Descoberto buraco negro onde o Sol cabe 800 milhões de vezes
É até agora o mais antigo e, por isso, o mais distante buraco negro alguma vez detectado. Ter-se formado um objecto tão gigantesco como esse, quando o Universo tinha apenas algumas centenas de milhões de anos, é surpreendente.
No filme de ficção científica Interstellar, de Christopher Nolan, é-nos apresentado um buraco negro supermaciço, o monstruoso Gargântua, uma espécie de pino cósmico que roda sobre si próprio a toda a velocidade e que, de tão gigante e compacto, tudo atrai e distorce. Agora, graças aos telescópios Magalhães do Observatório Las Campanas, no Chile, foi descoberto um quasar com um buraco negro incrivelmente supermaciço: tem 800 milhões de vezes a massa do nosso Sol. Afinal, o Gargântua existe mesmo. É o mais antigo e, por isso, também o mais distante buraco negro alguma vez observado.
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No filme de ficção científica Interstellar, de Christopher Nolan, é-nos apresentado um buraco negro supermaciço, o monstruoso Gargântua, uma espécie de pino cósmico que roda sobre si próprio a toda a velocidade e que, de tão gigante e compacto, tudo atrai e distorce. Agora, graças aos telescópios Magalhães do Observatório Las Campanas, no Chile, foi descoberto um quasar com um buraco negro incrivelmente supermaciço: tem 800 milhões de vezes a massa do nosso Sol. Afinal, o Gargântua existe mesmo. É o mais antigo e, por isso, também o mais distante buraco negro alguma vez observado.
Antes desta descoberta, publicada por uma equipa internacional esta quinta-feira na edição da revista científica Nature, os astrónomos sabiam, por um lado, que os buracos negros supermaciços são formados por imensas nuvens de gases e poeiras ou por restos de estrelas moribundas cuja matéria, por causa da gravidade, cedeu ao colapso sobre si própria, formando objectos muito densos e maciços. Estes buracos negros são diferentes dos buracos negros estelares, que têm origem na morte de estrelas maciças (com pelo menos oito massas solares).
Por outro lado, os astrónomos também sabiam que no início do Universo poderia ter havido condições para a criação desses buracos negros supermaciços com, estimava-se, 100 mil vezes a massa do Sol – um valor muito maior do que os buracos negros que se formam actualmente no Universo e que raramente excedem umas quantas dezenas de massas solares, explica um comunicado da equipa.
Ora um buraco negro com qualquer coisa como 800 milhões de vezes a massa do Sol – aí está um verdadeiro exemplo do que é ser-se um objecto supermaciço – era portanto quase inimaginável. “O Universo não era simplesmente velho o suficiente para criar um buraco negro tão grande. É muito intrigante”, considera um dos autores do artigo científico, Robert Simcoe, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos EUA, citado num comunicado da sua instituição.
Este gigante encontra-se escondido num quasar. E os quasares são objectos extremamente luminosos, compostos por enormes buracos negros que agregam a matéria no centro de galáxias.
O melhor é recuar no tempo, para se perceber quando e como se formou esse quasar e o seu buraco negro e por que estão assim tão afastados do nosso planeta. Primeiro, o Big Bang, a grande “explosão” que deu origem ao espaço e ao tempo, ocorreu há cerca de 13.800 milhões de anos. Desse primeiro momento até à formação das primeiras galáxias passaram-se cerca de 700 milhões de anos, quase nada se pensarmos no quão velho o Universo já é. No centro das galáxias, tal como acontece também na nossa Via Láctea, costumam existir os tais buracos negros supermaciços, que sugam quase tudo em seu redor (no caso da nossa galáxia, esse buraco negro terá cerca de quatro milhões de vezes a massa do Sol).
E, sabe-se agora, que por altura da formação das primeiras galáxias, quando o Universo tinha apenas 690 milhões de anos de existência, nasceu o tal quasar, agora tão longe de nós porque o Universo se está a expandir desde que nasceu. Ou seja, formou-se há cerca de 13.100 milhões de anos. E o seu buraco negro é, também já sabemos, particularmente monstruoso. “Ter juntado tanta massa em tão pouco tempo quanto 690 milhões de anos coloca um enorme desafio às teorias sobre o crescimento de buracos negros supermaciços”, explica o coordenador da equipa, Eduardo Bañados, citado num comunicado da Instituição Carnegie para a Ciência (EUA).
Por outro lado, é muito raro encontrar quasares tão antigos e é particularmente mais difícil ainda se estiverem assim tão afastados. Antes do ULAS J1342+0928, como foi baptizado, só se tinha descoberto um outro quasar quase tão distante. Supõe-se, contudo, que poderão existir entre 20 a 100 outros quasares tão brilhantes e distantes quanto o que foi agora detectado pelos telescópios Magalhães, a que se juntaram as observações de outros telescópios. Esta descoberta veio assim contribuir para compreender melhor o Universo quando ainda era muito jovem.
“Enquanto esperamos pela construção da próxima geração de telescópios gigantes, como o GMT, telescópios como os Magalhães do Observatório Las Campanas, no Chile, irão continuar a desempenhar um papel crucial no estudo do início do Universo”, frisa Leopoldo Infante, director do Observatório Las Campanas, num comunicado da Instituição Carnegie para a Ciência.
Se o Gargântua imaginado no Interstellar (em 2015) pelo conselheiro científico do filme, o físico teórico norte-americano Kip Thorne, já era um monstro, a realidade superou agora toda a ficção. Enquanto o Gargântua era apresentado como tendo 100 milhões de vezes a massa do Sol, o protagonista desta descoberta científica, como já vimos, ultrapassa largamente tudo isso.
Texto editado por Teresa Firmino