Projectos sobre tubarões e raias em Portugal partilham fundo de 100 mil euros

Primeira edição do Fundo de Conservação dos Oceanos, promovido pelo Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul, aposta na investigação de instituições portuguesas sobre espécies ameaçadas e com uma imerecida má fama.

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O tubarão-baleia é a maior espécie de tubarão Nuno Sá

Vão explorar as áreas de maternidade de tubarões à volta do arquipélago dos Açores, procurar vestígios de ADN no ambiente aquático nas Berlengas, e analisar os dados sobre a pesca de tubarões e raias na costa portuguesa para identificar pontos críticos, contando com a ajuda dos pescadores. Estes são os principais objectivos dos três projectos de investigação escolhidos para partilhar os 100 mil euros do Fundo de Conservação dos Oceanos, atribuído pela primeira vez este ano.

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Vão explorar as áreas de maternidade de tubarões à volta do arquipélago dos Açores, procurar vestígios de ADN no ambiente aquático nas Berlengas, e analisar os dados sobre a pesca de tubarões e raias na costa portuguesa para identificar pontos críticos, contando com a ajuda dos pescadores. Estes são os principais objectivos dos três projectos de investigação escolhidos para partilhar os 100 mil euros do Fundo de Conservação dos Oceanos, atribuído pela primeira vez este ano.

O Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul escolheram um dos mais conhecidos e (injustamente) temidos grupos de animais, os elasmobrânquios que incluem os tubarões e as raias, para investir na sua conservação com a primeira edição de um prémio que promete repetir-se todos os anos. O tema é “Raias e tubarões – Da escuridão para a luz da ciência” e, entre 23 candidaturas, foram escolhidos três projectos que serão apoiados com diferentes verbas.

“É um fundo para apoiar projectos científicos que contribuam para a conservação da biodiversidade das espécies marinhas. Escolhemos os elasmobrânquios que são um dos grupos mais ameaçados à escala global com o objectivo de promover um maior conhecimento da biologia destas espécies e também a procura de soluções que permitem combater as ameaças que enfrentam”, explica ao PÚBLICO Núria Baylina, directora de conservação e curadora do Oceanário de Lisboa. Assim, há três equipas de instituições portuguesas que vão mergulhar de diversas maneiras no mundo de tubarões e raias que está próximo de nós.

Procurar sinais nas águas

A maior fatia deste prémio, no valor de 49 mil euros, vai para o projecto liderado pelo MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e que envolve outras instituições de investigação portuguesas. Com a duração de três anos, a investigação FindRayShark vai procurar tubarões e raias em dois locais diferentes, nas águas dos Açores e nas Berlengas, com um método inovador que combina a tradicional vigilância com vídeo subaquático (com isco para atrair os animais) e uma recente técnica de análise ao ADN ambiental.

Um dos primeiros e decisivos passos desta investigação é validar a nova abordagem que vai procurar o “sinal” de tubarões e raias nas amostras de água recolhidas nos locais a explorar. Sofia Henriques, a bióloga marinha que lidera o projecto, explica que o rasto dos animais poderá ser encontrado em pedaços de escamas, muscosas, pedaços de pele que ficam na água por onde os animais passam. “Esta é uma técnica recente, e o seu uso em tubarões e raias encontra-se actualmente em desenvolvimento", refere a investigadora, que espera, assim, conseguir desenvolver as aplicações desta análise para o estudo e monitorização dos elasmobrânquios. “Seria um passo extremamente importante e útil a nível mundial para a investigação destas espécies”, diz.

Vigiar as maternidades

A partir dos Açores, onde surgiu uma espécie de “sede” natural nesta área de investigação com morada dispersa nas águas à volta do arquipélago, o Centro do Instituto do Mar (IMAR) propõe continuar um trabalho iniciado há alguns anos. Pedro Afonso, líder do projecto IslandShark explicou ao PÚBLICO que o plano que agora conta com o novo investimento de 24 mil euros é identificar onde existem áreas de parto ou maternidade de tubarões migratórios nas ilhas atlânticas. Assim, a ideia é vigiar o comportamento do tubarão-martelo liso e do cação, com métodos que passam pelo vídeo subaquático, o recurso a drones para ajudar nas contagens, marcação electrónica, entre outras técnicas de monitorização. Pedro Afonso adianta que já se percebeu que algumas fêmeas de tubarão-martelo liso se dirigem para alguns locais à volta de ilhas nos Açores para o momento do nascimento da cria. Acredita que os lugares escolhidos serão, possivelmente, os mesmos onde elas próprias nasceram. Os investigadores vão vigiar atentamente estas “mães”. Mas também os jovens tubarões que ficam para trás durante algum tempo depois da partida das progenitoras à espera do momento certo em que estarão preparados para se aventurarem em mar alto.

Mapear a pesca

Uma outra equipa liderada pelo MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa apresentou um projecto também vencedor e vai usar uma verba de 27 mil euros do prémio para analisar os dados existentes e recolher novas informações relativas à pesca de tubarões e raias em Portugal. O objectivo do projecto Shark Attract é identificar pontos críticos ao longo da costa portuguesa e conceber uma estratégia de sensibilização junto de comunidades como os pescadores e a população em geral que podem ser decisivas para a conservação destas espécies. A ideia é mesmo que estas pessoas ajudem a identificar os problemas e a encontrar soluções.

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Uma raia Nuno Sá

Assim, segundo a proposta de Henrique Cabral, professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e líder do projecto, pretende-se caracterizar as tendências de pesca e estimar a captura ilegal e não reportada destas espécies, identificar os métodos e principais locais da mortalidade de tubarões e raias em Portugal, e consciencializar os pescadores e a população em geral para a importância da sua conservação.

A verdade é que os tubarões e raias enfrentam muitos problemas. São espécies, sobretudo os tubarões, que têm uma má fama mas que, garantem os investigadores, é totalmente infundada. Não são perigosos. Aliás, são espécies muito vulneráveis, que fogem de nós, e (também por causa deste lado esquivo) pouco estudadas. Existem há cerca de 400 milhões de anos, o que quer dizer que são mais antigos do que os dinossauros, têm diferentes métodos de reprodução e poucos descendentes (consoante a espécie a gestação de uma cria pode variar entre os dez meses e os dois aos) e o seu esqueleto é feito de cartilagem.

De acordo com as Prioridades Globais para Conservar Tubarões e Raias, uma a estratégia de protecção à escala mundial definida por várias organizações para o período entre 2015 e 2025, um quarto das espécies de elasmobrânquios está ameaçada de extinção. Entre as mais de 1200 espécies existentes, cerca de mil estão na lista vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, na sigla, em inglês) e para 45,5% destas espécies os dados existentes são raros. Núria Baylina resume o alerta que ressalta destes números: “Conhecer melhor estas espécies não só é importante como é urgente.”

Mais do que nos meter medo, os tubarões têm mais motivos para nos temer a nós, os seus principais predadores e que os transformaram numa espécie ameaçada. Muitas vezes são caçados por acidente, outras de propósito e, por vezes, com requintes de maldade como acontece nalguns países que capturam estes animais apenas para lhes arrancar a barbatana deixando-os depois a agonizar até à morte nas águas. Em Portugal existem quase 100 espécies diferentes destes animais e alguns deles fazem parte da nossa ementa (o cação ou a pata-roxa, por exemplo, são tubarões). Aliás, ainda sobre o perigo destes animais, dizem os especialistas que é mais provável morrermos por causa de um coco que caia de um coqueiro na nossa cabeça do que por um ataque de um tubarão.