ambos boa memória. “Misturou tudo”, diz Luís Represas. “Havia gente de várias tendências musicais, de várias gerações, gente que eu conhecia melhor, gente que conhecia pior, mais à vontade ou menos à vontade naquele registo. Foi uma reunião magna de todas as tendências e estados de alma.” Mafalda Veiga: “Houve momentos de ensaio que foi pena não terem ficado registados. De descoberta das canções e de encontro com os músicos. Houve momentos realmente incríveis e para o espectáculo foi também muito interessante. Eu pelo menos estive a ensaiar no estúdio dos Xutos e toquei com o Tim e o Mário Delgado. E essa experiência foi óptima. Porque uma das coisas interessantes na Voz e Guitarra é que não são só os cantores, são os guitarristas, o Mário Delgado, o Tim, o Moz Carrapa, músicos muito importantes na construção de muitos discos da música portuguesa ao longo destes anos.”
Sem limite no tempo
Deverá ter continuidade, um projecto assim? Luís Represas: “Nós em Portugal temos a mania de fazer projectos que param logo ali. Este não, as canções continuam a existir, provavelmente teremos de ir buscar canções que são muito mais actuais, compostas há menos tempo, contemporâneas, mas no fim de contas estamos a fazer uma fotogaleria das canções nuas, e essa fotogaleria não tem limite no tempo. Com os mesmos intérpretes ou com outros que vão aparecendo, as canções têm essa oportunidade de se mostrar com a honestidade que elas têm.”
Mafalda Veiga é da mesma opinião: “Faz todo o sentido continuar. Do ponto de vista do público, imagino eu enquanto ouvinte de um disco deste género, é sempre muito interessante ouvir as canções mais despidas e estar em contacto com a sua nudez, com a palavra e a melodia. E há tanta gente a compor tão bem, e continuará a haver – Portugal é um país de compositores e de cantautores –, que fará sempre sentido.” Luís Represas arrisca, até, uma cadência: “Uma periodicidade bienal ou trienal faz todo o sentido. E começa a ser uma questão de coleccionador: ter nas nossas estantes ou computadores toda essa informação.”